Salários de professores melhoram, mas...

Salários de professores melhoram, mas...

Salários de professores melhoram, mas  magistério atrai menos jovens

  • Levantamento mostra que docentes tiveram aumento superior à média, mas eles  ainda ganham menos que os outros profissionais

  • Segundo pesquisa da UniCarioca, só 20% dos alunos do ensino médio no Rio têm  algum interesse pela carreira

  • Quantidade de pessoas concluindo faculdades de licenciatura em disciplinas  do ensino básico caiu 16% desde 2010


Sala de aula do curso de Matemática, da Uerj: no 2º semestre de 2012, 100 alunos ingressaram e 16 concluíram
Foto: Ivo Gonzalez / O Globo
Sala de aula do curso de Matemática, da Uerj: no 2º semestre de 2012, 100  alunos ingressaram e 16 concluíram Ivo Gonzalez / O Globo
O Brasil tem à frente o enorme desafio de melhorar seu ensino público, mas,  para isso, precisa resolver uma questão primordial: a valorização de seus  mestres. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes  (Pisa, na sigla em inglês), divulgados no final de 2013, mostraram que os países  com melhor desempenho na educação são aqueles que fazem a carreira docente  atrativa aos mais talentosos jovens que saem do ensino médio. Não é o nosso  caso. No Brasil, apesar de alguns avanços, os salários ainda são baixos em  comparação com as demais ocupações universitárias, poucos jovens cogitam seguir  a carreira docente e, nos últimos anos, menos se formam em cursos de  licenciatura.Um levantamento feito pelo GLOBO nos microdados da Pesquisa Nacional por  Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, mostra que professores tiveram, desde  1995, aumento médio na renda superior aos demais profissionais com ensino  superior. Mesmo assim, em 2012, um professor do primeiro ciclo do ensino  fundamental (que dá aulas para crianças de 6 a 10 anos) recebia, em média,  somente 57% do registrado entre profissionais também com nível superior. Entre  docentes do ensino médio, esta proporção aumenta para 70%. Em 1995, esses  percentuais eram, respectivamente, de 39% e 51%.

A baixa remuneração, além de desmotivar os próprios professores, é um dos  fatores que leva muitos jovens a descartar de seus planos a carreira em salas de  aula. Uma pesquisa feita pela UniCarioca com exclusividade para O GLOBO mostra  que apenas 20% dos alunos do ensino médio do Rio que pretendem ingressar no  ensino superior manifestam algum interesse pelo magistério. Eles são, em  comparação com os que planejam outras carreiras, jovens de menor renda e que  estudaram, principalmente, em escolas públicas.

Se na entrada do sistema está difícil atrair jovens para os cursos de  magistério, dados do Censo do Ensino Superior, do Ministério da Educação,  mostram que há também um problema recente na saída das universidades. A  quantidade de estudantes concluindo faculdades de licenciatura em disciplinas do  ensino básico, que na década passada teve aumento de 63%, registrou queda de 16%  de 2010 a 2012. O mesmo movimento é percebido quando se analisa as matrículas:  depois de aumentarem 60% na década passada, caíram 4% nos últimos três anos da  pesquisa.

Se a queda do número de licenciaturas se confirmar ao longo dos anos, a  tendência pode dificultar o cumprimento de uma das metas do Plano Nacional de  Educação (PNE), em tramitação na Câmara dos Deputados, que estipula que todos os  professores do país tenham formação com licenciatura até 2024.

Mas como explicar a aceleração das licenciaturas até 2010, e depois freada  brusca? O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara,  prefere uma saída econômica. Segundo ele, na última década, o Brasil viveu um  dos maiores crescimentos de sua História, com inclusão de renda, e  consequentemente, de crescimento da parcela da população à educação superior.  Com uma economia mais complexa, surgem outras oportunidades de trabalho mais  atrativas.

Para Cara, este cenário precisa ser revertido urgentemente, já que o país  precisaria de 1,5 milhão a dois milhões de novos professores até 2023, segundo  seus cálculos, para cumprir metas de inclusão no ensino médio e de educação  integral do PNE:

— A partir de 2010 nós temos a solidificação do momento de boa avaliação  econômica brasileira. Com isso, boa parte dos jovens acaba considerando que há  outras oportunidades no mercado de trabalho que não a de docente. E a situação é  alarmante porque, com as metas do PNE, vamos precisar de um número muito maior  de professores na próxima década.

