Educação sem luz
Com split em todas as salas, escola estadual de Campo Bom luta por rede elétrica adequada para ligar aparelhos
Estado gastou R$ 397 mil em obra que não resolveu impasse e voltou a deixar alunos sem aula
Estrutura ruim também impede, há três anos, uso do laboratório de informática
Salas com split e TV e um laboratório de informática com 40 computadores novos. Dona de estrutura de dar inveja até a colégios particulares, a escola estadual La Salle, em Campo Bom, tem tudo. Mas não há luz.
Há três semanas, 900 alunos estão sem aula devido à falta de energia elétrica. A fragilidade, constatada desde 2008, persiste sem solução mesmo após o Estado gastar R$ 397 mil em uma obra emergencial que, além de não resolver a situação, permitirá que se use menos de 70% dos equipamentos.
O colégio ficou sem aulas após os bombeiros interditarem o local, diante do risco. Desde então, a tentativa de resolver o impasse esbarra na burocracia. Em março de 2013, quando houve um princípio de incêndio, a escola teve assegurada uma reforma na rede.
Contratado emergencialmente, o serviço foi feito pela Porto Redes Construções e Instalações Ltda, empresa investigada na Operação Kilowatt, que apura suspeitas de irregularidades e fraudes em obras no Estado.
O projeto, elaborado pela Secretaria de Obras, custou R$ 397 mil, valor que foi pago à empresa. Mas o colégio seguiu sem poder usar toda a infraestrutura. E pior: há três semanas, teve um novo problema na rede elétrica.
Laudo da 2ª Coordenadoria de Educação apontou que a caixa de energia pegou fogo por uma sobrecarga e recomendou a construção de uma subestação elétrica, mesma análise da AES Sul. O problema é que isso não foi constatado no projeto de reforma.
— Tenho um sentimento grande de frustração. A gente faz tudo pela escola, temos os melhores equipamentos, conquistados com méritos, e ficamos preso à burocracia e ao descaso. É revoltante trabalhar assim — afirma Silvia Soares, diretora da escola La Salle.
A situação tem revoltado pais e alunos, que já organizaram dois protestos na cidade e denunciaram o caso ao Conselho Tutelar, ao Ministério Público e à Assembleia Legislativa. O deputado Lucas Redecker (PSDB) enviou ofício ao procurador-geral de Justiça, Eduardo de Lima Veiga, apontando indícios de que a obra foi mal feita.
— Estamos fazendo tudo que está ao alcance. Não podemos deixar que a educação dos nossos filhos seja lesada pela ineficiência do Estado — afirma Simone Kirst, mãe de uma aluna.
Durante a semana, a empresa fez ajustes na obra, mas ainda é preciso que o Corpo de Bombeiros dê aval para liberação. Cansada de esperar, a direção decidiu retomar as aulas hoje. Por precaução, porém, não vai ligar dois computadores ao mesmo tempo, muito menos os splits.
Estado admite que obra não resolveu dificuldade
Diretor-geral de obras da Secretaria de Obras do Estado, Éderson Machado afirma que o reparo emergencial feito na escola após o princípio de incêndio ocorrido há três semanas não resolverá todo o problema, mas permitirá a volta dos alunos às aulas com segurança.
Também frisa que o reparo pós-incêndio não teve custo extra. Sobre a elaboração do projeto de reforma, no ano passado, destaca que pode ter havido “algo no caminho” desde o pedido feito pela escola até a execução da obra:
— Fazemos um projeto-padrão em todas as escolas levando em consideração as informações repassadas pela instituição.
A diretora de administração da Secretaria de Educação (Seduc), Sônia da Costa, explica que o impasse mais recente ocorreu porque a entrada de energia ainda estava ligada na parte antiga da rede. Disse, ainda, que o projeto realizado no ano passado previa uma reforma que mantinha a escola com a mesma capacidade elétrica — apesar de a direção da escola alegar que havia pedido a ampliação –, e frisou que um reforço na estrutura depende de outro processo, ainda sem previsão:
— Vamos pensar em um novo projeto somente após a conclusão desta etapa emergencial.
Engenheiro da Porto Redes e responsável pela obra, Ricardo Friedrich explica que a empresa não pode ampliar a capacidade da rede da escola sem ter um projeto que calcule a demanda elétrica necessária. Ele garante, porém, que não há risco de um novo incêndio:
— Instalamos cabos que permitem uma capacidade de 174 amperes, e o disjuntor cairá quando chegar ao limite de 120. Mas isso não quer dizer que escola poderá usar os splits, por exemplo.
Sobre o pagamento à empresa – mesmo com a obra registrando problemas pouco tempo depois de pronta –, tanto Machado quanto Sônia não souberam dar detalhes da vistoria para comprovar o serviço.
O diretor-geral de Obras, no entanto, observou que a situação da escola La Salle é a mesma de “outras várias no Estado”, na qual, segundo ele, a direção compra splits e outros equipamentos e os liga em uma rede sem capacidade para tanta demanda.
Fonte: Zero Hora
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