Cotista negro tem nota de corte maior
Cotista negro tem nota de corte maior que a geral em 1,7% dos cursos
Levantamento do G1 mostra exceções entre os cotistas do Sisu 2014. Instituição de Goiás diz que isso ocorre em cursos menos concorridos
Fonte: G1
A nota de corte de cotistas negros, pardos e índios foi maior do que a de não cotistas em 67 cursos oferecidos no Sistema de Seleção Unificado (Sisu), o que representa apenas 1,7% do total analisado. É o que mostra levantamento feito pelo G1 com base nos dados do Ministério da Educação (MEC), solicitados por meio da Lei de Acesso à Informação. Os cursos são exceções em meio a quase 4 mil oferecidos por instituições federais no país. São 58 em que os cotistas raciais conseguiram fazer a nota de corte subir a ponto de ser maior que a geral, e outros 11 em que os cotistas raciais e de baixa renda também obtiveram o mesmo feito.
Em dois desses cursos, a nota de corte foi superior em ambas as faixas de cotas (que são separadas): sistemas para internet, no Instituto Federal Goiano (IF Goiano), e letras-espanhol, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
O Sisu foi realizado em janeiro e selecionou candidatos que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para 171 mil vagas em instituições públicas de ensino superior.
Marina Rodrigues, diretora de Desenvolvimento Educacional do IF Goiano, diz que a nota de corte maior entre cotistas pode ser explicada pelo fato de o campus que oferece o curso de sistemas para internet estar localizado no interior do estado. "Acredito que não seja exclusividade do IF Goiano. Os alunos mais preparados priorizam o ingresso nas universidades dos grandes centros e os estudantes que nos procuram são provenientes, grande parte, de escolas públicas, com formação básica diferente que a dos estudantes dos grandes centros", afirma.
Além de sistemas para internet, em que as duas modalidade de cota racial tiveram nota de corte maior, outros cursos da universidade também registraram uma pontuação maior para os cotistas em apenas uma das faixas, como agronomia, pedagogia e química. Marina afirma que a situação é mais comum em cursos menos concorridos. "Em cursos com grande procura, como engenharia civil e medicina veterinária, essa realidade não aparece", diz.
Remanejamento de cotistas
O IF Goiano oferece 30% de suas vagas pelo Sisu. No vestibular tradicional, que seleciona os estudantes para as demais vagas, Marina explica que a instituição faz automaticamente um remanejamento entre as cotas e a ampla concorrência caso um candidato cotista tenha nota suficiente para ser aprovado sem o benefício. Nesse caso, a candidatura deste estudante é remanejada para a disputa geral, e a vaga reservada fica livre para outro cotista.
A diretora afirma que o argumento por trás disso é o mérito acadêmico. "A proposta da reserva de vagas é justamente garantir que uma pessoa sem nota suficiente para entrar por ampla concorrência possa cursar a universidade. A primeira classificação é sempre pela pontuação, depois é que a gente faz a classificação pelas cotas."
Segundo o MEC, no Sistema de Seleção Unificada, este remanejamento não acontece: a inscrição do candidato é manual e a escolha da modalidade de cotas é decisão individual. Por isso, há casos em que a nota de corte de cotistas foi mais alta que a da ampla concorrência (sendo possível, assim, um cotista ficar fora e um não cotista entrar com uma nota menor).
De acordo com Marina, no último vestibular tradicional, 56% das vagas foram ocupadas em primeira chamada por candidatos que se inscreveram pela reserva de vagas. Pela lei federal de cotas, a porcentagem obrigatória de vagas reservadas é de 50%. "Os cursos em que isso não aconteceu com frequência são os cursos de maior concorrência, que são engenharia civil e veterinária", reforça.
http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/29833/cotista-negro-tem-nota-de-corte-maior-que-a-geral-em-17-dos-cursos/