Alô Tarso!

Alô Tarso!

Aqui quem fala é João Hermínio Marques, presidente da Frente Nacional dos Torcedores. Nosso movimento, por óbvio, além de lutar por um futebol justo, democrático e popular, ou seja, contra a máfia da bola e por mais democracia nas instâncias decisórias do esporte, que outrora já foi do povo (e que queremos retomar), luta, também, pela defesa dos direitos e interesses dos torcedores. Nesse sentido, mais do que clara a nossa preocupação pelo assunto da segurança pública nos jogos.

Não é a primeira vez, mas espero seja última a falar contigo sobre abuso policial, truculência e despreparo da Brigada Militar. Evidentemente que gostaria nunca mais escutar, ver, presenciar ou ler sobre episódios de abuso policial no cotidiano social, especialmente nas vilas e favelas onde esses horrendos casos são mais recorrentes. Contudo, considerando minha posição de representante da arquibancada, admito que já esboce um sorriso caso de fato o acontecimento de domingo na Arena do Grêmio, momentos antes da partida entre Grêmio e Fluminense, válida pelo campeonato brasileiro, seja o derradeiro caso de abuso policial em jogo de futebol no Rio Grande do Sul, para que então, nossa legítima pauta reivindicatória seja atendida por definitivo.

Os torcedores já estão cansados do estado de exceção imposto nos estádios do Rio Grande do Sul. Sem entrar no embate sobre o estatuto do torcedor, haja vista que lutamos por profundas reformas no referido diploma legal, ficamos atentos somente aos desvios comportamentais, eufemisticamente (claro), da tropa comandada pelo senhor. Certa vez escutei pessoalmente do Coronel Fábio Duarte acerca do desejo governamental pela retirada da Brigada Militar nos estádios. Certa vez escutei o senhor falar sobre a instalação da tal “Câmara de justiça restaurativa. Até hoje esperamos boa conduta dos comandados do Coronel, bem como esperamos ansiosamente esse tal fórum de denúncias e resoluções justas e céleres do Governo para os casos de abusos policiais.

Enquanto nada disso acontece, seguimos na prática uma relação de tensão em dia jogo de futebol. Inaceitavelmente, o que era pra ser lazer do trabalhador tornou-se espaço para descarrego das raivas e iras de seus comandados. Além disso, percebe-se claramente que as tropas escaladas para os jogos estão cada vez mais submissas às vontades e interesses dos empresários que comandam os estádios. E, na busca da elitização e da teatralização das novas arenas, os empresários pedem uma postura ostensiva e agressiva às tropas no sentido de sufocar as torcidas, asfixiando a cultura torcedora, matando o último suspiro do verdadeiro futebol dentro dos pós-modernos teatros de elite. Ilegais regulamentações do estatuto do torcedor são feitas pelo policiamento da capital, o tempo inteiro, criando invencionices tais como proibir uso de muletas e proporcionalizar quantidade de materiais festivos pelo número de cadastrados de cada torcida, coisas que não estão na lei. Mas, nos estádios gaúchos, a lei quem faz é a Brigada. Não por acaso acreditamos que seus comandados agem na defesa de interesses da máfia do futebol, e assim, estão fragilizando ainda mais seu governo.

Para seguir nas ações persecutórias contra as torcidas, vale tudo! Vale, inclusive, contrariando o estado democrático de direito, praticar o nazista direito penal do inimigo! Vale sair imputando nos torcedores a contravenção penal de conduta inconveniente, ignorando totalmente a inconstitucionalidade flagrante da lei de contravenção penal. Aliás, saber a inconstitucionalidade, talvez saibam, mas forçar a barra somente para gerar conflito, irritabilidade e dor de cabeça nos torcedores, é a vontade da polícia militar. O senhor, como advogado, não poderia prontamente ensinar os brigadianos de inteligência escassa, ao menos informando a origem ditatorial varguista da lei de contravenções penais?

Pois, inexiste conduta inconveniente maior do que a ação despreparada de vossos comandados. Inexiste conduta inconveniente maior do que a perceptível inabilidade dos comandantes da BM para, obviamente, comandar a tropa militar insubordinada, patológica e sem rumo. Os policias militares parecem ser treinados para uma permanente guerra, que na doentia teoria de suas formações, seria guerra contra o crime, porém na prática cotidiana vira guerra contra o povo. É de vexatória incompetência o governo petista não conseguir mudar a doutrina direitosa, conservadora e fascistóide que determina a linha política da Brigada Militar. Destarte, nesse aspecto não há distinção entre o governador, militante da democracia nos tempos de chumbo, da senhora neoliberal (projetinho fracassado de Margaret Thatcher dos pampas) e de tantos outros governadores da assumida direita. Não há distinção nesse aspecto. Caro governador, reflita sobre isso!

