Um novo olhar sobre os resultados

Um novo olhar sobre os resultados

Escrito por Melina Pockrandt

 

Com o objetivo de avaliar a qualidade da educação no Brasil, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) dispõe de vários instrumentos, entre eles a Prova Brasil, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e também o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com os resultados das duas primeiras avaliações, o Inep calcula o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de cada instituição e, assim, o Ministério da Educação (MEC) e as secretarias de Educação definem novas estratégias de repasse de recursos financeiros e técnicos a escolas da rede pública. Por outro lado, as redes privadas beneficiam-se de altas notas no Enem em campanhas publicitárias. Mas, até que ponto, cada gestor pode usar esses resultados em benefício da qualidade de ensino de seus alunos?

Amaury Gremaud, professor da Universidade de São Paulo (USP) que já foi diretor do Inep e hoje é presidente do Conselho Consultivo da Avalia Educacional – empresa especializada na avaliação de escolas e sistemas de ensino –, ressalta a importância dessas avaliações. “Esses instrumentos foram criados para haver um parâmetro, um indicador do nível de ensino em âmbito nacional e para fazer um diagnóstico dos problemas de qualidade educacional”, diz.

Para o especialista em Avaliação Educacional, José Francisco Soares, pós-doutor em Educação e membro do Conselho Consultivo do Inep, a Prova Brasil consiste em uma forma de verificar se o direito a aprender, que é a expressão do direito da educação, está sendo atendido. “O Ideb é um indicador de qualidade da escola que junta aos resultados da Prova Brasil indicadores de aprovação, repetência e abandono. Esse indicador tornou-se a bússola do ensino fundamental no Brasil”, considera.

Tendo em vista sua importância, os especialistas afirmam ser necessário que as instituições utilizem melhor os resultados dessas avaliações, não para promoção externa, mas para mudança interna. “Por serem limitadas do ponto de vista do conteúdo, e bastante criticadas, muitos gestores simplesmente engavetam esses resultados e não procuram interpretá-los. É preciso, sim, considerá-los. São informações e toda informação sobre a instituição é relevante para a gestão escolar”, considera Gremaud.

Para Soares, o resultado dessas avaliações permite que a escola conheça o desempenho dos seus alunos e, assim, proporcione novas oportunidades de aprendizado para desenvolvimento de conhecimentos e habilidades deficientes. “A avaliação mostra o quadro real do aprendizado dos alunos de cada escola. Naturalmente, essa informação deve impactar o planejamento. Isso, no entanto, ainda é raro. Nossas escolas, por várias razões, ainda não utilizam as preciosas informações disponíveis sobre o aprendizado de seus alunos”, opina.

Gremaud considera, ainda, que essas avaliações têm diversas limitações e não podem ser simplesmente aceitas sem reservas. “São cobradas, basicamente, habilidades de leitura e resolução de problemas, não abrangendo tudo o que uma escola faz. Por mais que seja fundamental o Português e a Matemática como base para uma boa educação, não se podem considerar esses resultados como único parâmetro de qualidade escolar”, adverte. Por isso, ele afirma que é fundamental o gestor conhecer a fundo o que é considerado nas diferentes avaliações, quais conhecimentos e habilidades cada uma contempla, para que entenda qual é o peso que ela representa em sua instituição. “É importante refletir sobre o motivo de um resultado ruim e contextualizar a prova dentro da proposta da escola. Muitas vezes, o que foi cobrado do aluno não está – apesar de ser uma média nacional – de acordo com o esperado para o estudante daquela idade dentro do projeto pedagógico de determinada instituição. Mas se você planejou esse resultado – o que seria cobrado – e não foi atingido, então, é preciso discutir com equipe e alunos onde há a falha”, salienta.

Comparação

Especialistas concordam que um dos primeiros passos para a utilização dos resultados é a comparação. A escola não deve observar sua nota isoladamente ou observando as melhores ou mesmo a média nacional. Deve-se buscar comparar sua nota com a de outra instituição que tenha o mesmo perfil de aluno que o seu. “Encontre um conjunto de escolas semelhantes: que esteja localizada em uma região como a sua e com alunos do mesmo nível socioeconômico”, orienta Gremaud. Com essa comparação, ele afirma que é possível levantar possíveis motivos para notas melhores ou piores: aspectos como infraestrutura, experiência do corpo docente, quantidade de alunos por professor, entre outros.

Para Soares, o gestor é o responsável maior pelo aprendizado dos alunos de sua escola e, portanto, deve ser o primeiro a fazer uma análise completa dos resultados. Na opinião do especialista, o gestor deve estimular a comunidade escolar a participar do processo de reflexão e autoanálise. Professores, alunos e funcionários também devem apontar motivos que podem ser a causa do mau desempenho, tanto fatores que a instituição pode melhorar quanto aqueles que fogem do controle da escola. “Em alguns casos, pode ser necessária até mesmo a avaliação externa de um profissional independente e sem vínculo com a instituição”, comenta Gremaud.

A análise dos gestores, complementada pela visão dos professores, deve trazer um diagnóstico sobre quais são os conhecimentos e capacidades que seus alunos não dominam. “E esse informação objetiva deve se transformar em ação. Encontrar com os professores as mudanças no ‘que ensinar’ e no ‘como ensinar’, que vão possibilitar uma mudança no aprendizado”, afirma Soares. Para ele, é um esforço coletivo traduzir os números das avaliações em uma linguagem curricular e mudanças no planejamento da escola.

Use os resultados a seu favor

Conheça: saiba o que é cada avaliação e o que suas questões abrangem.

Compare: selecione escolas que tenham o mesmo perfil de alunos que a sua e compare os resultados para saber se você está aquém ou além da média do seu nicho de trabalho.

Reflita: tente entender as razões para as notas ruins e para as notas boas.

Envolva: divulgue o resultado para a comunidade escolar e inclua-os na autoavaliação para que professores, coordenadores, funcionários, alunos e pais apontem os pontos fortes e fracos da escola e também sugiram mudanças.

Planeje: faça um planejamento com ações de mudança para fortalecer áreas em que seus alunos tiveram pior desempenho. Mas reforce as ações que têm dado certo, estimulando os estudantes com aprofundamento e desafio nas áreas em que as notas foram adequadas ou avançadas.

Acompanhe: garanta que as ações planejadas sejam colocadas em prática e não deixe de acompanhar os resultados das próximas avaliações.

Não se acomode: José Francisco Soares sugere ações diretamente relacionadas aos conceitos atribuídos aos alunos: Insuficiente, Básico, Adequado e Avançado. Para cada um desses grupos, a escola deve oferecer oportunidades, respectivamente, de: recuperação, reforço, aprofundamento e desafio. Assim, a instituição se propõe a não apenas ajudar quem está com o desempenho ruim, mas também a continuar motivando aqueles que já alcançaram bom resultado.

 

Matéria publicada na edição de julho de 2013.

http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/especiais/sucesso-escolar/389-um-novo-olhar-sobre-os-resultados




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