Agora é pra valer

Agora é pra valer

ALFABETIZAÇÃO - Agora é pra valer

Nenhuma criança é igual à outra e cada uma tem o seu ritmo de aprendizado. Isso significa que todas as crianças passam pelo mesmo processo, mas cada uma no seu tempo. É preciso lembrar disso como um mantra ao colocar o filho no 1º ano do Ensino Fundamental, o ano da alfabetização. E antes de exigir que a criança chegue ao final do período letivo sabendo ler e escrever tem de se ter ciência da proposta pedagógica da escola. É o que aconselha Regina Urmersbach, pedagoga, especialista em alfabetização e professora da Unisinos.

– Algumas escolas exigem que os alunos cheguem ao final do 1º ano do Ensino Fundamental dominando a leitura e a escrita. Outras, não. Os pais precisam se apropriar da proposta pedagógica da escola e decidir se ela se encaixa naquilo que desejam para o filho – alerta Regina.

Professora da Faculdade de Educação da UFRGS, Maria Carmem Silveira Barbosa salienta que há uma grande diferença entre as crianças que frequentaram a Educação Infantil e aquelas que têm o primeiro contato com o ambiente escolar mais tarde, no 1º ano do Ensino Fundamental.

– Crianças que frequentaram a pré-escola têm um repertório maior, enquanto aquelas que não frequentaram vão adquirir esse repertório só no 1º ano. E isso dá um ritmo diferente entre elas – explica ela.

Essa diversidade, segundo ela, exige do professor um trabalho descentralizado. É preciso pensar em tarefas que atendam as crianças na sua totalidade:

– Os professores não devem dar aula para a média. Devem dar aula para todos.

Eliana Urmersbach, professora e psicopedagoga, conhece bem o que é dar aula para crianças no processo de alfabetização: há 27 anos ela faz isso no Colégio Sinodal de São Leopoldo.

– Normalmente, as crianças chegam ao final do ano sabendo ler e escrever. Mas é preciso respeitar o tempo de cada uma delas. Os pais não devem comparar os filhos a outros alunos dizendo frases como “O fulano já está escrevendo”. Isso só atrapalha – reforça Eliana.

“As crianças são muito diferentes entre si no que se refere ao aprendizado, e a escola tem de estar preparada para essa diversidade.”

Maria Carmem Silveira Barbosa, professora da Faculdade de Educação da UFRGS

TROCA DE ESCOLA

Meu colégio está diferente

Para Magnólia Ramos Tebaldi, trocar de escola aos nove anos não parecer ser um grande problema. Animada em fazer novos amigos na Escola Estadual Presidente Roosevelt, ela conta os dias até 24 de fevereiro, quando começará o ano letivo.

A mãe, Liliam Ramos, conta que durante todo o ano passado ela e o marido conversaram com Magnólia a respeito dessa mudança. Professora da Faculdade de Letras da UFRGS e trabalhando no bairro Agronomia, Liliam queria que a filha estudasse mais próximo de casa.

– Além da proximidade, nós resolvemos apostar na escola pública. Como professores, eu e o meu marido acreditamos que ela pode ser resgatada. Desta forma, decidimos investir o valor da mensalidade da antiga escola privada da Magnólia em atividades e cursos extraclasse, como dança – conta Liliam.

– Eu quero fazer street-dance, francês e teatro. E música também – completa a menina.

Magdalene Espíndola, orientadora educacional da Educação Infantil e das séries inicias do Ensino Fundamental do Colégio João Paulo I Zona Sul, acredita que o período de adaptação das crianças em uma nova escola é de extrema importância, principalmente porque é determinante na vida escolar daquele aluno.

– É um período de compreensão, afeto e acolhimento dessas crianças por parte da escola, pois é um momento de muita ansiedade e angústia para os pais e, principalmente, para os próprios estudantes. É nesta fase que ocorre a ambientação de forma geral, e é importante que a escola realize atividades de socialização, que façam com que a criança tenha o primeiro contato com o espaço físico, com os professores e com os colegas – defende Magdalene.

A psicóloga e professora da Unisinos Simone Bicca Charczuk diz que a principal dificuldade para a criança no momento em que ocorre uma troca de escola é o encontro com o novo:

– Quando, no início do ano letivo, a criança volta para a mesma escola, há um reencontro com pessoas com as quais ela já criou laços. Já quando se é novo em uma escola é preciso um período de adaptação em que essas relações serão construídas.

REFORÇO ESCOLAR - Quem precisa de um amigo pedagógico?

Há 15 anos, a psicopedagoga Sônia Moojen avaliava adolescentes em seu consultório quando se deu conta que parte deles não precisava do atendimento de um psicopedagogo, mas sim de uma pessoa que auxiliasse aquele adolescente em suas tarefas de estudante.

Essa história você já deve ter lido ou ouvido falar. Mas o fato é que deu certo. Deu muito certo. E hoje o projeto Amigo Pedagógico conta com oito profissionais que ajudam estudantes sob a supervisão de Sônia.

– O trabalho de um Amigo Pedagógico Qualificado, o APQ, como chamamos esses profissionais, é diferente do trabalho de um professor particular. O APQ auxilia o aluno de forma mais ampla. É um acompanhamento que deve ser feito no ambiente familiar do aluno, onde o APQ ajudará a criança ou o adolescente a se organizar, a estudar – explica Sônia.

