Alfabetização no momento ótimo
por Dirce Brasil Ferrari*
No momento em que o país analisa a educação e propõe metas para alfabetizar, por que colocar até os oito anos (terceiro ano escolar), se sabemos que isso pode e deve ocorrer bem antes, com vários benefícios? Vamos ao encontro do desenvolvimento natural, o que é mais fácil e produtivo.
Nos estudos que fiz e na experiência durante nove anos com crianças, em um trabalho de base para minha tese de doutorado e no estágio como “normalista”, constatei que existe em todas as aprendizagens um “momento ótimo”. Por exemplo, para aprender a dirigir, aprender línguas estrangeiras. É o momento em que há entusiasmo e maior facilidade.
Então, verifiquei que crianças de cinco e seis anos aprendem a ler com grande facilidade, rapidamente e com prazer. O método tem de ser de acordo com a idade, e é a criança quem demonstra ao professor se ela está “pronta”.
A aprendizagem se faz de uma forma natural, uma vez que a leitura é uma função do cérebro. Mas, às vezes, o que nós fixamos “antes” vai até mesmo contra o seu desenvolvimento natural e a sua percepção. A criança vê as coisas de uma forma “global”; uma “maçã” é uma “maçã”. O professor é um organizador, facilitador e incentivador. São papéis bem marcantes. Dê, como professor ou pai ou mãe, para a criança o que “tem sentido”. Exemplo: “casa”, “mamãe” e “bola”. A letra teria algum sentido? Exemplo: “k”, “z”, “h”. O que é um “x”? Um “h mudo”?
Palavras inteiras do contexto infantil têm sentido. Depois se separam os “pedaços” com tesoura, cortando concretamente. Nós armamos e desarmamos as palavras. Por último as vogais... E quem sabe mais tarde o alfabeto, caso elas precisem ainda de uma lista telefônica! Existe ainda?
E a forma das letras não tem problema. É aquela que se vê na Zero Hora, nos computadores e nos livros. Estas são as necessárias no mundo de hoje. E aí você vai ver que o tempo certamente vai ser de sete a oito meses, um pouquinho mais ou até menos, porque nenhuma aprendizagem deve levar muito tempo, a criança cansa, perde o entusiasmo. Então por que esperar até oito anos?
Ganham as crianças um mundo imenso ao seu dispor, de fadas, duendes, aventura e informação. Ganha o Brasil com crianças alfabetizadas mais cedo, portanto é até mesmo mais econômico. E sem “tropeços”, lendo bem e entendendo o sentido. Assim eu constatei em minha tese de doutorado. Amo alfabetizar crianças, é fascinante. Tive experiências com crianças de vários níveis sociais e tenho hoje o orgulho de ter muitos alunos em altos cargos e profissões. Obrigado a eles.
*Doutora em Educação, livre-docente em didática PUC/UFRGS
Zero Hora