UFRGS: resiste!
Eduardo Guazzelli*
Seria imprescindível, no contexto social tão competitivo em que vivemos hoje, que processos de seleção adequados e confiáveis fossem adotados pelas universidades. A UFRGS, uma das melhores universidades do Brasil, que até hoje vem selecionando profissionais bem qualificados e valorizados no mercado de trabalho, não deveria deixar que sua prova positivamente conteudista e coerente fosse substituída por tantas fraudes e falhas que vimos acompanhando nesses últimos anos. Como representante do protesto contra a adoção do Enem como etapa única no vestibular da UFRGS, considero que um dos principais fatores para a não adesão a tal exame seja a supercentralização. Nós, estudantes, somos envolvidos pela história, geografia e literatura do nosso Estado e, por meio desses conteúdos trabalhados, conseguimos entender mais a história do nosso Estado e do nosso país, porém o Enem impede que tais assuntos sejam tratados de maneira objetiva na prova, desqualificando o estudo de diversos estudantes. Para a resolução dessa questão, seria necessária a adoção de um Enem regional, o que é totalmente inviável: faltam vontade política e consciência pedagógica.
Outro fator preocupante é a proposta do MEC em relação à fusão de disciplinas do Ensino Médio. A consequência de transformar todas as disciplinas em quatro áreas, tanto no Enem quanto nas escolas, é a intervenção direta no trabalho dos professores, que recebem outra formação. Os professores já têm dificuldade em preparar seus alunos quando se fixam nas disciplinas que dominam. O que acontecerá quando tiverem de lecionar assuntos de outras disciplinas?
Enquanto o concurso vestibular da UFRGS contempla 225 questões e uma redação aplicadas em quatro dias, o Enem possui 180 questões e uma redação – frequentemente mal corrigida – em apenas dois dias. Isso gera uma inviabilidade para que o processo de fato seja eticamente seletivo. Lembrando que as inscrições do Enem já acabaram e só agora a UFRGS resolveu aderir ao Sisu, consequentemente quem não se inscreveu no Enem, por não julgar necessário o acréscimo de nota na UFRGS ou qualquer que seja o motivo, seria obrigado a concorrer a apenas 70% das vagas existentes.
O Enem não democratiza o acesso à universidade. O que está acontecendo é que os alunos das melhores escolas do país, a maioria situada em São Paulo, estão conquistando as vagas dos cursos mais procurados em todas as universidades. Sendo assim, a luta por direitos igualitários continua, mas isso só não basta: são necessários processos que efetivamente façam esses direitos serem exercidos.
*Estudante
Zero Hora