Avaliando o sistema educacional
Carolina Mainardes
O modelo atual do sistema de ensino brasileiro reflete a política baseada na tendência neoliberal do País, segundo Helena Machado Albuquerque, doutora em Educação, professora do Programa de Pós-graduação em Educação: História, política e sociedade, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Helena, que desenvolve pesquisas nas áreas de gestão, políticas públicas e direitos humanos, conversou com a Gestão Educacional sobre o tema. Acompanhe os principais tópicos destacados pela professora Helena:
Influência
A força externa, a força econômica e a força cultural da sociedade influem na instituição escolar. A tendência neoliberal predomina no mundo inteiro e o Brasil não escapa dessa influência. Essa tendência começou a ser desenvolvida na década de 80 [no Brasil], com o governo Collor, e acentuou-se nas décadas seguintes. As leis do mercado existem e predominam, apesar das mudanças de governantes. Entre os indicadores de que isso acontece, há a noção de que a escola é um sistema fechado, como se ela [a escola] não tivesse a influência do tipo de aluno que recebe, da formação dos seus professores e diretores, do contexto social, do contexto econômico, da violência que existe no entorno da escola.
Formação do professor
Os cursos de formação do professor também sofrem a influência da tendência neoliberal, e são profundamente tecnicistas. Ao analisar as diretrizes curriculares dos cursos de Licenciatura e dos cursos de Pedagogia, percebe-se que a importância está no “como fazer” e não no “por que fazer”, e isso influencia a formação das pessoas, dos profissionais. Aliás, estão deixando de ser profissionais. O professor não tem mais tempo de refletir – até para errar e corrigir –, porque vem tudo imposto para ele, são conteúdos curriculares, são blocos de currículos vendidos (há vários grupos que vendem os sistemas para as escolas), e as avaliações externas, cuja ideia é melhorar a qualidade da escola, mas que no fundo geram autoavaliação contínua, angústia, competição entre os professores, que em algumas escolas recebem bônus dependendo da atuação. Há competição e conflito de professor com diretor. Algumas escolas, apesar de tudo, inovam e conseguem fazer um bom trabalho.
Desvalorização
Há uma total desvalorização do magistério, e é tudo pela submissão às leis de mercado. “Veja a luta que está, em relação ao Plano Nacional de Educação, para aumentar a porcentagem [de investimentos] para educação. Os governantes deveriam canalizar muito mais verbas para a educação”, afirma Helena. Em qualquer Estado, fala-se em autonomia da escola – a própria LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação], no artigo 15, fala da autonomia da escola. Essa autonomia é entendida como jogar verbas para a escola. Só que muitas dessas verbas já vêm amarradas, ou seja, elas vêm com destino específico. O diretor da escola não fez curso de Contabilidade, mas ele tem que entender de contabilidade. Tudo isso em razão de o que vale é o custo-benefício do aluno.
Nova cultura
Não se trata de uma nova cultura, trata-se de uma nova postura que depois vai gerar uma nova cultura. A ação externa é tão forte que acabou fazendo com que o professor ficasse angustiado e desacreditado nele mesmo. Isso é o que tem que ser recuperado. Mas não com a formação técnica que eles [os professores] estão tendo, com espaço para reflexão negado e com conteúdos prontos para desenvolver, nos locais de trabalho. É uma violência contra o professor não acreditar nele. Não há como recuperar a qualidade do ensino se não for feita uma recuperação anterior do professor, da postura do professor, da crença dele no seu valor. Para isso, deve-se dar mais autonomia ao professor, dar mais tempo para ele refletir, criticar e decidir sobre o seu próprio trabalho. E, naturalmente, isso vai gerar uma nova cultura. A escola tem que ser completamente revitalizada e a renovação deve começar pelos educadores que trabalham nela.
Matéria publicada na edição de agosto de 2013.