Melhor desempenho, maior salário

Melhor desempenho, maior salário

Aluno com melhor desempenho na escola tem maior salário no futuro, aponta pesquisa

Estudo mostra que 10% a mais na nota de português representa um rendimento 5% maior cinco anos depois

Heloisa Aruth Sturm, São Paulo*

heloisa.sturm@zerohora.com.br

Uma pesquisa brasileira inédita comprova, em números, o que já se sabia de forma intuitiva: quanto melhor o desempenho do estudante em matemática e português, maior será o seu salário quando ingressar no mercado de trabalho.

A cada 10% a mais na nota de proficiência em matemática, o salário do jovem aumenta 4,6% cinco anos depois de concluir o Ensino Médio. No caso de português, 10% a mais na nota representa um salário 5% maior.

O estudo "A relação entre o Desempenho Escolar e os salários no Brasil", realizado pela Fundação Itaú Social, analisou o desempenho de duas gerações de brasileiros na escola e no trabalho. Para isso, seguiu a vida escolar e laboral dos nascidos em 1977-78 e em 1987-1988, por meio de dados coletados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (PNAD), no exame de proficiência do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), e no Censo Demográfico.

A pesquisa também mostrou algumas disparidades regionais e o reflexo das desigualdades no país. O salário do homem é cerca de 15% acima do da mulher, devido à discriminação e a escolhas ocupacionais, e o do branco, em média 13% maior do que o do não branco, também fruto da discriminação e do menor acesso à educação de qualidade. Além disso, quem tem Ensino Superior ganha em média 31% a mais do que quem não cursou uma universidade.

Os salários no Distrito Federal e em Roraima são maiores no início de carreira em relação aos outros Estados, devido ao funcionalismo público. E quem trabalha no Sul e Sudeste ganha mais do que os que estão na região Nordeste.

A pesquisa tem por premissa uma série de estudos internacionais que mostram que a qualidade da educação influencia positivamente os salários futuros dos indivíduos, a probabilidade de continuação dos estudos e o crescimento econômico do país.

— Na hora que a gente avalia políticas educacionais, além de saber o impacto de um programa sobre a nota dos alunos, a agente quer fazer uma análise custo-benefício, para saber o retorno econômico dessa política. E para saber o retorno é preciso saber o quanto essa proficiência se traduz em maiores salários no futuro para os jovens que estão sendo beneficiados por essa política — avalia Naércio Aquino Menezes Filho, professor da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), e coautor do estudo.

A média da nota no Saeb dos alunos nascidos em 1987-88 e que concluíram o Ensino Médio em 2005 foi de 283,8 pontos em matemática e 268,3 em português. Segundo o Instituto Todos pela Educação, para um estudante ser considerado proficiente, precisaria tirar 350 em matemática e 300 em português. Assim, os alunos que alcançam essa proficiência podem obter um salário em média 11% maior.

Segundo Patrícia Mota Guedes, gerente de educação da Fundação Itaú Social, o estudo não entra em especificidades de políticas educacionais, mas levanta informações importantes para os definidores das políticas públicas.

— O objetivo dessa pesquisa é tentar entender e buscar evidências para ampliar o debate público sobre a qualidade da educação e ajudar a formar as escolhas sobre políticas educacionais e investimento em educação. O ganho depende do aprendizado em sala de aula. É no cotidiano. Aí está o ponto de partida para entender dificuldades de aprendizagem e desenvolver estratégias — afirma Patrícia.

* a repórter viajou a convite da Fundação Itaú Social

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