A pergunta que persiste

A pergunta que persiste

A pergunta que persiste: por que um blog?!

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Hoje assisti ao filme Histórias Cruzadas[1] e, em meio aos absurdos do racismo, uma fala, em especial, instigou a minha reflexão. A personagem Eugenia “Skeeter” Phelan (Emma Stone) deseja fazer algo diferente, escrever algo que vale a pena. Sim, ela fez diferença. Isto me faz pensar sobre os meus humildes e despretensiosos escritos. Será que vale a pena? Faz alguma diferença? Ou será que termino por cair na mesmice? Será que sou prisioneiro inconsciente de um autoengano alimentado por um surto narcísico não assumido? Neste caso, querer fazer a diferença não é muita pretensão?

Comecei a escrever este blog sem maiores pretensões. A ideia inicial era apenas ter um espaço para compartilhar reflexões sobre a vida e a práxis docente com potenciais leitores: alunos e ex-alunos, amigos, colegas, familiares e outros que porventura despertassem o interesse em ler. O blog conquistou leitores e assumiu proporções que não imaginei.[2] Retomo o primeiro post, pois é uma espécie de declaração de intenções e, sobretudo, expressa a busca de respostas que justifiquem o esforço de manter o blog:

Por que escrever? Para registrar experiências cotidianas? Para revigorar um dos passatempos mais antigos da humanidade: o falar de si mesmo e dos outros? Seria a necessidade do ego, também tão antiga quanto o mito de narciso? Por que, enfim, se expor? O costume humano a lutar contra o esquecimento é uma tradição que remonta à oralidade. A tecnologia contribui para isto.

Escrever é conversar consigo mesmo e com os outros; é organizar idéias e abrir a mente ao diálogo com o “feito”, o “falado” e aquilo que os olhos e os ouvidos nos transmitem. Devemos estar abertos a aprender com a própria experiência e, escrever sobre o que lemos, ouvimos e vivemos, é também uma forma de aprofundar este aprendizado. Esta disposição ao diálogo, a aprender com o mundo e os que vivem no mundo, é fundamental a quem se propõe a ensinar. O educador precisa ser educado e este processo é permanente.

Escrever é lutar contra a natureza, isto é, contra a potencial perda de memória que avança com o passar dos anos. Escrever é, simplesmente, uma necessidade – em especial quanto a mente parece enredada num turbilhão de idéias.

Eis o que espero ao utilizar este recurso. Que este espaço seja mais uma possibilidade para aprender-ensinar, dialogar, compartilhar idéias; que seja um espaço de reflexão, crítica e autocrítica permanente da prática docente.[3]

Estas palavras se mantêm atuais. A inquietação também! Nestes anos, consegui manter o propósito de escrever semanalmente, às vezes também escrevendo às quartas-feiras. Foi um compromisso que assumi com os leitores. Mas, admito, não tem sido fácil mantê-lo. Escrever exige dedicação, tempo, inspiração e respeito. As palavras precisam ser pensadas, repensadas, organizadas de forma a dar coerência e transmitir algo que fale diretamente ao leitor. Palavras são pontes que comunicam sentimentos, ideias, etc. Mas as pontes precisam ser bem construídas, com carinho e consideração. Do contrário, tem o efeito oposto: palavras também tem potencial destrutivo, podem se revelar explosivas e destruir pontes.

É necessário, portanto, muito cuidado com as palavras – elas podem machucar, podem explodir as pontes que estabelecemos com muito esforço. Tanto podemos decepcionar, quanto nos decepcionarmos. Há momentos, porém, que as palavras se ausentam, tornam-se vazias de sentido ou simplesmente não há o que dizer. Não obstante, há o compromisso de escrever e, ao mesmo tempo, o respeito ao leitor indica que o escrito não pode ser apenas palavras dispostas na página em branco. Mas, o que escrever? Quando esta pergunta se impõe, a resposta sugere questões essenciais que me fazem pensar! Afinal, por que e para que escrever em um blog?

 


[1] Título original: The Help (EUA, 2011, 137 min. Direção: Tate Taylor).

[2] No momento são 7.316 seguidores, ou seja, leitores que se cadastraram e recebem as atualizações por email; fora estes, houve 320.539 acessos até o instante em que escrevo.




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