A violência maior
A violência maior não vem das manifestações
Juremir Machado da Silva
O vandalismo é sempre inaceitável. A destruição de contêineres e de vidraças, embora muito criticável, é uma violência bem menor do que a praticada com aparentes bons modos pelos privilegiados do Brasil. Os saques, como em São Paulo, são infames. Há, no entanto, outras formas infames de violência. Renan Calheiros novamente na presidência do Senado é uma bofetada na cara dos brasileiros honestos. José Sarney jamais ter sido alcançado pela justiça é um tapa no rosto de quem espera meses por atendimento médico público. Bilhões de reais para estádios de futebol enquanto faltam hospitais e escolas de tempo integral são socos na boca do estômago dos mais necessitados. Lula viajando pelo mundo patrocinado por empreiteiras é uma agressão descarada.
Pagamentos retroativos de auxílio moradia e alimentação ao judiciário são outra bofetada no rosto incrédulo de todos nós. A alteração de nossas leis para contentar a Fifa tem o efeito de choques elétricos nos órgãos genitais dos nossos cidadãos. A confissão feita por políticos de que obras fundamentais só estão sendo realizadas por causa da copa do mundo é um pontapé em nossas canelas. Os aumentos injustificados das passagens de ônibus para garantir a taxa de lucro de empresas gananciosas foi um dos mais estrondosos atos de vandalismo praticados no Brasil pós-ditadura.
A construção de estádios faraônicos em cidades sem futebol dói no corpo de cada brasileiro como um ato de tortura.
São muitas as bofetadas na cara de cada brasileiro. É uma bofetada os mensaleiros petistas e seus aliados, condenados pelo STF, não estarem cumprindo suas penas e dois deles, João Paulo Cunha e José Genoíno, integrarem a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados; outra estrondosa bofetada é a permanência de um deputado homofóbico na presidência da Comissão de Direitos Humanos. É uma bofetada os mensaleiros tucanos, inventores do golpe em Minas Gerais, não terem ainda sido julgados; mais uma bofetada é o Brasil enterrar R$ 28 bilhões num torneio de futebol chamado copa do mundo; bofetada diária e humilhante é o papel da mídia conservadora sempre ao lado do poder econômico e sempre pronta a criminalizar movimentos e manifestações sociais.
Tomamos bofetadas cotidianas. Somos vítimas do vandalismo engravatado de políticos, empreiteiros, adulteradores de leite, exploradores de pedágios, aproveitadores de serviços públicos sem licitação e tantas outras modalidades invisíveis de depredação do patrimônio público e do que é de cada um de nós. Somos “simbolicamente” violentados, estuprados, pisoteados, enganados, enrolados, tudo em nome da governabilidade, do desenvolvimento econômico, da racionalidade, da responsabilidade, da sensatez e até da empregabilidade.
A corrupção é uma violência histórica contra os brasileiros que se renova a cada governo, com qualquer partido no poder, na ditadura ou na democracia. A maior bofetada é o cinismo dos políticos que, obrigados a abdicar de algum privilégio, tratam de retomá-lo com novas legislações e novo nome pouco depois. A plebe está cansada de apanhar.
Os donos do poder que abram o olho.
Deputados não ouvem nem se impressionam
A galera está na rua uivando de raiva.
Certos deputados gaúchos parecem não estar nem aí para isso.
Taline Oppitz publicou na sua coluna um ” furo” sobre uma trama que está sendo urdida na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Tramita um Projeto de Emenda Constitucional.
Trata de previdência.
É de autoria do petebista Ronaldo Santini.
Nada diz sobre sobre regime próprio de aposentadoria paradeputados.
Mas poderá dizer.
Quando for a discussão em plenário, na próxima terça-feira, poderá sofrer uma emenda que abra a porta para a futura apresentação de um projeto de lei específico permitindo que os deputados deixem de se aposentar pelo INSS e passem a se aposentar, com ganhos integrais, pelo IPE.
Houve um tempo em que os deputados aposentavam-se proporcionalmente com dois mandatos e integralmente com quatro.
A mamata acabou.
Foram todos para a vala comum do INSS.
Como nós, mortais.
Agora, visto que os tempos são outros, teriam de cumprir, ao menos, três mandatos ou mais e completar os 35 anos necessários para a aposentadoria com contribuições de outras atividades, por exemplo, na iniciativa privada.
É menos interessante do que antigamente.
Mas mais rentável do que o INSS.
Por que mesmo existem regimes próprios de aposentadoria? Por que todo mundo não se aposenta pelo mesmo sistema?
Alguns dos nossos deputados estão cansados do INSS.
É triste, comum, mal pago.
Querem uma velhice mais tranquila.
Não desejam passar o que nós passaremos.
Se tiverem a coragem de aprovar esse autobenefício, até agora dissimulado, poderão ser visitados por jovens indignados em tempos de rebeldia.
Melhor que fiquem espertos!
Ou o bicho pode pegar.
Correio do Povo