Salvar o Ensino Médio culpando professor
Projeto do MEC para salvar o Ensino Médio joga a culpa no professor
MANOEL FERNANDES
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A solução encontrada pelo MEC para diminuir os índices de repetência e evasão escolar do Ensino Médio é pagar R$ 200 para educadores que participarem de cursos de formação. Segundo o governo federal, não é a falta de investimentos nas escolas, nem a falta de estímulos aos jovens, além da falta de perspectivas para a juventude, que promovem o desinteresse e o abandono das escolas, mas aqueles e aquelas que têm que trabalhar em péssimas condições e que não recebem os devidos apoios técnicos e pedagógicos para desenvolver toda sua potencialidade. A repetência e a evasão escolar são problemas que vão além dos muros das escolas. O estímulo ao aprendizado é um processo que não se resolve nos últimos estágios de formação do estudante. Deve começar na primeira fase, com escolas com turno integral, em que aliado ao aprendizado haja estímulos a desenvolver habilidades e potencialidades de cada estudante. Sobre as perspectivas para a juventude, é uma questão social derivada de decisões políticas, que estão imbricadas em como a sociedade distribui a renda e a riqueza produzida socialmente. No entanto, se pode ter ações, ainda que no ensino médio, para amenizar os índices que envergonham os governos, e é só isso que interessa de fato resolver: os índices. Tanto que o governo Tarso exige das escolas a aprovação automática. Soluções mágicas que só resolvem os indicadores, mas que não melhoram a qualidade do ensino. Não se conhecem os detalhes do projeto. Se vai fazer, como fez Tarso, excluir os educadores contratados; onde e em que momento serão realizados os cursos, visto que a grande maioria dos educadores, para buscar uma remuneração digna, tem uma jornada de trabalho muito extensa. Este é mais um projeto do governo aplicado de cima para baixo, ou seja, sem o mínimo de discussão sobre o tema. No entanto, é importante lembrar que a reforma do ensino médio promovida pelo governo Tarso já foi analisada e rejeitada em todos os debates sérios e também pela maioria dos estudantes. Os motivos da rejeição são vários, mas fiquemos nos principais, que são a falta de estruturas nas escolas e preparação docente, e de que no fim do ensino médio os estudantes não tem qualificação alguma, pelo contrário, perdem formação, pois para dar "espaço" ao seminário integrado diminuem as disciplinas de Matemática ou de Português, ou outras. Portanto, é um projeto que só fica bem na propaganda, na vida real, é ruim. Sobre o MEC, é bom salientar que o PNE - Plano Nacional da Educação - plano decenal, vai aplicar 7% do PIB na Educação só em 2017, e que hoje aplica só 5% do PIB, sendo que o mínimo necessário é 10%. Portanto, se tivéssemos um governo que levasse a educação a sério, não podia, por exemplo, destinar quase 30% do PIB para os banqueiros que são donos da dívida pública e só 5% para a educação. E neste cenário que se enquadram projetos iguais ao que o MEC anunciou aqui no Estado, pois economiza com a educação pública e apresenta projetos como válvula de escape para a legítima pressão que os educadores fazem no país por mais investimentos. Neste ano foram diversas greves da educação no país, tendo como principais reivindicações o Piso Salarial e a aplicação de 10% do PIB na Educação Pública. Portanto, se tem algum culpado nesta história, não é o professor e sim quem tem a caneta para poder liberar mais verbas para preparar e resgatar a juventude para um futuro diferente daquele que se vislumbra. Os governos são os vilões desta história, e, portanto, iniciativas como essas parecem mais ações preventivas contra futuras lutas que virão com certeza ano que vem, ano em que os governos querem tranquilidade nas ruas e nas escolas, ano que os governos não querem questionamentos sobre os parcos investimentos nas áreas sociais em detrimentos dos bilhões de reais para custear a Copa. MANOEL FERNANDES é professor e diretor-geral do 22° Núcleo do CPERS/Sindicato (Gravataí) |