Na primeira parte do trabalho, Sônia é quem avalia o estudante, verificando qual é a necessidade e o perfil. A partir daí é que é designado um APQ, que será supervisionado pela psicopedagoga.

O mestre em filosofia José Ademar Arnold é APQ há três anos, quando foi convidado por Sônia a atender um paciente dela.

– Os alunos acham que o trabalho de um APQ é dar aula. Não é isso. Um APQ ensina o aluno a pesquisar na internet e em livros, a organizar os estudos, tudo isso baseado em um cronograma de tarefas montado de forma conjunta. No entanto, como o trabalho será feito depende muito do aluno e de suas dificuldades – diz Arnold.

Antes do APQ iniciar o trabalho, são realizados de dois a três encontros com o aluno, além de uma boa conversa com a família. Então é estabelecido qual será a rotina. São aulas de uma hora de duração em média, de duas a três vezes por semana, segundo Arnold.

Um professor tutor para chamar de seu

Além do velho conhecido professor particular e do amigo pedagógico, há ainda um outro personagem quando é necessário um reforço escolar. Estamos falando do professor tutor.

Segundo Maura Corcini Lopes, doutora em educação e coordenadora do Programa de Pós Graduação em Educação da Unisinos, o professor tutor está dentro de uma proposta pedagógica maior e normalmente está atrelado à escola.

– Há escolas que adotam o esquema de tutoria para o atendimento de alunos com dificuldade. O profissional passa então a acompanhar esse aluno junto do professor regular da sala de aula – relata Maura.

O que normalmente ocorre, de acordo com Maura, é a escola fazer o encaminhamento do aluno para o tutor quando percebe a necessidade, diferentemente do que ocorre com o professor particular, que é contratado pela família para realizar atividades específicas fora do ambiente escolar.

– O professor particular entra pontualmente para resolver um problema. Uma vez solucionado, ele sai de cena. O professor tutor é diferente. Por estar mais próximo da escola e por desenvolver um trabalho articulado ao planejamento da instituição oferece um acompanhamento mais amplo – diz a professora.

TECNOLOGIA

Tablet, bem-vindo à sala de aula

A dobradinha livros e explanações dos professores em sala de aula não satisfaz mais a nova geração de estudantes. E isso todos já sabem. A grande questão é como atender às exigências dos alunos sem esquecer o programa pedagógico da escola e o planejamento dos professores.

O Colégio Israelita Brasileiro, de Porto Alegre, vem trabalhando com essa ideia desde 2012. A coordenadora administrativo-pedagógica do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, Adriana Beatriz Gandin, conta que há uma equipe auxiliando os professores a montarem atividades utilizando tablets em sala de aula.

– A soma dessa equipe técnica com os professores é que dá a liga para fazer uso das novas tecnologias – diz Adriana.

Na prática, os professores procuram a equipe técnica especializada, apresentam seu plano de aula e pedem auxílio desses profissionais para que, juntos, encontrem aplicativos que possam ser úteis em sala de aula, levando em conta o conteúdo proposto. A analista de tecnologias educacionais do Israelita, Ingrid Strelow, acredita que o tablet é um complemento, o mais importante sempre será a expertise dos professores.

– Com o uso do tablet, o aluno tem coautoria dos projetos com o professor. A tecnologia proporciona um excelente momento de troca – pondera Ingrid.

É preciso que as escolas comecem a se preparar para o futuro e parem de focar no presente. É nisso que acredita Eduardo Campos Pellanda, professor da PUCRS e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Mobilidade e Convergência Midiática (Ubilab) na instituição:

– Temos de entender mais o que será o futuro das crianças e não educar para o presente. Senão, estaremos sempre em uma corrida sem fim. Não precisamos simplesmente colocar computadores e tablets, precisamos ensinar o que é digital. É necessário compreender que um texto na tela é diferente, e não melhor ou pior da versão do papel.

A hora e a vez dos games

Professor da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS e pós-doutor em Jogos Eletrônicos pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) nos EUA, André Pase acredita que os jogos em breve terão vez na sala de aula. Baseados na diversão, eles têm a capacidade de fazer um assunto complicado ganhar outra cara na tela: as ações do jogador fazem com que o aluno compreenda algo conectado à proposta do professor. Mas, claro, segundo ele, disponibilizar um jogo em sala de aula tem de ter um propósito.

– Os jogos geram a motivação de entender um processo. Isso pode ser visto em jogos como Civilization, que trabalha com o desenvolvimento das sociedades, e você vê o resultado de escolhas, de processos históricos, ou Portal 2, um jogo em primeira pessoa que usa conceitos de física para sair de labirintos – diz o professor.

Mas Pase entende que ainda há um caminho para o jogo em sala de aula ser compreendido.

– O preconceito é natural com algo novo e que muitas vezes é associado à violência. A melhor forma de lidar é selecionar os jogos, apresentá-los bem e dar acompanhamento. O professor também precisa jogar, saber qual ação o aluno vai fazer. Quando alguém for questionar o que é usado, por que é usado, os educadores vão mostrar que entendem do que falam. É uma situação que lembra um pouco quando o computador entrou na sala de aula. Precisa ter rumo, ter objetivo, não só colocar os alunos na frente da tela – defende ele.

Zero Hora

 




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