Educação contextualizada

Educação contextualizada

Pesquisadora avalia vantagem da Educação contextualizada

Na Escola Estadual Chico Anisyo, na Tijuca, que funciona em tempo integral, habilidades socioemocionais são trabalhadas, e média no Ideb é superior à da rede Carlos Ivan

Fonte: Diário do Nordeste (CE)

As dinâmicas implementadas com o modelo influem na ecologia, aprendizado de tecnologias sustentáveis e maior dedicação ao estudo fotos: silvania claudino Tamboril. Mudança e libertação como efeitos do processo de Educação contextualizada, vivenciado em alguns municípios da região dos Sertões de Crateús e Inhamuns são identificadas e valorizadas pela pesquisadora italiana Lalita Kraus. Os efeitos observados são, dentre outros, a redução do êxodo rural e da maior consciência ambiental.

O novo modelo de Educação, que envolve Alunos e famílias das Escolas da zona rural em atividades modulares que valorizam e destacam o semiárido, facilitando o aprendizado e a convivência de todos na região, é objeto de seu doutorado pelo Instituto de Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da Universidade Federal Fluminense (UFRJ).

Lalita está no primeiro ano da pesquisa, que se estenderá por mais quatro, quando concluirá o doutorado em Planejamento Urbano e Regional. Com formação em Ciências Econômicas e Sociais, a italiana veio para o Brasil em 2011, por meio de uma ONG. Com experiência internacional no trabalho com movimentos sociais e terceiro setor em seu país, na Inglaterra e Tailândia, conheceu em 2012 a experiência da Cáritas Diocesana em Crateús, onde atuou por um ano. Apaixonou-se, como diz, pelo projeto de Educação contextualizada desenvolvido pela entidade com foco no semiárido.

"Conheci o processo nesse período e acho que é um jeito interessante de fazer Educação, porque a forma tradicional tem como base conteúdos e não cabe mais na realidade atual, não responde e não dá mais conta das diversidades da sociedade contemporânea", destaca. A sua pesquisa se detem, ainda, sobre a atuação da Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (Resab), articulação que possui várias publicações que tratam da Educação contextualizada no semiárido brasileiro.

A tese de Lalita analisa o processo da Educação contextualizada na base, com Alunos, Professores, famílias e comunidades, bem como na rede como um todo, tendo como foco o impacto e o resultado em termos políticos educacionais, políticos e sociais.

Construção
A ideia é a construção de um referencial teórico, tendo como pilar as ideias do sociólogo francês Pierre Bourdieu, cuja análise social era construído sobre três conceitos: campo, habitus e capital. "Os livros didáticos da Educação tradicional são produzidos no sudeste e não trazem a cultura de cada região. Através do novo modelo as pessoas conseguem entender o pertencimento, se reconhecem e se identificam na sua realidade. Isso é um processo libertador e transformador", salienta.

A partir do acompanhamento do processo em 2012, quando atuou na Cáritas Diocesana, entidade que coordena a proposta educacional desenvolvidas em três municípios da região (Tamboril, Quiterianópolis e Independência) e de entrevistas que realiza junto aos sujeitos envolvidos, além da observação nos momentos de aulas teóricas e práticas, atividades curriculares e formações, a pesquisadora enumera elementos que considera fundamentais no novo modelo.

Para ela, três elementos são bem claros como efeitos da Educação contextualizada na região: os multiplicadores, que atualmente são Educadores e foram formados já na nova proposta; nova visão do semiárido nas famílias e o investimento do poder público e, por fim, outro que irá iniciar a pesquisa, que é o papel da Resab como fortalecedora do processo.

"Percebo que muitas pessoas que se envolveram e foram formadas no novo modelo hoje são multiplicadores. Eles entenderam, aceitaram e reproduzem com maior facilidade. As famílias se envolvem porque os Alunos levam o conhecimento para casa. Tudo o que foi produzido, que faz parte da realidade deles, os jovens levam para a sua casa e comunidade com entusiasmo e isso tem grande impacto. O poder público percebe os resultados nos indicadores e na visibilidade que a proposta traz para o município", completa.

Nuances
Todas essas nuances da proposta pedagógica, que completou sete anos em Tamboril, são para a pesquisadora uma prova de que pode trazer grandes resultados para a sociedade, como uma alternativa educacional eficiente e com interferência positiva nos processos de desenvolvimento, políticos e de planejamento da sociedade. Destaca ainda que a construção dos movimentos sociais com o poder público aponta para a possibilidade e necessidade de cooperação entre eles e para uma mudança política."Pode se transformar em polícia pública e acredito que o modelo de Educação é tão amplo que pode ser aplicado em qualquer realidade", diz.

Migração
Conforme a Cáritas Diocesana, o trabalho tem tido como resultado uma redução significativa dos processos de migração para as cidades, uma maior integração de homens e mulheres do campo na construção de uma agricultura familiar adaptada ao semiárido considerando os seus limites climáticos, ambientais e geográficos e com proposição para um novo olhar político ideológico sobre questões históricas e culturais como: o acesso a terra; o patriarcalismo; o eurocentrismo em relação à etnia e raça, dentre outras. Além disso, trouxe a possibilidade de constituírem-se novos referenciais produtivos em respeito à sustentabilidade econômica e ambiental, trabalhando a proposição de políticas públicas e a construção de referenciais agroecológicos de produção.

"Os resultados são fortes e inúmeros, com destaque para a redução nos processos migratórios, o surgimento de novas tecnologias, a redução significativa das queimadas e uso de agrotóxicos, a qualidade na relação família e Escola e a elevação no nível de aprendizagem", avalia a irmã Herbênia de Sousa, coordenadora da Cáritas Diocesana de Crateús. Diz que após os resultados muitos municípios procuram a instituição para implantar o projeto.

"Eu tenho muito orgulho de hoje poder ver meus netos irem para a Escola não apenas por obrigação, mas porque gostam", afirma Manoel Teodósio, de 78 anos, morador de Tamboril, onde a Educação contextualizada é universalizada na zona rural.

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