Educação integral: os maiores desafios
Educação integral em escolas públicas: os maiores desafios
Escrito por Ernane Fernandes Silva
As discussões sobre educação integral no Brasil começaram a aflorar com as discussões sobre a estruturação da educação brasileira, nas décadas de 1920 e 1930, e ainda hoje a implantação efetiva apresenta-se como um desafio. Apesar dos debates, pouca coisa se fez em relação à educação integral, desde o manifesto dos pioneiros da educação em 1932 até o início do século XXI, sendo as experiências mais significativas, a construção de uma Escola Parque por Anísio Teixeira em um bairro popular em Salvador e os Centros de Educação Integrada no Rio de Janeiro, liderados por Darcy Ribeiro, no início da década de 1980.
Essas discussões sobre a implantação da educação integral durante boa parte do século XX foram prejudicadas por uma compreensão equivocada, crente de que os maiores desafios consistiam na ampliação de espaços físicos de escolas. Com a implantação da educação integral como política pública, a partir de 2008, percebe-se que além dos desafios financeiros e materiais que envolvem a reestruturação física de escolas, adequações logísticas e alimentação escolar, os maiores desafios são humanos, e implicam mudança de mentalidade da população brasileira.
Diante de tantas controvérsias estruturais em escolas, parece equivocado atribuir ao ser humano a maior responsabilidade pelo sucesso da educação integral, mas os espaços para a realização de atividades culturais e esportivas, por exemplo, não necessitam ocorrer necessariamente dentro das escolas, ao contrário, devem fortalecer a integração entre espaços formais e informais.
A análise sobre a importância do ser humano remete a uma breve reflexão sociológica e histórica da formação do povo brasileiro, proveniente dos três séculos de colonização predatória e, ainda hoje, são perceptíveis os entraves para oferecer educação de qualidade para crianças e jovens provenientes de classes populares. O problema supera os aspectos financeiros e clama por um olhar sensível de governantes e sociedade civil para alunos vítimas de vulnerabilidade social e deficiências pedagógicas em escolas.
É necessário ocorrer uma mudança de paradigma geral sobre a importância da educação no país, pois enquanto o governo federal fala em elevar a aprendizagem dos alunos, o Plano Nacional de Educação ainda se encontra no Congresso Nacional para aprovação, desde dezembro de 2010. Em esfera municipal, diversos prefeitos não aderiram ao Programa Mais Educação que implanta a educação integral, desapontados ao saberem que os recursos do programa seriam destinados diretamente para as contas de escolas; outros aderiram ao programa, mas não asseguram a contrapartida para a alimentação dos alunos. Alguns secretários municipais de Educação não compreendem a importância do programa e não o tratam como um aspecto estratégico na gestão.
O Mais Educação tem a proposta de ajudar a romper com práticas dominantes, mas em muitos municípios, os professores comunitários e monitores do programa são indicados por vereadores ou representantes políticos, preocupados em atender aos seus eleitores, enquanto a qualidade da educação e o fortalecimento da democracia em escolas não são lembrados; diversos diretores de escolas apresentam dificuldades em gestão de pessoas e financeira, uma vez que a própria Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional (Lei nº 9.394/96) não regulamenta a função de gestão escolar e, em muitos municípios, a indicação de diretores ocorre mediante critérios políticos, independentemente de qualidade. É perceptível que os maiores desafios não são meramente financeiros e materiais, envolvem mudança de mentalidade, sensibilidade humana e respeito aos direitos de crianças e adolescentes, desde políticos federais até colaboradores em escola podem ajudar a fazer a diferença.
Finalmente, fazer educação integral apresenta-se como um desafio para toda a sociedade brasileira e sensibilidade humana contribui para o desenvolvimento de uma educação de qualidade.
O autor é mestre em Administração, pedagogo, administrador, especialista em Gestão Empreendedora de Empresas, especialista em Gestão Escolar.
Artigo publicado na edição de agosto de 2013.
http://www.profissaomestre.com.br/index.php/artigos/dando-a-letra/505-educacao-integral-em-escolas-publicas-os-maiores-desafios