Pisa em quem?
O abuso do `regime de urgência` no Congresso cria uma distorção. Pergunte a um brasileiro: o que é mais urgente para o desenvolvimento do Brasil, aumentar os recursos da educação ou limitar a criação de novos partidos? Certamente, a primeira opção. Os parlamentares da base governista não pensam assim. Empurram com a barriga a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), e aprovam rapidamente a lei 12.875, que limita os direitos dos eleitores.
Urgente mesmo é definir uma agenda estratégica do país, com objetivos claros e ousados, superando a ansiedade eleitoral. A educação é central nessa agenda. O PNE estabelece metas para os próximos dez anos, em que os investimentos pulem dos atuais 5,6% para 10% do PIB.
A falta desses recursos trava o Brasil. Isso fica claro no estudo da OCDE, organização que reúne países desenvolvidos, divulgado anteontem. Batizado de Pisa, sua sigla em inglês, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos mostra que o Brasil gasta US$ 26.765 com cada aluno de seis a quinze anos. É pouco para nossas necessidades e equivale a um terço do que os países desenvolvidos gastam com seus estudantes (US$ 83 mil).
Os resultados mostram nosso atraso. Os estudantes brasileiros de 15 e 16 anos até melhoraram desde que a prova começou a ser aplicada, em 2000. Conseguiram 402 pontos no ano passado, contra 368 no primeiro exame, na média das provas de matemática, leitura e ciências, as três disciplinas avaliadas. Mas esse avanço é muito tímido. O Brasil está entre os últimos colocados nos 65 países analisados. É o 58º em matemática, o 55º em leitura e o 59º em ciências. E o mais grave é que os avanços ocorreram até 2009. A partir de então, o desempenho dos brasileiros praticamente estagnou --em leitura, houve regressão de dois pontos.
São muitos os desafios mostrados no Pisa. Um dos maiores é atrair de volta a fatia significativa dos jovens brasileiros que continua longe dos estudos. Muitos também longe do trabalho, os chamados `nem-nem`. O IBGE divulgou, na semana passada, que já são 9,6 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, um entre cinco brasileiros nessa faixa etária, dos quais cerca de 70% são mulheres.
Como atraí-los? Com valorização dos professores e aperfeiçoamento de suas capacidades, escolas modernizadas e equipadas, currículo e metodologia atualizados, conteúdos que façam sentido para os alunos e estimulem sua participação na cidadania.
Na sociedade, há consenso sobre a importância da educação. O que os estudos mostram, o povo e os educadores vivem na pele. Falta decisão política, o PNE deveria ter sido aprovado há três anos. Não é possível continuar pisando assim no freio do Brasil.
Marina Silva - Folha de São Paulo - 06/12/2013 - São Paulo, SP