A Educação 3.0
A Educação 3.0 ainda não adentrou a sala e continua no corredor da escola
A educação 3.0 representa uma mudança de paradigma, porque – inserida em uma sociedade em constante mudança – tem de reinventar-se para formar cidadãos que respondam às exigências do seu entorno, dotados de muitas habilidades e preparados para o mundo de hoje e, sobretudo, do amanhã.
A tarefa não é simples, pois não basta trocar a lousa, giz e cuspe pela lousa eletrônica; o caderno, pelo tablet; a caneta, pelo teclado. A educação 3.0 pressupõe uma mudança física do espaço escolar – o layout das salas de aula tem de alterar-se para responder à exigência de um trabalho colaborativo e com uso de dispositivos tecnológicos, que tornam a aprendizagem “mais viva, instigante, rica e profunda”, nas palavras de Jim Lengel, consultor e professor da Universidade de Nova York, especialista em educação 3.0. A mudança mais profunda, porém, é de mentalidades – professores e alunos antenados com as demandas de uma nova sociedade. Os alunos, sobretudo, estarão imersos numa aprendizagem contínua com o auxílio dos dispositivos móveis de comunicação.
A educação 3.0 exige que o professor não seja mais um mero transmissor de conhecimentos (a famosa educação bancária a que já se opunha o construtivismo), mas alguém capaz de promover no aluno a curiosidade e a capacidade de transformar informação em conhecimento, em alguém capaz de aplicar esse conhecimento para elaborar soluções para problemas reais, tirando o máximo partido das tecnologias da informação e da comunicação. Para isso, esse novo professor, deve desenvolver as habilidades dos alunos e ser capaz de contribuir para que as alterações curriculares correspondam às necessidades da sociedade. Assim, estas questões fundamentais a todo processo educativo devem ser repensadas:
Ø o que ensinar? Que conteúdos exige a nova sociedade?;
Ø como ensinar? Que metodologia usar para que o aluno atinja os objetivos que quer atingir?;
Ø com o que ensinar? Que recursos didáticos utilizar? Aqui o vasto aparato tecnológico (a que a maioria dos jovens tem acesso) deve ser incorporado à didática: redes sociais, podcasts, fóruns virtuais, publicação e compartilhamento online de arquivos em multimídia etc.
Como a sociedade 3.0 exige pessoas capazes não mais de repetir tarefas “fabris”, mas de solucionar problemas reais e inéditos, os conteúdos curriculares devem ser repensados e a metodologia também: a solução de problemas requer criatividade e trabalho colaborativo diversificado: a participação de professores das diferentes áreas e disciplinas; a contribuição também de especialistas de diversas áreas e de profissionais atuantes na sociedade.
Para João Alberto Rodrigues de Souza, Presidente do Sinesp, “o conceito de Educação 3.0 está associado ao de sociedade 3.0. A cena cultural fundada em novos paradigmas é um dado de nossa realidade concreta. Caracterizada pela ênfase na inovação, por aceleradas mudanças tecnológicas e sociais, pela globalização e pela horizontalidade na transmissão do conhecimento e nos relacionamentos humanos. É preciso ter clareza sobre a presença dos recursos tecnológicos digitais na vida dos estudantes e de como se corporificam nas formas pelas quais o mundo em que vivem mediatiza a práxis escolar. A noção de que há diversas outras fontes para obtenção de informações se insere naturalmente em teses de há muito defendidas por educadores de que está esgotado o modelo do professor como único depositário do saber.”
Gonçalo Margall, Diretor do Sapienti, revela que “se a educação é o espaço de transformação e evolução do homem por excelência, estamos vivendo, agora, um novo limiar de mudanças. A soma dos conceitos da educação adaptativa com a tecnologia disponível na educação 3.0 faz com que pela primeira vez na história da humanidade seja possível reunir dois grandes feitos: focar a educação no perfil individual do aluno, e fazer isso com milhões de alunos ao mesmo tempo. Na primeira onda da educação, período que conforme o autor define o que foi a educação 1.0, durou milênios ou séculos e que nos últimos 100 anos assistimos ao império da educação 2.0. O formato da educação oferecida era o que todos conhecemos: a sala de aula é o espaço de ensino e aprendizagem por excelência; o aluno é visto como mais um dentro de um grupo, e deve apresentar a performance e o comportamento que se espera de sua classe, ou grupo.” E Margall acrescenta que “o mundo digital é o que torna possível a educação 3.0 Para se tornar uma realidade e promover o ensino individualizado, sintonizado com as potencialidades e carências de cada aluno, a educação 3.0 depende pesadamente de sofisticadas infraestruturas e aplicações tecnológicas. É somente num mundo digital, conectado e interativo que a educação 3.0 acontece. Sem a tecnologia, o sonho de dar um tratamento único e sob medida para cada criança, cada aluno, nos faria voltar ao século XVIII, quando havia um tutor para cada aluno.”
Já o doutor pela Unicamp, Edvaldo Couto, professor da federal da Bahia, em entrevista ao Portal Porvir, para Vinicius Bopprê, pontua que “A mera presença dos objetos técnicos em sala de aula não significa necessariamente inovação. Pode até ser um grande retrocesso. O computador sozinho não faz nada”. “Ele trabalha em suas pesquisas temas como cibercultura, tecnologias educacionais e criação de narrativas em ambientes digitais. Defensor assíduo do uso de toda e qualquer tecnologia em sala de aula, Edvaldo acredita que a Educação 3.0 será aplicada com sucesso quando alguns problemas estiveram solucionados, como a falta de infraestrutura nas escolas e a má formação tecnológica dos professores.” Para o arremate, Edvaldo é contundente ao apontar três condições pois “A mera presença dos objetos técnicos em sala de aula não significa necessariamente inovação. Pode até ser um grande retrocesso. O computador sozinho não faz nada. A Educação 3.0 é a tecnologia de pessoas, que integra pessoas. Para usar as tecnologias digitais de forma inovadora nas práticas docentes precisamos solucionar simultaneamente três problemas:
1 – Melhorar a infraestrutura tecnológica. Existem escolas que receberam computadores e não têm luz elétrica ou acesso à internet. Muitas escolas não têm água potável, não têm biblioteca, não tem sequer professores. Para complicar, os computadores são em número limitado, não tem para todos. É preciso ampliar e criar novas políticas públicas capazes de construir uma boa infraestrutura tecnológica nas escolas.
2 – Melhorar o acesso à rede. A banda larga no Brasil é uma piada. É preciso investir e melhorar a banda larga, entender que conexão é uma necessidade básica da população. Os custos no Brasil, por um serviço sempre ruim, são altíssimos. Precisa reduzir drasticamente o custo e ampliar a velocidade da rede. A internet veloz precisa estar disponível nas escolas. Não pode ser um projeto de algumas escolas particulares e muito caras. Deve ser presença em todas as escolas. Em cada escola pública.
3 – Formar adequadamente os professores para a cultura digital. Muitos professores não sabem o quê nem como fazer uso das tecnologias digitais em suas práticas docentes. Não pode ser apenas um cursinho de poucos horas para ensinar a ligar e desligar aparelhos. Os professores devem ser letrados digitalmente, ter autonomia e liberdade, precisam ser sujeitos integrados na cultura digital.”
Prof. Roney Signorini - Assessor e Consultor Educacional - roney.signorini@superig.com.br