A desmilitarização da Brigada Militar não é bandeira surreal militantesca, ao contrário, é uma orientação acertada para desmantelar a podridão militarista no seio da segurança pública. A segurança pública deve ser formada e pensada para a proteção humana e para a cidadania, não para a guerra. De militar já basta o exército. Todavia, pede-se aqui algo menor, e algo extremamente possível e imediato: a retirada da Brigada Militar dos estádios gaúchos.

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Diante do cenário de turbulência, considerando que futebol seja um lazer, considerando o histórico de atrocidades e incompetência da Brigada Militar e de seus comandantes, e igualmente, levando em consideração a vontade do Comandante Geral da Brigada Militar, tem-se imperiosa a imediata retirada da Brigada Militar dos estádios de futebol do Rio Grande do Sul. Motivo justo não falta para tomar essa decisão, afinal, basta lembrar que os jogos de futebol são eventos privados, ora exercidos por clubes que são associações privadas, ora jogados em estádios que são ambientes privados, com lucros altos em decorrência de ingressos, infelizmente, abusivos. Por que manter a segurança pública? Por que os organizadores não realizam sua própria segurança? Sabemos que os clubes, por razões econômicas, devem chorar. Mas, antes a corja de cartolas que não presta conta, que não tem qualquer transparência, chorando por migalhas, do que as mães de torcedores chorando.

Mais fácil cobrar providências no clube contra seguranças abusados e despreparados do que cobrar do governo, de corregedorias extremamente corporativistas, de secretários covardes que não conseguem derrotar a hegemonia direitosa, o despreparo fascista e o culto à violência bélica, que claramente pautam a linha política da Brigada Militar desde muito.

Antes de desligar a ligação, gostaria de exigir uma audiência pública com todos os envolvidos para cuidar do tema. Da mesma maneira, exigimos uma apuração transparente, sem vícios corporativistas, acerca do ocorrido, com justa punição para os envolvidos. Por tudo, é urgente a queda do seu Vieira, ora Major do Batalhão de Operações Especiais (quanta especialização…), devido sua absoluta incompetência e baixa capacidade cognitiva. Igualmente, já passou da hora para a segurança pública de seu governo, a mesma que “visa proteger a vida humana (segundo o senhor), agir com proatividade, identificando, em costura, todas as fardas de todos os policiais militares, para que não mais ocorram domingos quase sangrentos, como o último, quando todos os policiais envolvidos não estavam identificados. O que é pior: manifestante com máscara ou policial sem identificação?

Passar bem Tarso! Passar bem, porque eu e toda a arquibancada gaúcha não estamos nada bem! Esperamos retorno positivo. Enquanto isso, vamos lutando para mudar o estatuto do torcedor e criar uma nova lei contra abuso policial. Não furtaremos da luta social para que o futebol possa respirar mais democracia, e menos restos mortais da ditadura, afinal Marin e Brigada Militar são verdadeiras cinzas dos anos de chumbo. Precisamos acabar com esses resquícios! O futebol precisa respirar democracia.

Aliás, por favor, o senhor permitirá que durante seu Governo aconteça o primeiro Grenal de torcida única, em plena demonstração de fracasso da cidadania diante da violência forjada e provocada por sua polícia? Esperamos que o senhor não permita essa crueldade com a história do futebol gaúcho. (*)

E, se nada mudar, aviso: ninguém vai nos segurar! Nem a BM!

Total solidariedade ao Gaúcho da Geral (torcedor Juliano Franczak, que não possui qualquer condenação criminal, tendo notório comportamento festivo, e sendo nacionalmente conhecido como ícone gremista e bairrista. Inaceitavelmente tem sofrido perseguição de Bandidos Militares)!

Pela célere apuração e punição dos brigadianos envolvidos!

Pela queda do seu Vieira, ora Major!

Pela identificação policial costurada em todas as fardas!

Pela retirada da Brigada Militar dos estádios!

Fora BM truculenta!


(*) Texto escrito antes da decisão desta quarta-feira (31/07), que permitiu o ingresso de 1500 torcedores do Inter na Arena Tricolor.

João Hermínio Marques é presidente da Frente Nacional dos Torcedores, advogado e aventureiro em blog (http://enfrentandobatalhoes.blogspot.com.br/)

 

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