Estudantes querem falar e ser escutados

Estudantes querem falar e ser escutados

 

`Culpas” e cobranças públicas. Ele somente é lembrado quando avaliado, por seus professores, por indicadores nacionais ou internacionais.

Isso nos fez lembrar justamente de uma aula. O professor José Miguel Wisnik, da Universidade de São Paulo (USP), certa vez identificou a raiz da palavra adolescente. Segundo ele, adolescente, do latim, é aquele que exala um perfume. Ou melhor, que está exalando neste momento (gerúndio) um olor. A poética do significado define bem o estágio da vida em que mais estamos propícios a criação, descobertas e inquietações.

A falta de expressão do estudante na construção da escola se reflete nas principais pesquisas sobre evasão escolar. Recentemente, o fator “desinteresse” vem liderando a lista de motivos para que os jovens deixem de frequentá-la. Construímos um modelo escolar feito por adultos sem qualquer participação de jovens e crianças. A cultura do jovem passa longe do ambiente estéril da sala de aula.

Qualquer sistema de avaliação, que se diz 360 graus, deveria colocar o estudante como uma das principais fontes de informação. Afinal, quem pode saber qual o melhor professor, a melhor estrutura, o melhor método e as melhores saídas para um ensino do que aquele para qual a escola foi feita?

Aquelas instituições consideradas de excelência no Brasil, inclusive as particulares, costumam estimular os alunos a avaliar ao menos o trabalho dos docentes. Pode soar estranho a princípio, mas é a avaliação do aluno sobre o professor que mais provoca transformação no seu trabalho, pois toca diretamente a autoestima e o propósito de vida desse profissional.

Mas na grande maioria das instituições, tem cabido tão somente a práticas isoladas elevar o grau de participação do estudante nas questões escolares. Algumas delas lideradas por professores e diretores estimulados, e outras por organizações do terceiro setor que trabalham nos limites entre escola e comunidade. Os grêmios estudantis fortalecidos e autônomos de algumas têm criado ambiência para que os próprios estudantes tomem conta dessa questão.

As práticas de comunicação e arte, cujas ferramentas hoje estão acessíveis às pontas dos dedos nos celulares, também têm sido utilizadas por algumas instituições para dar voz aos alunos. Documentários, blogs, sites e aplicativos são criados por eles em escolas que adotaram programas em seu contra-turno.

Educação de qualidade, esse mote que começou a ser utilizado após a quase universalização do ensino, deve ser seguido sempre das perguntas “para quem?”, “para quê?”. Ora, se a cobrança de uma educação de qualidade se reflete no aprendizado do estudante, parece óbvio que este deva ter alguma ingerência nas definições do que é constituída essa tal qualidade. Nesse sentido, o Festival Educação, que estimula os alunos a pensar sobre suas escolas, parece um modelo simples e barato para acelerar processos decisórios coletivos nas escolas.

Já é passado o momento para que gestores de políticas públicas comecem a prestar atenção no que pensam os estudantes. Há outras redes, como o Facebook, que já fazem esse papel de escuta. As manifestações que se iniciaram em junho já mostraram que podem faltar ruas para tanto desabafo.

* Alexandre Le Voci Sayad é jornalista especializado em educação e diretor geral do MEL (Laboratório de Mídia e Educação). Gilda Portugal Gouvêa é professora do Departamento de Sociologia da Unicamp

 

Por Alexandre Le Voci Sayad e Gilda Portugal Gouvêa - O Estado de São Paulo - 27/11/2013 - São Paulo, SP




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