Mais aprovados do que vagas
Na edição de ontem, ZH mostrou que metade das escolas pesquisadas precisam de professores. Para a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, o governo segue o que ela chama de “política do faz de conta”:
– Quando o governo prevê mais contratações em detrimento de chamar as pessoas que aguardam nomeação, ele está dizendo que não quer que os trabalhadores tenham direito a um plano de carreira.
Conforme o secretário da Educação, José Clovis de Azevedo, o montante de contratos temporários é uma herança de governos anteriores. Como a nomeação depende de outros departamentos estaduais, como o responsável pelo laudo médico, não é possível chamar os professores aprovados aos milhares. Ainda sobre o concurso, Azevedo ressalta que não há necessidade de todos assumirem e que há áreas, como a da Educação Básica, em que número de aprovados é maior que o de vagas existentes.
– De 2005 a 2013, a rede diminuiu quase 400 mil alunos. Como que uma rede diminui alunos e não diminui seu quadro? Tem um problema de gestão que ainda não está bem equacionado – salienta.
Multimídia
Zero Hora 02-4-14
Acesse aqui o Censo Escolar 2013 do RS
http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/estatisticas.jsp?ACAO=acao1
Informativo no formato .pdf (587 Kb) clique aqui
Professores em Exercício (em sala de aula) - RS 2013 - 49.966
Escola da Zona Sul inverte tendência
Na turma 302 da Escola Estadual de Ensino Médio Adolfo Fetter, em Pelotas, uma aluna de 17 anos explica para a outra:
– Estão fazendo matéria (referência à reportagem de ZH) porque é um milagre ter professor aqui.
Também é agradecendo à sorte que a diretora comemora finalmente começar um ano letivo sem falta de educadores.
– Estou há quatro anos na direção, e esse é o primeiro ano que iniciamos com o quadro completo – ressalta Mara Rosana Rosa Foltz.
A conquista veio depois de a Secretaria de Educação ter feito concurso e chamado novos educadores no fim do ano passado. Até então, as ausências, quando eram cobertas, vinham de contratos temporários. Hoje, há 40 nomeados e 22 em contrato temporário, mas o número já chegou a ser invertido. O índice de temporários é considerado baixo.
Mara afirma que não há como substituí-los por nomeados porque os reais detentores dessas vagas são lotados em outras escolas e possivelmente estejam de licença. Para chamar alguém da lista, é preciso que a vaga seja liberada. Então, para cobrir os furos, temporários eram arranjados, mas o processo também não é simples:
– Se um professor me pede licença de 30 dias, não posso pedir temporário porque a lei prevê que um temporário seja chamado somente se for 60 dias. E, se chamo o temporário, tem uma série de burocracias que fazem com que esse substituto chegue quase quando o professor está voltando.
Fois esbarrando nessa burocracia que a 302 ficou sem aula nos dois primeiros anos do Ensino Médio de português por quase seis meses ao total. Os estudantes reclamam da falta de preparo para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
– Dão a matéria apressada porque na hora que tinha de ter aula não tinha, e a gente jogava “stop” – conta uma das alunas.
julia.otero@zerohora.com.br
RESULTADOS DA PESQUISA |
O levantamento realizado entre a sexta-feira, 21 de março, e a quarta-feira, 26 de março, foi feito com os 10 maiores estabelecimentos de ensino (em número de alunos) das 10 cidades mais populosas do Estado. Das cem escolas contatadas, 54 responderam o questionário. |
- Todas têm professores chamados nomeados, ou seja, que passaram em um concurso e já tomaram posse da vaga. |
- 52 (96%) delas também tem docentes atuando por contratos temporários ou emergenciais (nomenclatura antiga). Estes contratos podem ser renovados anualmente, e os professores podem ser dispensados a qualquer momento. |
- Em pelo menos 25 escolas, o número de professores contratados é superior ao de nomeados. Sem plano de carreira, eles se tornam mais baratos para o Estado ao longo dos anos. O Cpers defende que os contratos sejam substituídos pelos professores aprovados no concurso de 2013. |
- Na maioria dos casos, as escolas também contam com os professores convocados. São docentes que tiveram o regime de trabalho de 20 horas semanais ampliado. |
NÚMEROS DO MAGISTÉRIO |
- O Estado tem 21.640 mil vagas para contratos temporários. |
- O número varia diriamente, mas atualmente gira em torno de 20 mil vagas preenchidas. |
- Conforme o secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo, o ideal é que haja um cadastro de 7 mil vagas, onde apenas 2 mil estejam constantemente preenchidas para suprir as licenças gestante, de saúde e exonerações. |
- Esta realidade ainda distante depende da organização interna das escolas e, principalmente, do governo realizar a substituição dos contratos temporários pela nomeação dos professores aprovados no concurso do ano passado. |