Construindo uma educação melhor
Escrito por Fábio Torres
Gilvan Luís de França, biólogo paulista, nunca sonhou em ser professor, mas acabou tornando-se educador em Brasília (DF) e, assim, encontrou sua vocação e mudou a rotina e a vida de vários estudantes. “Tive a oportunidade de fazer o magistério em 1990, quando ainda morava em São Paulo, mas nunca imaginei atuar na área da educação. No ano 2000, saí de São Paulo para morar em Brasília e fiz o concurso para professores da Secretaria de Educação, em 2002, sendo chamado para assumir [a vaga] em 2003”, conta França. Hoje, o biólogo leciona no Centro de Ensino Fundamental II de Planaltina (DF), no qual desenvolveu um projeto inovador para despertar nos alunos a preocupação com o meio ambiente.
“Em 2011, fui convidado a ser coordenador do ensino integral na escola, mas encontrei uma situação em que os alunos não tinham um espaço para realizar suas atividades e refeições. Como pretendia trabalhar com resíduos sólidos, logo me veio a ideia de construir um lugar que poderíamos utilizar para as nossas atividades com os alunos de tempo integral”, explica o professor. Para viabilizar a construção do espaço dedicado para o ensino integral, França fez uma pesquisa e constatou que garrafas plásticas podem ser utilizadas como tijolos para levantar paredes. Foi aí que surgiu a ideia da construção de uma sala, de 66 metros quadrados, com os vasilhames. “Fiz a proposta para meus alunos, que concordaram em participar do projeto da construção da sala. A metodologia utilizada inicialmente foi divulgar o projeto para a comunidade escolar, passando por todas as turmas do 1º ao 9º ano [do ensino fundamental] para pedir que trouxessem garrafas pets. Depois de [arrecadarmos] uma quantidade suficiente de garrafas, começamos a enchê-las com areia e a levantar as paredes. No início, apenas alunos do ensino integral estavam participando, mas logo toda a comunidade escolar aderiu ao projeto”, relata o biólogo. Ao todo, segundo França, foram 1.500 alunos envolvidos nas atividades. “Uns [participavam] com a coleta, outros com o enchimento e outros amassando o barro para assentar as garrafas”, comenta.
Além do companheirismo que foi despertado nos alunos, o professor destaca também que, durante a atividade, eles passaram a se conscientizar e a se preocupar mais com as condições do meio ambiente onde vivem e estudam. “Um projeto como esse sempre traz algo importante para a formação dos alunos. O mais importante é a formação da conscientização ambiental, voltada para a sustentabilidade. Todos participaram. Em um momento em que estávamos com dificuldade para encher as garrafas, os alunos observaram que enchê-las com areia era muito mais fácil do que com o barro utilizado inicialmente, o latossolo vermelho. Eles perceberam isso e nosso trabalho passou a render muito mais”, conta França.
Contra a maré
O apoio foi maciço por parte dos estudantes; porém, isso não ocorreu com a diretoria e os outros professores da escola. “No começo, a direção da escola e as outras pessoas não acreditaram no projeto. Só passaram a acreditar depois do início da confecção das paredes. A diretora estava com receio de que [o projeto] não desse certo e com medo de que ele trouxesse risco para as crianças e os adolescentes. Deu trabalho fazer com que acreditassem que tudo era seguro, tanto que, agora, temos um lugar diferente para trabalhar com nossos alunos”, explica o professor, que destaca a enorme ajuda que o espaço trouxe para as aulas. “Já são três anos de utilização, é o local preferido de nossos alunos. No espaço, temos atividades de jogos, reforço escolar, [e ele pode ainda] ser usado como refeitório dos alunos do ensino integral”, explica França.
A iniciativa do professor de Biologia não passou despercebida no resto do País. Gilvan França foi um dos vencedores do prêmio Professores do Brasil de 2012. A premiação, concedida anualmente pelo Ministério da Educação (MEC), é um grande motivo de orgulho para o educador. “É sempre importante ser reconhecido por algo que fazemos, foi bom ganhar o prêmio”, diz França. A condecoração, por sinal, possibilitou que o biólogo iniciasse um novo projeto na escola, dessa vez sobre música. “Nós utilizamos o prêmio para comprar instrumentos musicais e já estamos tendo resultado com nossos alunos, tanto no desempenho nas diferentes disciplinas em sala de aula como também na produção de composições próprias dos alunos. Em três meses de trabalho, conseguimos fazer a gravação de sete músicas dos alunos. Inclusive, fizemos o clipe de uma delas (disponível em http://tinyurl.com/l5wqecm)”, relata o professor. França pretende agora iniciar em breve novas atividades. “Gosto de realizar atividades voltadas para a sustentabilidade, tenho outras ideias para serem realizadas no futuro. Por enquanto, estou dedicando meu tempo na realização do projeto de música, mas pretendo trabalhar com aquecimento solar, também utilizando garrafas pets”, revela França.
Matéria publicada na edição de dezembro de 2013.
http://www.profissaomestre.com.br/index.php/reportagens/superprofessor/658-construindo-uma-educacao-melhor