Aquarela Associação Pró-Autista
Aquarela Associação Pró-Autista comemora resultado de projeto
E já estão trabalhando em um novo projeto com a participação mais efetiva dos pais
Por Carla Emanuele
Prejuízo na comunicação, dificuldade na interação social, comportamentos repetitivos e atração por movimentos circulares. Mas, o que é isso? Porque alguns não aprendem falar e outros desenvolvem habilidades geniais? Na verdade, é um universo particular, chamado de Autismo. Um transtorno que desafia a ciência e que tem causas ainda pouco conhecidas. O que se sabe é que a genética tem um papel importante.De acordo com estudos o Autismo é um termo geral usado para descrever um grupo de transtornos de desenvolvimento do cérebro, conhecido como “Transtornos do Espectro Autista” (TEA).
Concentrar esforços
Para tanto, na tentativa de minimizar dúvidas e melhorar a capacidade de adaptação e qualidade de vida das pessoas com autismo e seus familiares, a Aquarela Associação Pró-Autista de Erechim está concentrando esforços com relação ao Projeto "Pró Autista/Oficinas Culturais".
O primeiro projeto
O projeto é uma idéia da vice-presidente da associação, Marilei da Rosa. ”Esse é o primeiro projeto da instituição, teve início em maio do ano passado e segue até o dia quatro de abril deste ano com jantar, show e baile com Dante Ramon Ledesma e Grupo Timbre do Pampa”, destaca Marilei.
O projeto foi dividido em 12 módulos e realizado em duas etapas. Seis meses de oficinas e depois as mesmas começaram a ser repetidas. Dentre as atividades destacam-se as de formação de caráter cultural junto às crianças, jovens e adultos, artes visuais, teatro, dança e música.Os avanços “Os oficineiros estão se dedicando ao máximo e relatórios são realizados para acompanhar o desenvolvimento de cada autista”, lembra Marilei. “Cada oficina tem o relatório específico de cada um, eles são únicos, o mesmo relatório não funciona para todos”, salienta. “Sem contar que as oficinas foram filmadas praticamente o tempo todo para que pudéssemos registrar a hora que o fato aconteceu, para que soubéssemos o avanço de cada um”.
Socialização
Através das oficinas foi possível alcançar uma experiência integralizada com os 19 autistas associados (quatro adultos, dois adolescentes e 13 crianças), promovendo a socialização e desenvolvendo a linguagem através da arte.
Experiência
Max Delly do Paraná é professor de desenho e está engajado nos trabalhos das oficinas culturais. Com sotaque pernambucano, estado onde nasceu Max mostra na prática o conhecimento e habilidade em trabalhar com autistas. A experiência vem de casa, o professor que tem um enteado autista. “Trabalho com pintura de quadros e grafite, então o Felipe, meu enteado, se acostumou em me ver pintando”, comenta. “Certo dia o Felipe me pediu um pedaço de papel e começou a desenhar”, explica. “Como tenho o costume de pintar e colocar os quadros na parede, agora ele também quer”, relata. “Cada cômodo da nossa casa tem em torno de quatro quadros”. Felipe também já consegue pintar os desenhos respeitando os limites das linhas.
Apaixonado por gravar fitas
Na Aquarela Associação Pró-Autista, Sidinei Fabrício Dondé, 30 anos, está aprendendo a desenhar com Max. “Ganhei uma bicicleta, desenhei ela, pessoas e uma caixa de som, pois adoro músicas e fitas”, conta Dondé. Entretanto Dondé é fascinado em fitas cassete. “Em casa tenho muitas fitas, ganhei de muita gente”, explica Dondé. “O Sidinei gosta muito da banda Kiss e Metallica”, comenta a presidente da Aquarela Associação Pró-Autista de Erechim, Neiva Sabedot. “Ele também adora gravar fitas, uma época gravava tudo o que falávamos aqui na associação e demonstra habilidade com cálculos”.
Diferentes tipos
O grande desafio é compreender os diferentes tipos de autismo. “Eles são únicos, o Sidinei escreve tudo, mas não lê. Já o Lucas lê, mas não escreve e outro monta quebra-cabeça em segundos”, descreve Neiva.
Segurando objetos
Marilei da Rosa, vice-presidente, também tem um filho autista. Gustavo Auler, oito anos não é verbal, apenas balbucia, solta alguns sons e pode vir a desenvolver a fala. O diagnóstico do pequeno menino foi concluído quando ele tinha dois anos e meio. “Quando o Gustavo engatinhava não encostava a palma das mãos no chão, encolhia os dedinhos, ele tem muita sensibilidade”, explica Marilei. Hoje, ele consegue segurar os objetos e encostar-se nas coisas e pessoas com mais facilidade. “As oficinas são fundamentais, o projeto está dando muito certo”, comemora Marilei. “Durante uma das atividades de roda, quando a professora falou a casa caiu, o Gustavo se atirou no chão, ele conseguiu entrar no contexto”.
Gustavo Auler durante uma das atividades com tinta guache
Participação escolar
Além de participar de todas as atividades do projeto, Gustavo tem aulas de hidroterapia, terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, psicopedagogia e cumpre os horários com dentista, neurologista e médico. Gustavo também frequenta o terceiro ano no ensino regular e conta com uma professora auxiliar. “A professora auxiliar está com ele há três anos, é importante manter o mesmo educador para não ocorrer à quebra de vínculo”, aponta Marilei. “Na escola ele é mais participativo do que em casa, se envolve nas brincadeiras e demais atividades interdisciplinares”.
Cuidado e atenção constante
Em casa a rotina é diferente, Gustavo brinca, treina a alimentação e passeia com os pais. “Em casa ele precisa viver o momento como criança, já a alimentação agora está comendo apenas pizza, teve a época da lasanha e tem épocas que aceita feijão e arroz”, relata Marilei. “É um cuidado e atenção constante, mas espero que o que plantarmos hoje vamos colher no futuro”, salienta Marilei. “O Gustavo fala com os olhos, acredito que um dia ele vai dar um bumm para a vida e surpreender”. Marilei e o marido mudaram os horários de trabalho e vida pessoal para acompanhar a rotina do Gustavo. “Gustavo sempre está em atividade, digo que ele é um maratonista”, brinca Marilei.
Envolvimento com os pais
O projeto foi tão promissor que durante as oficinas culturais um novo projeto foi pensado e aprovado. “No próximo projeto queremos buscar o envolvimento com os pais e agregar com mais ênfase a questão da musicoterapia e o método TEACCH”. Na associação a música é uma grande referência para o momento de chegada, lanche e de ir embora. “Eu canto para o meu filho antes de ir para a escola, dessa forma ele já sabe onde vai ir”, lembra Marilei. Já o método TEACCH, com figuras é uma técnica muito popular que combina diferentes estímulos visuais e auditivos com o objetivo de aperfeiçoar a linguagem, melhorar o aprendizado e reduzir comportamentos inapropriados. “Mostro para o Gustavo a figura de uma cadeira, ele sabe que tem que sentar”, finaliza Marilei.E lembre-se também que dia dois de abril é Dia Mundial de Conscientização do Autismo, se vista de azul.
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