Educação Integral só no tempo

Educação Integral só no tempo

Educação Integral, mas só no tempo

Em Goiânia, das mais de 100 instituições municipais da capital que fazem parte do projeto, apenas 22 são consideradas escolas integrais

Fonte: Tribuna do Planalto (GO)

Ao se depararem com a pergunta: “Em sua opinião, a Educação Integral é necessária ou não para o futuro das novas gerações?”, 90% dos entrevistados de uma pesquisa da Fundação Itaú Social, realizada pelo Instituto Datafolha, responderam que “Sim, a Educação integral é necessária”

O estudo, realizado com mais de duas mil pessoas em 132 municípios brasileiros, mostra que muitas pessoas ainda não são familiarizadas com o conceito de Educação Integral (ver tabela), mas quando apresentadas a uma explicação rápida, a grande maioria é a favor desta mudança na Educação brasileira.

A jornada de uma Escola de período integral é de, no mínimo, sete horas diárias, carga horária que ocupa dois períodos e, geralmente, representa um número de horas bem maior do que o de uma Escola regular. O conceito vai de encontro ainda com as necessidades da família, na qual os pais trabalham e não têm com quem deixar os filhos no período em que não estão na Escola.

Mas a definição de Educação Integral vai além de um período maior de tempo na Escola. De acordo com o Centro de Referência em Educação Integral, o conceito abrange “uma perspectiva de formação continuada que inclui não só o espaço da Escola, como também o ambiente familiar, a comunidade e a própria cidade, como Educadores e aprendizes de um mesmo processo colaborativo”.

Para a gerente de Educação da Fundação Itaú Social, Patrícia Guedes, “quando comparamos a nossa realidade com a de outros países, percebemos que nossos Alunos são expostos a um curto espaço de tempo de aprendizagem, mas este é apenas um aspecto a ser pensado”.

Patrícia explica ainda a importância de se repensar também a questão do espaço, por exemplo, estimulando parcerias com organizações sociais e a participação da comunidade, pois, segundo ela, “existe um conjunto de habilidades e uma série de saberes específicos que não podem ser desenvolvidos dentro de sala de aula.

Programa federal
Com o programa “Mais Educação” do governo federal, implantado há seis anos, mais de 3 milhões de estudantes em todo o país puderam experimentar mudanças nas atividades Escolares baseadas no conceito de Educação integral.

O crescimento do programa excedeu às expectativas, ultrapassando as 45 mil unidades educacionais previstas para o ano passado, chegando a 49 mil instituições com adesão ao programa. A meta para 2014 é levar o atendimento do “Mais Educação” a um total de 60 mil Escolas em todo o país.

Em Goiânia, desde o ano de 2009, o número de Escolas participantes subiu de 38 para 107, registrando um aumento de 181,58%, o que representa um total de 16 mil Alunos. Mas, apesar das melhorias que o programa trouxe para muitas Escolas brasileiras, das mais de 100 instituições municipais da capital que fazem parte do projeto, apenas 22 são consideradas Escolas integrais.

A gerente da Fundação Itaú Social, explica que, “por definição, o programa do MEC serve como um catalisador de Educação integral e, portanto, não é uma política de uma secretaria de estado ou do município, mas pode compor e estimular políticas locais”.

Para ela, esta é a oportunidade de, através dessa iniciativa, trazer o planejamento da política pública para o âmbito local, pois os municípios e estados têm uma maior possibilidade de desenhar a políticas de Educação integral, mapeando os desafios e realidades locais.

Além disso, ressalta Patrícia, “a liderança do secretário de Educação ou do próprio prefeito ou governador, permite a mobilização de outras secretarias, como a da saúde, do esporte e cultura, para uma articulação intersetorial mais eficaz”.

Experiência no município
A Escola Municipal Professora Maria Nosídia Palmeiras Neves começou a funcionar já em período de tempo integral, demanda dos próprios moradores do Residencial Barravento. Construída há seis anos e há cinco atendendo os Alunos em período integral, a unidade educacional recebe estudantes do 1º ao 6º anos do Ensino fundamental, com uma jornada Escolar que vai das 7h45 até às 16h30.

De acordo com a diretora Izabel Leal, o aumento da jornada implicou em uma reestruturação curricular para melhor atender as necessidades dos Alunos. “Além das disciplinas comuns, como português, matemática, ciências e geografia, incorporamos outras atividades mais culturais como desenho, contação de histórias, música e dança, bem como o atendimento pedagógico e Educação ambiental, em uma forma de ampliar as oportunidades das crianças de acesso à cultura e outras formas de linguagem”.

Parte importante dessa estruturação foi a construção de um currículo intercalado entre disciplinas e oficinas, para evitar a separação entre “a parte chata e a parte divertida” da Escola, incorporando a ideia de que, tanto as disciplinas tradicionais quanto as oficinas, fazem parte do processo educacional.

A diretora explica ainda que, para a realização desse trabalho, é fundamental a integração entre disciplinas. “Todos os dias, nos reunimos com os Professores para planejamento coletivo. É uma oportunidade para discutirmos assuntos relacionados às oficinas e aos conteúdos ministrados em sala de aula, bem como o desempenho dos Alunos”.

