Respeito ao próximo
Escrito por Fábio Torres
Segundo o professor de Psicologia da Universidade de Nova Iorque, Martin L. Hoffman, a empatia é a resposta afetiva relativa à situação de outras pessoas, ou seja, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação. O termo foi usado pela primeira vez no início do século XX, pelo filósofo alemão Theodor Lipps, para indicar a relação entre o artista e o espectador que se coloca dentro da obra de arte. Na Psicologia e nas Neurociências contemporâneas, a empatia é uma espécie de inteligência emocional e pode ser dividida em dois tipos: a cognitiva – relacionada à capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas; e a afetiva – relacionada à habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia. Devido a tais características, a empatia é uma importante aliada no combate ao bullying e deve ser desenvolvida desde a infância.
“No início da década de 90, os neurocientistas descobriram os ‘neurônios-espelho’, que começam a se desenvolver um pouco antes do segundo ano de vida e são considerados a base fisiológica da empatia. Portanto, desde a educação infantil, é possível utilizar centenas de situações do dia a dia na família e na escola para trabalhar o ‘circuito interativo’, que desenvolve a capacidade de se colocar no lugar do outro, cultivando o respeito e a consideração”, afirma a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora dos livros A face oculta: Uma história de bullying e cyberbullying (Editora Saraiva) e um dos vencedores do prêmio Jabuti em 2012, Bullying e cyberbullying: O que fazemos com o que fazem conosco? (Editora Moderna).
De acordo com Maria Tereza, o melhor jeito de incentivar o desenvolvimento da empatia nos pequenos educandos é por meio de situações que promovam a reflexão entre eles, cenários “que envolvam o processo no qual um facilitador encoraja os alunos a dizerem o que os incomodou no convívio escolar naquela semana e refletir sobre recursos que poderiam conduzir a resultados mais favoráveis nas interações” (Veja abaixo mais sugestões de atividades).
Para a psicóloga, como a empatia é o ato do agressor se colocar no lugar do agredido, ela se torna uma peça fundamental no combate ao bullying e ao cyberbullying. “Ao desenvolver o olhar para o outro, aprendemos a respeitá-lo. Então, o argumento clássico do autor de bullying: ‘mas eu só estava brincando!’, perde a validade quando se percebe que brincadeira é quando todos se divertem, mas quando alguém se diverte provocando constrangimento ou humilhação nos outros, isso é agressão e deixa de ser um comportamento aceitável”, afirma Maria Tereza.
Outras medidas importantes para coibir as práticas agressivas entre os alunos é procurar saber se o agressor já foi vítima de bullying no passado. “Como se trata de um trabalho com a rede de relacionamentos, é essencial entender que pessoas que praticam, sofrem e observam episódios de bullying podem passar de uma posição para outra”, acredita a psicóloga, que complementa: “mostrar que entendemos o que se passa com o autor de bullying, ao mesmo tempo em que expressamos firmemente que ações dessa ordem não serão toleradas, é o primeiro passo para trabalhar a empatia nesses casos. É importante sentir-se compreendido para, então, compreender os outros”. Maria Tereza ainda afirma que, dependendo da situação, é possível que o próprio agressor ajude a conscientizar os colegas. Por exemplo, se um aluno faz um vídeo ridicularizando um amigo, esse mesmo estudante pode criar um vídeo para alertar os outros jovens dos perigos e riscos do cyberbullying.
Família: aliada
Para Maria Tereza Maldonado, a escola pode e deve solicitar o apoio da família durante o processo de desenvolvimento da empatia. “Quando a prevenção e o combate ao bullying passam a ser vistos como um trabalho de longa duração e não apenas como campanhas pontuais, acabam sendo inseridos no projeto pedagógico da escola, e a família é chamada a participar. Quanto mais ampla for a rede de relacionamentos, melhores serão os resultados desse trabalho. Famílias, alunos e toda a equipe escolar precisam se conscientizar de suas respectivas funções para a educação em valores fundamentais do convívio, o elemento essencial na prevenção ao bullying”, afirma a psicóloga.
De acordo com a autora, o melhor caminho para a escola e a família trabalharem em conjunto nos procedimentos de conscientização é estabelecer um “contrato de corresponsabilidade”. “Algumas escolas que passaram a inserir a prevenção e o combate ao bullying no projeto pedagógico estão adotando a prática de um contrato de convivência em que fica claro que as ações de bullying não serão toleradas, explicita as ações voltadas para esse objetivo e demanda a participação da família nesse processo”, explica a psicóloga.
Atividades para desenvolver a empatia
A psicóloga Maria Tereza Maldonado sugere atividades que podem ser usadas no processo de desenvolvimento da empatia para o combate ao bullying e ao cyberbullying. Confira:
- Exercícios de teatro em que há troca de papéis;
- Rodas de conversa, momento de convivência ou situações semelhantes nas quais um mediador incentiva os alunos a dizerem o que os incomodou naquela semana;
- Criar oportunidades para “reescrever” episódios de desrespeito, agressões ou desconsideração, pensando como a mesma situação poderia ser resolvida de outra forma – “O que poderia ter sido feito em vez de...?”;
- Colocar a proposta de desenvolver a empatia para os próprios alunos, que poderão gerar ideias criativas para que isso ocorra.
Matéria publicada na edição de junho de 2013.
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