A construção do mito de Zumbi

A construção do mito de Zumbi

A construção do mito de Zumbi é tema de mestrado referencial sobre a História de Palmares

Por: Ana Maria Lopes

Professora em Limeira, Andressa Mercês Barbosa dos Reis é autora de um trabalho acadêmico referencial sobre Zumbi, o herói do Quilombo de Palmares. "Zumbi: historiografia e imagens" é o título da dissertação apresentada para a obtenção do título de Mestre em História na Unesp de Franca, em 2004.

O objetivo geral da pesquisa é fornecer um mapeamento do processo de construção das imagens de Zumbi ao longo da história. Para tanto, abordou-se a ocorrência destas imagens cronologicamente na historiografia, iniciando no século XVII e encerrando em meados do século XX. As fontes coletadas abarcam o período de existência do Quilombo no século XVII até meados do século XX, quando se publicou a obra "Quilombo dos Palmares" de Edison Carneiro no Brasil.

A pesquisadora expllica que a historiografia recente sobre o Quilombo apresenta duas vertentes principais. "A primeira é composta por historiadores marxistas e vinculados aos movimentos de militância negra e a outra vertente provêm das universidades", esclarece Andressa.

A dissertação revela que o principal historiador da corrente marxista foi Décio Freitas, que publicou sua obra "Palmares", em 1971 no Uruguai, traduzindo-a depois, em 1973, para o português. Já entre os acadêmicos, os destaques são o brasilianista Stuart B. Schwartz e a coletânea "Liberdade por um fio", organizada por João José Reis e Flavio dos Santos Gomes.

"Estes estudos não possuem a pretensão de narrar a história total do Quilombo, mas de investigá-la através de recortes temáticos e cronológicos sob as mais diversas linhas interpretativas e metodológicas, numa tentativa de transpor o silêncio e a limitação impostos pela documentação", explica a pesquisadora.

Nestas obras estão os pressupostos que influenciaram a historiografia e colaboraram para a formação da imagem atual de Zumbi e do Quilombo dos Palmares, construídas, segundo a pesquisadora, em três períodos principais.

"O primeiro período da pesquisa corresponde às obras coloniais, de 1640 a 1837, no qual não haveria ainda uma personagem denominada Zumbi e sim o título honorífico de Palmares, o que determinava que poderiam ter existido vários personagens com a designação de Zumbi", esclarece a professora.

Segundo historiadores, o Quilombo foi caracterizado neste período como o principal inimigo da Capitania de Pernambuco após a expulsão da Holanda. Já o segundo período desta história corresponde aos anos de 1838 a 1900. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado em 1838, foi responsável pela publicação de artigos e documentos referentes à história do Quilombo dos Palmares.

Já no terceiro período, vislumbrou-se as mudanças mais significativas. "Zumbi foi reconhecido como o rei mais importante de Palmares, símbolo da resistência e da luta pela liberdade", diz a pesquisadora.Foi a partir da década de 50, que surgiu a figura do negro quilombola, mais guerreiro e rebelde, em contraposição à figura de Ganga-Zumba, que teve sua imagem variando entre o traidor e o inocente que acreditara nas autoridades coloniais.

A dissertação de 148 páginas desvenda a construção do mito de Zumbi e apresenta um mapeamento das rupturas e continuidades desta imagem.

SERVIÇO: "Zumbi: historiografia e imagens", de Andressa Mercês Barbosa dos Reis, está disponível no site Domínio Público e na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Unesp: www.athena.biblioteca.unesp.br

 

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