O que mudou de fato?

O que mudou de fato?

 

2013: O QUE MUDOU DE FATO NO MUNDO?

O mais importante foi a mudança de clima no   cenário mundial. Desde o triunfo na guerra fria, os EUA militarizavam os   conflitos. Não foi assim com Síria e Irã.

por Emir Sader

Portal Patria Latina

Como sempre, se acumulam uma quantidade de fatos   – entre mortes, eleições, sublevações, etc. – que se destacam   jornalisticamente no mundo, mas dificultam a compreensão das alterações nas   relações de poder, as que efetivamente contam na evolução da situação   internacional.

No emaranhado de acontecimentos, o mais   importante foi a mudança de clima no cenário internacional. Desde que   triunfou na guerra fria, os EUA tem tido como postura diante dos conflitos   internacionais, sua militarização. Transferir para o campo em que sua superioridade   é manifesta, tem sido a característica principal da ação imperial dos EUA.   Foi assim no Afeganistão, no Iraque, por forças intermedias na Líbia. E se   encaminhava para ser assim nos casos da Síria e do Irã.

De repente, pegando ao Secretario de Estado   norteamericano, John Kerry, pela palavra, o governo russo propôs ao da Síria   um acordo, que desconcertou o governo norteamericano, até que não pôde deixar   de aceitar. Isto foi possível porque Obama não conseguiu criar as condições   políticas para mais uma ofensiva militar dos EUA. Primeiro o Parlamento   britânico negou o apoio a Washington.

Depois, foi ficando claro que nem a opinião   publica, nem o Congresso noreamericano, nem os militares dos EUA, estavam a   favor da ofensiva anunciada ou do tipo de ofensiva proposta.

O certo é que os EUA foram levados a aceitar a   proposta russa, o que abriu as portas para outros desdobramentos, entre eles,   combinado com as eleições no Irã, para a abertura de negociações políticas   também com esse país por parte dos EUA. No seu conjunto, se desativava o foco   mais perigoso de novos conflitos armados.

Como consequência, Israel, a Arábia Saudita, o   Kuwait, ficaram isolados nas suas posições favoráveis a ações militares   contra a Síria e até contra o Irã. Foi se instalando um clima de negociações,   convocando-se de novo uma Conferência na segunda quizena de janeiro, em   Genebra, para discutir um acordo de paz. Uma conferência que não coloca como   condição a questão da saída do governo de Assad, como se fazia anteriormente.  

A oposição teve que aceitar participar, mesmo   nessas condições. E ainda teve a surpresa que os EUA e a Grã Bretanha   suspenderam o fornecimento de apoio militar aos setores opositores   considerados moderados, que foram totalmente superados pelos fundamentalistas,   apoiados pela Arabia Saudita e pelo Kuwait.

Como dois pontos determinam um plano, as   negociações sobre a Siria abriram campo para as negociações dos EUA com o   Irã, aproveitando-se da eleição do novo presidente iraniano. Desenhou-se, em   poucas semanas, um quadro totalmente diverso daquele que tinha imperado ao   longo de quase todo o ano. Os EUA passaram da ofensiva à defensiva, a Rússia,   de ator marginal, a agente central nas negociações de paz, a ponto que a   Forbes, pela primeira vez, elegeu Vladimir Puttin como o homem mair forte do   mundo, na frente de Obama. Isso se deve não ao poderio militar ou econômico   da Russia, mas ao poder de iniciativa política e de negociação que o país   passou a ter.




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