Números pelo Brasil
O Censo Escolar da Educação básica é um estudo realizado pelo governo federal que todos os anos coleta dados sobre os primeiros anos do Ensino em Escolas de todo Brasil.
Na pesquisa divulgada em fevereiro deste ano, com números referentes ao ano passado, destaca-se o crescimento do número de matrículas em Educação Integral no Ensino fundamental (ver gráfico). Desde 2010, o número de Alunos matriculados cresceu 139%.

De acordo com a gerente de Educação da Fundação Itaú Social, Patrícia Guedes, é importante avaliar os resultados, mantendo um monitoramento contínuo, registrando os avanços e dificuldades na implementação do novo sistema de Ensino. “É essencial o trabalho de avaliação de impacto, que estuda o desempenho dos Alunos não apenas nas disciplinas tradicionais, mas também na mudança de hábitos e comportamentos”.

As experiências mais exitosas de implementação da Educação Integral contam ainda com uma preocupação na formação continuada, “não apenas para os Professores”, mas também dos profissionais das organizações sociais que lidam com as crianças”, explica Patrícia.

Visitas a museus, trabalhos interdisciplinares e projetos extraclasse, que contribuem para que os Alunos se envolvam com outros segmentos da comunidade, são práticas já utilizadas com sucesso por Professores de maneira isolada.

O desafio agora, destaca Guedes, “é ampliar essas ações através de políticas públicas, para que o trabalho do Professor não seja limitado e para que o aprendizado possa se potencializar para além de um experiência específica". 

Sem compromisso

"Não bastasse a carga horária da escola no Brasil ser das menores do mundo, atrasos e indisciplina roubam tempo precioso de aula", afirma Antonio Gois

Fonte: O Globo (RJ)

A pontualidade não é uma ciência exata no Brasil. A frase é verdadeira, mas causou polêmica porque foi publicada na revista digital da Fifa, em uma reportagem sobre a Copa. Ao ler sobre o assunto, lembrei minha experiência como repórter de Educação ao acompanhar, quase diariamente, por três meses, em 2009, a rotina de uma Escola pública do Rio.

Quando o sinal de início das aulas tocava, Alunos e Professores, em geral, continuavam suas conversas no pátio ou no refeitório. Aos poucos, iam caminhando para as salas de aula, sem pressa. Eram cerca de 15 minutos perdidos até que o Professor e um grupo de estudantes estivessem em seus lugares.

Mas as aulas, propriamente ditas, não começavam imediatamente. Até que a chamada fosse feita, os Alunos parassem com as conversas paralelas e o Professor tratasse de temas diversos sobre a organização da Escola, ao menos mais dez minutos se passavam. Só então as atividades diretamente relacionadas ao aprendizado tinham início.

O caso acima não é isolado. Uma pesquisa da OCDE, divulgada em 2009, mostrou que 31% do tempo de aula no Brasil eram perdidos com tarefas administrativas, como fazer chamadas, ou com o Professor tentando manter alguma disciplina em sala de aula. Foi o maior percentual entre 23 países comparados na época.

O desperdício poderia ser relativizado se os Alunos brasileiros passassem mais tempo na Escola. Não é o caso. Por lei, o ano letivo aqui precisa ter, no mínimo, 200 dias. No Japão, são 243. Na Coreia do Sul, 220. Em Israel, 216. Há também países com bons resultados e calendário Escolar parecido com o nosso.

A diferença é que, por dia, os Alunos lá passam mais tempo estudando. Tente explicar para um estrangeiro que, aqui, a jornada mais comum da rede pública é de apenas quatro horas e que, não raro, há colégios que chegam a funcionar em três turnos. A conclusão é simples: com todas essas condições, não há o menor risco de dar certo.

Parte desse problema é estrutural, e a solução passa por um aumento significativo dos recursos públicos para a Educação. O Brasil tem apenas 4% de Escolas de Ensino médio funcionando em tempo integral. A carreira Docente, segundo o Censo do IBGE de 2010, segue sendo a de menor remuneração média entre as profissões universitárias. Com melhores salários e mais Escolas em tempo integral, Professores seriam mais valorizados e cobrados, trabalhariam em menos Escolas e poderiam até se dedicar exclusivamente a um único estabelecimento, diminuindo o tempo perdido em deslocamentos cada vez mais demorados diante do nosso trânsito infernal.

Porém, seria cômodo pôr toda a culpa nos governos. Parte do problema é também cultural, tem a ver com nosso comprometimento com horários e tarefas. E não é restrito apenas à Educação básica ou pública. Em 2011, em blog da revista “Piauí”, uma aluna da Universidade de Princeton que fazia intercâmbio no curso de Letras da PUC-Rio descreveu sua rotina acadêmica como a de um grande escolão de Ensino médio. Professores e Alunos pouco dedicados, que pareciam fazer o mínimo esforço possível apenas para cumprir tarefas ou obter um diploma, mesmo estando numa das mais conceituadas instituições de Ensino superior nacionais.

Se há gringos mal-humorados que não entendem que nosso descompromisso quando estamos de folga é parte de nossa cultura, o problema é deles. Se nós não entendemos que esse mesmo comportamento em relações de trabalho e na Escola é extremamente prejudicial a nós mesmos, o problema é nosso. 

Todos pela Educação




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