Os de cima sobem, os de baixo descem

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Gerson Carneiro: Meritocracia, os de cima sobem, os de baixo descem

publicado em 23 de dezembro de 2013 às 20:36

por Gerson Carneiro, especial para o Viomundo

Tenho uma amiga que é arquiteta em uma empresa de construção civil.

Recentemente ela me contou que a empresa abriu uma vaga para empregar um jovem.  Participaram do processo de seleção três jovens. Dos quais apenas um compareceu pontualmente no horário marcado para entrevista. Os demais chegaram atrasados.

Curiosamente o que compareceu pontualmente é o que mora mais distante, e o mais pobre deles.

A empresa optou por contratar o jovem que não se atrasou, dentre outros motivos, considerou sua história pessoal. Pobre, mora na periferia, primeiro emprego, prometeu ajudar a mãe com o salário.

Mas aconteceu uma dificuldade. O jovem deixou apenas um número de celular para contato, e a empresa, por uma semana, tentou contatá-lo. Sem sucesso, até deixou recado na caixa postal, mas não houve retorno. Ligou em estabelecimentos comerciais próximos ao endereço residencial dele e por fim teve a ideia de ligar na escola aonde ele estuda, explicou toda a situação, porém… Pasmem! A escola informou que não passa recado.

Isso me deixou profundamente contrariado.  A escola, que deveria ser a primeira a se empenhar para contribuir para a mudança, no sentido de oferecer oportunidade, para aquele jovem e mudar sua vida, se mostrou inerte. Indiferente, apática.

Foi então que solicitei o número do celular deixado pelo jovem e, no final de semana, fiz algumas ligações. Após algumas tentativas ele atendeu. Expliquei o que estava acontecendo, disse-lhe para comparecer na segunda-feira no local aonde havia feito a entrevista, portando seus documentos pessoais, pois havia sido selecionado.

Ele, após um momento de euforia, me disse:

- Meu celular é ruim, não toca, só acende a luz e às vezes eu não vejo.

Enfim, o moço já está trabalhando.

Relatei esse fato para demonstrar até onde chegam os estorvos que um jovem pobre enfrenta.

Tem negado até um simples e importante recado. Por alguém que, em princípio, tem o dever de conduzi-lo.

Agora observem as duas fotos acima. Há quem acredite que as crianças das fotos, em realidades totalmente distintas, têm as mesmas oportunidades e chances de sucesso na universidade pública, em concursos públicos, enfim, na vida.  E que as crianças que estão “brincando” de quebrar pedra, para ter as mesmas oportunidades, quando adultas, que as crianças que estão “brincando” com o computador, “basta se esforçar”. Do contrário serão adultos vagabundos.

A propósito: entre as duas fotos acima, quem está empreendendo maior esforço?

Tomando emprestado uma frase de Chico Science, disto tenho certeza: “Meritocracia: os de cima sobem e os de baixo descem”.

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/gerson-carneiro-meritocracia-os-de-cima-sobem-e-os-de-baixo-descem.html




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