Professores: sentados

Professores: sentados

Professores: sentados, a aula vai começar!

 

Escrito por Melina Pockrandt


“Nada é tão bom que não possa ser melhorado”. Esse deve ser o lema das escolas que estão dispostas a aperfeiçoarem-se continuamente. E nesse processo – com o objetivo de ser uma “escola que aprende” – as instituições devem sempre reavaliar sua prática educacional.

“O ideal é que a escola tenha um processo permanente de avaliação institucional, utilizando-se de indicadores pedagógicos, administrativos, estruturais e estratégicos”, comenta a pedagoga Débora Dias Gomes, mestre em Engenharia de Produção e autora do livro MBA Educação – A gestão estratégica na escola que aprende (Qualitymark).Para Débora, a escola, que sempre foi reconhecida por sua função de ensinar, agora também precisa se colocar na posição de aprender, “tendo a convicção de que trabalhar e estudar são dois lados de uma mesma moeda”. Assim, será diminuído o hiato entre as intenções da escola e suas ações efetivas, trazendo benefícios para professores e alunos.

Paty Fonte, educadora especialista em Pedagogia de Projetos, escritora e palestrante, afirma que a formação continuada dos professores é um dos maiores desafios da escola em constante melhoria. “Para ter um ensino qualificado, é fundamental tempo e espaço para refletir, trocar experiências, aprofundar conhecimentos, sanar dúvidas. Somente assim, o professor sentirá segurança para desenvolver seu trabalho. Por isso, é essencial que as escolas invistam na formação continuada de sua equipe”, avalia a especialista que também é tutora em cursos para docentes.

Mais do que simplesmente fornecer estratégias e ferramentas, os programas de educação continuada permitem que os professores exerçam a reflexão sobre o seu trabalho, buscando formas de melhorias para garantir a eficácia da sua atividade. E todo o ambiente escolar deve proporcionar a formação contínua, pois, segundo Débora, o desenvolvimento das pessoas não ocorre por acaso ou somente com treinamentos em hora, dia e local marcado. “Reuniões de trabalho e planejamento, sala dos professores, refeitório, encontros, grupo de estudos, pátios; enfim, todos esses espaços são transformados em ambientes de aprendizagem. Um espaço sistematizado institucionalmente para desenvolver as competências e habilidades de todos os seus atores”, afirma.

Esse ambiente aberto à constante avaliação contribui para a reflexão diária da equipe sobre o seu trabalho, tornando mais fácil e eficaz o processo de aprendizado da escola e prevenindo crises.  “A cada aula, o professor deve refletir sobre sua prática, registrar pontos positivos e negativos, planejar novas estratégias. O ideal não é esperar ter um problema sério para resolver, mas inserir no cotidiano da instituição momentos de trocas de experiências, reflexão, pesquisas e debates”, comenta Paty.

Proporcionar aos docentes essas oportunidades de aprendizado demonstra um interesse real da instituição pelo crescimento profissional da sua equipe, valorizando o colaborador e, por consequência, motivando-o para o trabalho. Entre os benefícios da prática, Paty aponta o aumento da autoestima dos educadores, o desenvolvimento da criatividade e o aumento do respeito mútuo entre professores e alunos.

Na prática

Transformar-se em uma escola que aprende significa oferecer oportunidades contínuas de formação para a equipe da instituição, e esse é um esforço que o gestor deve fazer em prol de seus colaboradores e alunos. “O gestor é responsável por propiciar tais encontros de capacitação e formação continuada. Deve buscar ajuda de profissionais de outras instituições, promover palestras, oficinas, debates e cursos, objetivando ampliar a visão de sua equipe, valorizando diferentes opiniões e analisando olhares distintos”, comenta Paty Fonte.

Cada instituição deve elaborar um roteiro de trabalho que atenda sua realidade. Propor vivências, dinâmicas, debates, apresentação de projetos já desenvolvidos com êxito, levantamento de questões para pesquisa, reflexão e análise. “Uma prática que costuma ser eficaz é organizar entre os docentes grupos de pesquisa e estudo, alternando a apresentação de cada um, transmitindo à própria equipe a responsabilidade de orientar e inovar”, sugere Paty.

