Manifesto Verde Amarelo
As redes sociais sinalizavam já há algum tempo, a insatisfação que corroía os corações e mentes dos brasileiros.
Insegurança, corrupção, impunidade, saúde precária, escolas sucateadas, obras superfaturadas ou inacabadas,… cada qual relacionada a outras tantas situações, bem mais específicas. Também os juros altos, a inflação sempre controlada no discurso, mas livre, leve e solta no carrinho do supermercado; o alto custo de alguns produtos e serviços, em geral superior aos cobrados em outros países – atribuído ao “custo Brasil” – numa referência à ineficiência na área de infraestrutura e logística. Os altos salários e demais benefícios pagos à classe política também representam um peso, todos debitado nas costas e na conta do cidadão.
Para entender como a população percebe os partidos políticos, a melhor analogia é pensar em velhos computadores, tão necessários, mas inúteis quando sua memória falha, seu hardware trava, seu sistema é contagiado com vírus, precisam então de uma nova placa de memória, softwares e antivírus atualizados. Alguns ajustes mais e voltam a prestar um bom serviço.
Assim também ocorre com a legislação, emaranhada e antiquada, mas também com uma verve procriadora, gerada por inúmeros legisladores. São tantas e tão complexas, que tornam difícil entender o motivo de um assaltante ser liberado antes mesmo do queixoso terminar de registrar a ocorrência.
Contribuímos muito para o impostômetro e pagamos caro por produtos e serviços. Um bom exemplo é o automóvel. Financiado aqui, custa quase o dobro de um do mesmo modelo e ano adquirido nas mesmas condições nos Estados Unidos. Os sites nos quais foram divulgados os comparativos foram compartilhados e curtidos e milhares de vezes nas redes sociais. Se antes a maioria nem tomava conhecimento, hoje a informação é partilhada com tal rapidez e quantidade que é praticamente impossível alguém que está na rede social não ler alguma coisa sobre o assunto.
Programas sociais melhoram as condições de vida dos miseráveis, mas a classe média paga a conta, assim como vai arcar com grande parte do investimento feito em nome da paixão nacional. A Fifa diz que não acredita ser alvo dos protestos, deve ter razão, pois são só 33 bilhões de reais. Esperava talvez a compreensão dos milhões de brasileiros amantes do futebol. A paixão arrefeceu no momento em que o povo percebeu que há dinheiro sobrando, mas não para o essencial.
O governo federal está perplexo com o movimento iniciado nas redes sociais e transposto para a rede viária. E por falar em rede viária, no RS o governador Tarso estuda o passe livre, demagogia tardia, já que tarifas justas beneficiariam toda a população. Novas licitações, melhores serviços, mais horários, novas linhas…
No Rio, lá em 2010, o governador Sérgio Cabral explicou o aumento de R$ 105 milhões, que se somaram aos R$ 600 milhões iniciais dizendo: – (…) O imponderável… Uma série de variáveis não esperadas…*
Essas inesperadas variáveis também atingiram a rede social, passaram para a rede nacional e mundial. Ganharam espaço nas ruas e notoriedade nas telas. A notoriedade dos astros, sem estrelas. Só o grande astro sol, composto de milhares de partículas de brasileiros com o peito brilhando de orgulho do seu país chamado Brasil. E como bons cidadãos, querem seus velhos pais e seus jovens filhos possam viver num mais menos desigual e mais justo.
O ato que não deveria ocorrer, mas que era previsto, foi o vandalismo. Difícil mesmo é prever, nesse momento, o resultado do movimento. Tantas bandeiras sem partido, tantos motivos para protestar…
E tudo começou por parcos R$ 0,20. Alguém duvida da força do centavo?