A autoestima dos professores

A autoestima dos professores

A autoestima dos professores: a escola e os educadores precisam de mais respeito

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Sabe-se que a atenção dada pelo professor ao aluno é fundamental para que o rendimento escolar e a própria auto-estima do estudante sejam melhoradas. Há muitas histórias de crianças, adolescentes ou jovens que se sentiam incompreendidos pelos pais ou até mesmo pela própria sociedade que tiveram na figura do professor um alento para suas vidas e futuros. 

  Li recentemente num livro que a simples preocupação demonstrada por parte dos patrões em relação aos funcionários de suas empresas pode redundar em ganhos de produtividade, melhorar os relacionamentos dentro da firma e promover um ganho real no quesito lucratividade. É notório que quando há diálogo, compreensão e disposição para a cooperação entre as pessoas que vivem ou trabalham num mesmo local se estabelece uma clara tendência a uma melhor qualidade de vida.  

São também vários os casos registrados de empresas que para agradar seus funcionários lhes concedem certas regalias, como horários mais flexíveis, permissão para o uso de roupas mais confortáveis, escolas para os filhos próximas ao local de trabalho, hora de almoço mais longa… 

 Todos esses exemplos anteriormente mencionados servem para registrar o quanto é importante, senão imprescindível, para os seres humanos a atenção e o reconhecimento. Professores não são diferentes, pelo contrário, atualmente se mostram muito carentes e se sentem um tanto quanto abandonados. São portadores de uma missão fundamental para a estruturação da sociedade e sabem disso, no entanto, muitas vezes não percebem por parte das comunidades que servem o devido respeito pelo seu trabalho.  

É claro que não estou falando que a resposta social ao trabalho educacional tem sido agressiva ou mesmo negativa. Tanto os pais de alunos quanto os demais membros da sociedade reconhecem a necessidade da educação e entendem que o futuro de seus filhos e também do país passa pelas salas de aulas de nossas escolas.

 Há, entretanto, um diferencial no que se refere ao trabalho executado pelos professores quando se comparam suas funções e atribuições ao exercício profissional de médicos, engenheiros ou advogados, por exemplo. Não é comum que uma pessoa entre no consultório de um pediatra e, sem qualquer conhecimento médico, opine ou ainda se oponha abertamente as orientações dadas por um profissional da área.  

Também não vemos as pessoas interferindo nas decisões e encaminhamentos tomados por um advogado ao longo de um processo criminal. Se qualquer cidadão tentasse, por conta própria, construir um prédio sem os devidos conhecimentos técnicos da área tão caros a engenheiros ou arquitetos o que poderia acontecer? 

 Já imaginaram? Em educação também há conhecimentos específicos, que são atualizados constantemente, que depreendem a prática exercida diariamente e o enfrentamento das situações do cotidiano, porém, os pais acham que entendem tanto (ou mais) de educação do que os próprios pedagogos, especialistas nas disciplinas, orientadores educacionais ou diretores das escolas…  

A frequência à escola é uma característica da vida da maioria dos brasileiros, isso é fato, felizmente. Por esse motivo qualquer cidadão desse país pensa entender de educação como os profissionais que atuam na área e que estão a todo o momento envolvidos com os problemas, as novidades pedagógicas, as novas tecnologias incorporadas ao cotidiano da escola, as tendências filosóficas mais contemporâneas, as metodologias mais eficientes. 

 Do mesmo modo como advogados, médicos ou arquitetos se sentem ofendidos quando tem seu trabalho questionado por leigos, também os professores demonstram sua evidente insatisfação por posicionamentos dos pais que demonstram o não conhecimento das novas possibilidades didáticas relativas ao trabalho em sala de aula. Para piorar a situação é praticamente regra que os pais visitem as escolas apenas em momentos críticos da vida educacional de seus filhos.  

O mais usual é que isso aconteça ao final dos bimestres, com a realização das reuniões de fechamento de um ciclo de estudos e avaliações. Invariavelmente isso acarreta encontros que são marcados por críticas e mais críticas ao trabalho dos professores, poucos são os pais que se dispõem realmente a dialogar e conjuntamente descobrir as dificuldades e problemas gerais do processo de ensino e aprendizagem. 

 Não estou dizendo com isso que não há erros e desacertos por parte dos educadores. Todos sabem que ainda existem muitos problemas a serem solucionados na educação brasileira. O que não pode acontecer é a crucificação do trabalho educacional sem uma avaliação isenta que permita perceber que há acertos a serem feitos tanto pelos professores e demais profissionais de uma escola quanto pelos alunos e por sua família.  

Os professores precisam da compreensão da sociedade e, especialmente, do apoio dos pais de seus alunos. Necessitam frequentemente de estímulo da direção da escola. Tem que ter incentivo para estudar, aperfeiçoar ainda mais seus conhecimentos. Devem ingressar na era da informática e adequar suas aulas ao uso das Tecnologias de Informação e Conhecimento (TICs) ao mesmo tempo em que inovem no cotidiano de seu trabalho educacional. 

 É claro que isso exige tempo, investimento, mudança de paradigmas e revisão de posturas sociais arraigadas já há muito tempo. Tanto por parte dos professores como de toda a sociedade. Sabemos também que avanços já estão acontecendo de forma isolada, através de experiências realizadas em unidades educacionais privadas ou públicas. Isso já é um alento. Essas experiências e também os conhecimentos que estão sendo gestados e produzidos nas universidades devem, no entanto, ser socializados mais rapidamente do que são atualmente.  

Há trabalhos que se forem incorporados ao cotidiano escolar das redes públicas ou privadas podem solucionar problemas crônicos das escolas e ajudar a recuperar a auto-estima dos professores. Não conheço educadores que saiam de casa com a deliberada intenção de dar aulas ruins. Sei de pessoas que têm dificuldades por que não puderam se aperfeiçoar, estudar mais. 

 Também já estive em contato com professores que se desiludiram, pois as mudanças e transformações que lhes foram prometidas não ocorreram ou acontecem a um ritmo extremamente lento. Há também os casos, que são numerosos, de professores que se sentem desestimulados justamente porque não tem o devido respeito por sua dignidade profissional, empenho pessoal e vontade de mudar. Em todos esses casos a auto-estima dos educadores vai lá para baixo e, como conseqüência disso, suas aulas são muito inferiores ao que realmente poderiam ser. Trate o professor de seu filho com respeito.  

Dê a ele a devida consideração por seu trabalho. Escute suas ponderações e depois, educadamente, apresente suas dúvidas e questionamentos. Cobre a escola e a rede a qual ela pertence por maiores investimentos na formação desses professores. Elogie as iniciativas bem sucedidas, isso pode estimular esses profissionais da educação a melhorarem ainda mais suas práticas de ensino. A educação e os seus trabalhadores agradecem essa compreensão e se comprometem a fazer sempre o melhor pelos estudantes e também em prol do país… 

 

Por João Luís de Almeida Machado




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