Prolongada e extrema onda de calor
Prolongada e extrema onda de calor pode atingir níveis históricos
O fim de semana teve breve intervalo de temperatura amena no Rio Grande do Sul após o escaldante período de calor registrado na semana passada. No domingo mesmo já começou a ingressar uma massa de ar quente a partir do Norte do Estado, mas foi ontem que a temperatura voltou a disparar. As máximas na segunda-feira atingiram 37,4ºC em Santa Cruz do Sul, 37,3ºC em Porto Alegre e Campo Bom, 37,2ºC em Teutônia e 37ºC na Base Aérea de Canoas. O calor da segunda-feira, contudo, pode ser considerado fraco perto do que está por vir. Nos próximos dias, o tempo quente e abafado não vai dar trégua. No momento inicial da onda de calor, não são esperadas máximas tão altas quanto as da semana passada, quando fez perto de 40ºC à sombra, já que vão ocorrer freqüentes pancadas de chuva. O pior deve ser esperado para o começo de fevereiro, quando a massa de ar quente se intensificará muito sobre o Sul do Brasil. Não apenas o Rio Grande do Sul vai sofrer com marcas muito acima da média nos termômetros nos próximos 10 a 15 dias, mas também uma extensa área do Brasil (Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além do Paraguai, Uruguai e o Centro-Norte da Argentina. Será um evento excepcional de calor que pode fazer deste verão o mais quente ou um dos mais quente já registrados em mais de um século de observações.
Esta nova onda de calor, ainda em seu momento inicial, deverá ser muito longa e intensa com duração de meio mês. Há indicativos de que se formará junto ao Centro da América do Sul o que se convencionou chamar na Meteorologia dos Estados Unidos de um “heat dome”, verdadeira “bolha” gigante de ar extremamente quente associada a persistente área de alta pressão. É verdadeira panela de pressão com ar quente aprisionado nela e se intensificando enquanto o ar mais frio que poderia trazer alívio fica bloqueado mais ao Sul da América do Sul. Estabelece-se padrão de bloqueio que desloca a corrente de jato mais ao Sul da posição normal com contínuo ingresso de ar quente de Norte e que se intensifica. A longa sequência de dias tórridos agrava o efeito da ilha de calor urbano e as cidades ficam ainda mais quentes com noites muito quentes. Quando se estabelece uma condição de bloqueio com uma bolha de ar quente tão intenso e extensa, as ondas de calor não apenas tendem a ser muito fortes como costumam ser longas com máximas extremas e até históricas. É muito provável que durante a primeira semana de fevereiro tenhamos máximas mais altas que as registradas na última onda de calor da semana passada. Haverá, ao que tudo indica, máximas no Rio Grande do Sul de 41ºC a 42ºC à sombra em estações meteorológicas. Hoje, não é possível ainda dizer se os recordes oficiais de calor do Estado de 1917 e 1943 (42,6ºC em Jaguarão e Alegrete) estão ameaçados, mas a temperatura tende a alcançar níveis extremos e vão ter relevância histórica.
O calor que se prevê para a primeira semana agora de fevereiro no Rio Grande do Sul pode superar em intensidade o registrado na primeira semana do mês em 2010. À época, uma poderosa onda de calor castigou o Estado e trouxe o famoso episódio de desmaio de um comentarista esportivo nas cabines de imprensa do Estádio Olímpico, o que acabou por criar a expressão popular “calor de desmaiar Batista”. A temperatura máxima superou 40ºC duas vezes neste mês de fevereiro de 2010 em Porto Alegre: 41,3ºC em 3/2 e 40,4ºC em 7/2 na rede do Sistema Metroclima. A máxima do dia 3/2 teve valor superior ao recorde de calor de todos os tempos da cidade de 40,7ºC, de 1º de janeiro de 1943, porém não se considerou como novo recorde porque a estação onde foi registrada a marca é muito recente e se utiliza a estação do Jardim Botânico como referência para climatologia histórica da cidade. Já a mínima na estação do Instituto Nacional de Meteorologia no bairro Jardim Botânico de 27,9ºC, no dia 3 de fevereiro de 2010, foi a maior em cem anos de registros na cidade de Porto Alegre, superando as marcas anteriores 26,6ºC de 20 de dezembro de 1997 e os 26,9ºC de 29 de janeiro de 1933. Observe nos mapas abaixo a enorme semelhança de padrão entre o que se prevê para este começo de fevereiro e o fevereiro de 2010.
As máximas nesta semana devem se situar à tarde entre 37ºC e 39ºC no Rio Grande do Sul, sobretudo no Centro e no Oeste do Estado, incluindo a região de Porto Alegre. Por conta da variação de nuvens e das pancadas de chuva, a temperatura vai variar de um dia para o outro, mas seguirá quente e abafado. No próximo fim de semana, especialmente no domingo, a temperatura deve dar um salto maior a próxima semana, a primeira do mês de fevereiro, tende a marcar o auge do período quente com as marcas mais extremas, acima dos 40ºC. Será quando o centro do bolsão de ar mais quente estará sobre o Sul do Brasil. Alertamos que esta nova onda de calor poderá ter impacto econômico e social. São prováveis mais transtornos para a população por falta de luz e água com novos recordes de demanda e consumo. No campo, a soja terá estresse pelo calor excessivo e a intensa insolação, e ainda a avicultura pode sofrer mais perdas por mortes de frangos pela temperatura alta.