Ensinar o quê aos nossos alunos?
Por Alessandro Lyra Braga
Tudo. Hoje nossos alunos chegam à escola para aprender tudo, até o que antes era ensinado em família, agora são os professores que têm que ensinar. Os pais de hoje, em geral, apenas mantém financeiramente seus filhos, e quando com eles convivem, mal percebem o que se passa com as crianças. São as babás ou empregadas domésticas, os video-games, os celulares e os computadores as maiores companhias dos jovens de hoje em dia.
Lógico que a escola é o local destinado ao ensino, mas nem todo ensino pelo qual um indivíduo deve passar pela vida teria que ser praticado pela escola. Dessa forma, joga-se na escola uma brutal responsabilidade quanto à formação de seus alunos, que não há carga horária ou professores em quantidade suficiente para dar conta de recado. Mesmo assim, as escolas muitas fezes ainda conseguem fazer milagres. Além disso, surge uma dúvida: entre o tudo que tem que ser passado ao aluno o que deve mesmo ser ensinado?
Questiono muito a grade curricular de hoje em dia. Percebo um grande enfoque para disciplinas técnicas, como Matemática, Física e Química, e um enfoque muito menor para História, Geografia e Língua Portuguesa, estrangeira e Literatura. Em escolas públicas de alguns estados e municípios os alunos têm apenas um tempo semanal de História, de Geografia e de Filosofia, por exemplo, o que é impraticável para o verdadeiro ensino dessas disciplinas. Logicamente que isto é proposital, já que quem não sabe se posicionar historicamente, também não consegue se perceber politicamente, e assim dificilmente se torna uma pessoas questionadora e ciente do mundo que a rodeia.
Porém, mesmo que não queiram, com as redes sociais que os alunos tanto participam, as informações estão lhes sendo transmitidas numa quantidade e velocidade absurda, embora de forma normalmente desconexa, dificultando sua assimilação. Li numa reportagem que pesquisadores de uma universidade norte-americana (se não me engano), estimam que, após o advento das redes sociais e das TVs por assinatura, passamos a receber ao longo de um dia até cinco mil informações diferentes, o que facilmente pode nos levar à imensas confusões, já que muitas dessas informações são totalmente inúteis ao nosso dia-a-dia. Utilizando-se e aliando-se à moderna tecnologia, pergunto se não seria interessante que professores ensinassem seus alunos como pesquisar temas pela internet, por exemplo. Os professores poderiam propor aos alunos fazer uma mescla de pesquisas do tipo, numa semana os alunos pesquisariam tal tema em livros e enciclopédias e na outra semana pela internet. Após a conclusão das duas pesquisas, seria promovido um debate sobre as características de tais pesquisas e as facilidades e/ou dificuldades encontradas em cada metodologia. Assim, os alunos teriam contato com a forma tradicional de pesquisar em livros e/ou documento e com as novas facilidades advindas pela internet.
A questão é que temos que entender que a quantidade de informações disponíveis nos dias de hoje é imensa e que nosso ensino deve ser realista com as necessidades do mundo moderno. Não adianta apenas nos mantermos no tradicional. Nossas crianças e adolescentes não são em mais nada parecidos com o que fomos há vinte, trinta ou quarenta anos. Minha sobrinha de quatro anos me disse esta semana que não tem medo de filmes de terror porque sabe que é tudo mentira e me explicou, para meu assombro, como selecionar os filmes que se quer ver no canal pago que há em sua residência. Para uma criança dessas se o ensino não for dinâmico e realista, acabará sendo desinteressante. Sei que alguns professores me dirão que os alunos de hoje não querem nada, que estão desinteressados e desmotivados com o ensino, e isto é a mais pura verdade. Mas também sei que eles aprendem tudo em termos de tecnologia com uma velocidade espantosa, bastando que eles tenham o interesse para tal. Ou seja, a questão é de motivação e não de capacidade de aprendizagem.
A escola de hoje terá que se reinventar diante das necessidades do momento. Sou a favor de que sejam utilizados todos os artefatos tecnológicos disponíveis para facilitar o ensino. Aulas com vídeos e/ou projeções sempre despertam o interesse dos alunos. Há muito tempo que temos uma excelente variedade de documentários sobre os mais diversos temas, sendo que atualmente muitos deles estão disponíveis gratuitamente pelo Youtube. Deixo anexado ao final desse artigo, até como exemplo, um excelente documentário que assisti há pouco sobre o afundamento de navios brasileiros por submarinos alemãs na Segunda Guerra Mundial (Inclusive, um tio-avô meu faleceu a bordo de um desses navios, o Baependy). Entendo e defendo que apenas pela discussão e debates dos temas, é que se desperta a curiosidade e a vontade de aprender nos jovens, instigando-os a pensar, a raciocinar fugindo daquele “prato trivial” que já vem pronto. Eu mesmo passei a me interessar por História para entender porque afundaram o navio em que viajava meu tio-avô e assim já sabia sobre a Segunda Guerra Mundial antes mesmo desse tópico ser ensinado na escola.
Mas não é bem assim que a coisa acontece. Hoje mesmo assisti a uma reportagem narrando sobre os preparativos de cursos preparatórios e alunos para o vestibular da Fuvest. Fiquei indignado quando vi a reportagem mostrar em destaque professores que mais dão shows musicais do que ministram aulas aos seus alunos, adestrando-os (e não ensinando) quanto às fórmulas e conceitos por intermédio de musiquinhas. É pura decoreba! Não é ensino, volto a repetir. É adestramento. Em seguida a reportagem mostrou como é feita a seleção de alunos na Alemanha, onde há mais de um século faz-se testes vocacionais aos alunos e assim alguns deles chegam a ingressar diretamente na faculdade. Dá para percebermos a diferença do padrão de ensino e da própria evolução da sociedade alemã, que mesmo após duas guerras mundiais se reconstruiu, alicerçada na qualidade educacional de seu povo.
Sei que dada a imensa velocidade com que o mundo se transforma hoje em dia, dificilmente conseguiremos ter um currículo escolar sempre adequado e atualizado, mesmo assim as disciplinas básicas não podem ser preteridas, e devem ser cada vez mais valorizadas. Disciplinas que são constantemente desvalorizadas devem ser devidamente valorizadas. Vejamos a disciplina “Educação Artística”, que pode ser incentivada, correlacionando-a com a computação gráfica, por exemplo; e a “Música” como disciplina, poderia ser correlacionada à prática dos DJs ou incentivando a formação de conjuntos musicais, como bandas de rock, por exemplo. A escola tem muito a ensinar aos nossos jovens e precisa aprender a fazê-lo de forma atraente e eficaz.
O que lamento é que só encontremos os professores nesta busca por um ensino realista. A sociedade em geral ainda não despertou para esta necessidade. Não percebeu que nossos jovens não estão sendo adequadamente preparados para futuro. Só acreditarei que nossos jovens estão aptos para viver de forma intelectualmente independente quando conseguirem escrever uma redação que não seja sobre um tema que possa cair em vestibular ou no ENEM e eu conseguir entender a mensagem que supostamente eles intencionarão transmitir. Até lá…
*Alessandro Lyra Braga é carioca, por engano. De formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e jornalista por necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos, filosóficos e sociológicos. Ama o questionamento.
http://www.debatesculturais.com.br/ensinar-o-que-aos-nossos-alunos/