Ela lembra, entretanto, que é fundamental o estabelecimento de um ambiente contínuo que favoreça o aprendizado constante pela troca de experiências – e não apenas momentos e eventos –, e isso se dá pela valorização do profissional. “Deve-se partir do princípio de que em educação, como em qualquer outro setor profissional, a valorização do ser deve vir antes de qualquer coisa. O professor precisa se sentir à vontade para expor dificuldades, receios e dúvidas”, orienta.

Débora concorda que a escola deve ser um lugar onde as diferenças individuais são respeitadas e que haja interação entre as diferentes percepções sobre o cotidiano escolar. Além disso, ela avalia ser fundamental integrar os indivíduos com os objetivos institucionais, disseminando de forma clara a missão, a visão, os valores e a crença da escola. E, acima de tudo, “o gestor precisa ser exemplo, estar aberto ao que é novo e disponível para aprender sempre”.

Resistência

A obrigação em participar dos encontros, não encontrar sentido nas programações e não ser remunerado pelas horas extras de treinamento são alguns dos motivos que podem criar resistência dos professores em relação aos programas de educação continuada, prejudicando inclusive o resultado das ações. Para vencer essa barreira, o gestor precisa promover o diálogo, mantendo uma comunicação clara e aberta. “As situações de resistência da equipe devem ser trabalhadas com persistência, paciência e humildade intelectual. Atuar na formação de coletivos diminui resistências e institui um ambiente de construção cooperativa. Deve-se promover fóruns de discussão, negociação, capacitação, enfim, aprendizagem em grupo”, aconselha Débora.

Para Paty Fonte, outro fator que contribui para a resistência docente é o temor que as mudanças e estratégias possam gerar um clima muito informal em sala de aula. “Os professores sentem-se desconfortáveis em permitir que os alunos sejam mais autônomos e participativos. Muitos docentes ainda acreditam na padronização, gostam da disciplina rígida, das cadeiras enfileiradas, das cópias e decorebas. Sair da postura de detentor do saber absoluto e colocar-se como orientador assusta os docentes e são comuns as reclamações. Muitos afirmam que não sabem trabalhar dessa forma”, comenta.

Buscando acolher o profissional, é fundamental ouvir as dificuldades, mas também motivá-lo a desenvolver as habilidades que lhe faltam, mostrando a capacidade que tem de fazê-lo. “Acredito que o processo ensino-aprendizagem só é eficaz se for realizado com paixão e entusiasmo, tanto pelo professor que ensina como pelo aluno que aprende. Para tal, é importante incentivar os docentes a ousarem sem medo. Por meio de exemplos verídicos, buscar resgatar a autoestima e a autoconfiança nos educadores, construindo um ambiente saudável na comunidade escolar”, diz Paty.

A escola que aprende

Confira as dicas das educadoras Paty Fonte e Débora Dias Gomes para estimular em sua equipe o processo de formação contínua:

- Elaborar um roteiro de trabalho: propor vivências, dinâmicas, debates, apresentação de projetos, questões para pesquisa, reflexão e análise.

- O gestor deve transmitir à equipe a responsabilidade de orientar e inovar.

- O professor deve refletir sobre sua prática, registrar pontos positivos e negativos, planejar novas estratégias.

- Inserir no cotidiano da instituição momentos de trocas de experiências e debates.

- O gestor deve promover o diálogo, mantendo uma comunicação clara e aberta.

- O gestor deve acolher o profissional, ouvir suas dificuldades e motivá-lo a desenvolver as habilidades que lhe faltam.

- Devem ser promovidos fóruns de discussão, negociação, capacitação, enfim, aprendizagem em grupo.

- Adotar programas de educação continuada.

- Incentivar os docentes a ousarem sem medo.

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