Polêmica: avaliação de professores
Avaliação de professores causa polêmica entre profissionais
Profissionais acreditam que meritocracia na carreira docente pode transformar Educação, mas Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro é contra
Fonte: Terra
Em meio a discussões sobre salários e treinamentos de professores para melhorar a educação brasileira, se desenrola o debate entre defensores da meritocracia na carreira docente e os que acreditam que o sistema seja negativo. Em outubro de 2013, foi aprovado pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro o Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações (PCCR), uma das reivindicações dos professores municipais, que no meio do ano passado estavam em greve por melhorias nas condições de trabalho. Entre os partidários do sistema, é preponderante a ideia de que a avaliação de resultados é fundamental para a transformação da educação no Brasil.
Segundo o diretor-geral do Centro Universitário Celso Lisboa, Alexandre Mathias, o sistema da meritocracia consiste no processo de avaliação da geração de resultados, a partir de uma definição clara dos objetivos e metas que devem ser alcançados. Mas não basta definir as metas, é preciso acompanhar o processo. "A medição de resultados deve ter um bom acompanhamento durante sua realização. Não se pode avaliar os docentes apenas no final do ano, caso o processo precise de correções no meio do caminho", explica.
O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ), defende o fim da meritocracia. A coordenadora-geral do Sepe, Marta Moraes, explica que o sindicato não é contra os professores serem avaliados, mas sim contra o uso da meritocracia vinculada ao salário, pois pode incitar uma competição entre os docentes e escolas. "A avaliação externa à escola coloca as realidades diferentes das instituições como se fosse uma só. A avaliação deve levar em conta a realidade da comunidade escolar. Além de que se for vinculada ao salário, se cria margem para fraude. Alguns diretores já maquiaram resultados para alcançar as metas e receber as bonificações", explica. Marta acredita que a meritocracia é uma política que enxuga recursos, pois o governo premia poucos e não garante um reajuste para todos.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação do Rio, o PCCR garante um aumento de 8% para todos os profissionais da educação e corrige ações como a equiparação entre professores de nível I e II (de 0 a 5 anos de carreira e de 5 a 8 anos de carreira, respectivamente), igualando o valor da hora-aula.
Em relação ao plano de carreira já existente, as principais mudanças foram a criação de um plano unificado para todas as categorias de funcionários da secretaria e a opção de ampliação de carga horária para os professores. Quanto à meritocracia, a secretaria afirma que a utiliza por meio do Prêmio Anual de Desempenho, que bonifica com um salário os professores e funcionários das escolas que atingirem as metas previstas. Os índices de cada escola são calculados a partir da nota na Prova Brasil, em anos ímpares, e na Prova Rio, em anos pares.
Na Secretaria Estadual de Educação do Rio, o servidor tem um conjunto de benefícios que não está atrelado apenas à sua performance. Além do salário base de R$ 2,6 mil para o professor com Ensino Superior, há o auxílio transporte e alimentação. Ainda, segundo o subsecretário de gestão de pessoas da secretaria, Luiz Carlos Becker, uma vez por ano os educadores recebem um auxílio de R$ 500 para investir em ferramentas pedagógicas. Becker informa ainda que a secretaria criou um processo seletivo interno baseado na meritocracia, experiência profissional e capacitação, para evitar indicações políticas na função de diretor de escola, por exemplo.
No plano de carreira, a cada três anos o professor recebe um aumento e, se fizer mestrado ou doutorado, têm um acréscimo percentual em seu salário. Além do plano de carreira, são definidas metas para cada escola, envolvendo o desempenho do alunos e fluxo escolar, ligado a aprovação, abandono e reprovação. Se atingir a meta, todos os funcionários da instituição ganham a bonificação, que pode ser de até três vezes seu salário. "Não entendo quem pode ser contra o mérito e desempenho. A meritocracia não é apenas sinônimo de produtividade. Ela também valoriza a experiência do professor. Cada escola no Rio tem uma meta diferente, que respeita as diferentes realidades", afirma Becker. O sistema de avaliação bimestral criado no Rio, o Saerjinho, que consiste em uma prova aplicada para medir o entendimento dos alunos, realizada com fiscais em sala e sigilo, também ajuda na construção das metas.
Em relação à competitividade que as bonificações podem causar, o subsecretário afirma que não acontece. "Uma escola não compete com a outra. Podemos pagar a bonificação para todos. Não faz nenhum professor competir com o outro". Becker reconhece que o desempenho dos alunos também depende da gestão escolar e do próprio aluno, não só do professor. "Mas também não podemos descartar a didática, que pode influenciar na dificuldade de aprendizagem do estudante. Por isso, é importante avaliarmos o desempenho dos professores também", conclui.
Para o diretor de pós-graduação da Academia Brasileira de Ciências da Educação (Abrasce), José Osmar Carolino da Silva, é preciso valorizar o resultado. "Muito mais do que o título, a capacidade do professor de se fazer entender em sala de aula é um devolutivo para a sociedade. A meritocracia é um incentivo para que o professor tenha sempre melhores resultados. Claro que para implantá-la e termos um avanço, é preciso um estudo", afirma. O professor acredita que o Plano de Carreira é importante, mas não apenas pelos títulos. "Não podemos correr o risco de que hajam profissionais com doutorado, mas incompetentes na hora de transmitir o conteúdo para os alunos."
Mathias também se coloca a favor da avaliação de desempenho. "A melhoria da qualidade do ensino por meio da avaliação de resultados é fundamental para o processo de transformação da educação. Porém, esse processo deve ser muito cuidadoso, para que não haja um desequilíbrio entre a proposta de avaliação e o avaliador, que deve ter condições de avaliar". Para ele, a transformação está intimamente ligada à performance do educador e se ela for positiva, merece ser recompensada. Se não for, uma solução é que o Estado ofereça treinamentos para melhorar o trabalho do docente. "Com critérios claros e transparentes na avaliação, é possível distribuir uma premiação. É uma forma de valorizar a profissão e o papel importantíssimo do professor, que no Brasil se sente tão desvalorizado", diz.
Para Mathias, não se pode concluir que o desempenho de um aluno dependa apenas do professor. Portanto, os critérios utilizados na meritocracia devem ser discutidos com cuidado. O que não tira a responsabilidade do educador. "A educação é um composto, mas o grande agente da transformação do aluno é o professor. A mágica se dá em sala de aula, na relação do professor com o estudante. Quando alguém pensa em sua época de escola, lembra do professor que motivava e desafiava. É ele que marca sua vida. Esse educador precisa de suporte e treinamento", conclui Mathias.
Todos pela Educação