Mas o desinteresse pelo magistério é mais sentido por umas disciplinas do que  por outras. Em alguns cursos, sequer houve declínio de licenciaturas. É o caso  das Humanas (História, Geografia, Filosofia e Sociologia). De 2011 para 2012, o  número de concluintes do grupo subiu 1%.

Já a área de Exatas (Matemática, Física, Química e Biologia) teve 13% a menos  de formandos no mesmo período. E o drama para essas disciplinas é ainda maior se  forem observados o período de 2010 para 2012, onde houve queda de 14% dos  concluintes em Física, 13% em Biologia, 10% em Química e 21% em Matemática.

Não por acaso, essas matérias foram alvo do programa “Quero ser cientista,  quero ser professor”, lançado em setembro pelo Ministério da Educação (MEC), que  prevê a concessão de bolsas de R$ 150 a cerca de 100 mil alunos do ensino médio  que manifestem vocação para a docência. Além da gratificação, os aspirantes a  professor terão orientação de professores da escola onde estudam e de estudantes  universitários de cursos de licenciatura.

Para o presidente do Inep, Luis Cláudio Costa, o programa é a principal  aposta do governo federal para a valorização do professor. No entanto, Costa  reconhece a dificuldade da tarefa:

— Não adianta, o estudante, a família e a sociedade procuram a carreira que é  valorizada socialmente. Temos muitos jovens vocacionados para o ensino, que  seriam excelentes professores, mas que estão procurando outras carreiras porque  percebem que o magistério não é valorizado. É um desafio nosso, como ministério,  fazer essa valorização.

Em algumas universidades do país, o desinteresse é visível em sala de aula.  No Departamento de Matemática da Uerj, por exemplo, o segundo semestre de 2012  teve 100 alunos ingressantes, 16 formandos, e nada menos que 84 debandaram do  curso. E essa proporção se repete em períodos letivos anteriores.

Testemunha da evasão na área de Exatas é a coordenadora do curso de graduação  em Matemática da UFRJ, Márcia Fusaro. Segundo ela, nos últimos dois anos, muitos  de seus alunos têm optado por trocar de curso, migrando geralmente para as  Engenharias, ou simplesmente se contentando com o bacharelado. A cada ano, em  média, seu departamento recebe cerca de 90 novos alunos, e forma outros 20:

— Temos uma evasão muito grande na Licenciatura. Eles mudam ao longo do  percurso para outros cursos. A verdade é que Matemática não é um curso fácil, e  muitos pensam que vão encarar um curso difícil para depois não obter o retorno  do esforço intelectual. Portanto, a mudança de curso acaba sendo natural: o  aluno que entra é jovem, e tem tempo para perceber que não era isso que ele  queria. Se não houver a compatibilidade dos salários da docência com o mercado  privado, realmente vamos perder profissionais que seriam excelentes professores  — diz Márcia.

Pedagogia no sentido oposto

A queda em cursos de licenciatura não é verificada em outra área da educação:  a Pedagogia. De 2002 a 2012, houve crescimento contínuo de 136% no número de  matrículas, e 125% no de concluintes. Entretanto, diferentemente da  licenciatura, o diploma de pedagogo só habilita o profissional a dar aulas nos  primeiros anos do ensino fundamental.

Neste caso, no entanto, especialistas alertam que o crescimento da Pedagogia  não necessariamente significa maior interesse pela educação. Mesmo ressaltando  que ainda não há estudos que correlacionem a evolução dos cursos de graduação em  Pedagogia e de licenciaturas, a pesquisadora em Educação da USP, Paula Louzano,  cita a hipótese de que muitos usariam o título de pedagogo apenas como meio mais  fácil de acesso ao ensino superior. Se confirmada essa tendência, a pesquisadora  aponta que então o problema não seria necessariamente a falta de educadores,  mas, sim, entender em quais setores profissionais estes pedagogos estariam  atuando:

— A pergunta é se eles escolhem ou são escolhidos, se eles vão para carreira  por falta de opção ou se eles querem mesmo. Talvez seja mais fácil passar para  Pedagogia, que é menos especializado, do que numa Engenharia ou em Medicina, por  exemplo. E a chance de eles conseguirem emprego em outras áreas é maior em  Pedagogia do que em licenciatura. Então será que já temos muita gente formada  que não está exercendo? Se for isso, a solução seria políticas de atratividade  para a carreira, como salários, e não de formação.

Leia mais sobre esse assunto em  http://oglobo.globo.com/educacao/salarios-de-professores-melhoram-mas-magisterio-atrai-menos-jovens-11210310#ixzz2pYYzKpGg




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