Um por todos e todos pela escola

Um por todos e todos pela escola

 

Carisma, liderança, comunicação, relacionamento. Se há um aspecto em que o gestor escolar precisa se aplicar é o desenvolvimento da capacidade de criar relações interpessoais, ouvindo sua equipe e motivando-a a trabalhar em favor da instituição. Da comunicação adequada surgirão grupos de trabalho, projetos colaborativos, resoluções de problemas, enfim, o cenário ideal para uma gestão cooperativa. “O diretor tem que ter facilidade de se comunicar, para defender as suas ideias. E precisa compreender que quando ele tem uma ideia e compartilha com outros, essa ideia passa a ser de um grupo, tornando-se mais forte e mais rica”, comenta Helena Machado de Paula Albuquerque, doutora em Educação e coordenadora do curso de especialização em Gestão Educacional e Escolar da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Essa troca de experiências e o compartilhamento de informações estimulam o comprometimento de colaboradores e alunos, incluindo-os como peças fundamentais para o sucesso da instituição. Esse é um dos maiores desafios do gestor escolar, segundo Rosane Carneiro Sarturi, doutora em Educação e coordenadora do curso de especialização em Gestão Educacional da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). “Para que o coletivo assuma a responsabilidade e o seu protagonismo no espaço da gestão escolar, é preciso promover a reflexão acerca das práticas existentes, definindo o perfil dos sujeitos que constituem a comunidade escolar, oferecendo a oportunidade para que todos possam se manifestar e deixando transparecer nas sistematizações dos debates as falas dos sujeitos no documento final.”

Ou seja, ouvir e dar voz aos colaboradores são formas de valorização do indivíduo, mas, principalmente, uma contribuição fundamental à própria gestão. Por isso, a condução da equipe de trabalho deve ser feita, segundo Rosane, com base nos princípios da participação, diálogo, compromisso e coerência. Ela ressalta que se deve primar pelo respeito aos diferentes saberes, desenvolvendo a capacidade de escutar o outro e interagir com o grupo. “Partindo do princípio de que a gestão escolar não é exercida apenas por um representante, mas por toda a comunidade escolar, o gestor necessita estar consciente do seu ‘inacabamento’, possuir o controle da sua ansiedade e buscar a mediação dos conflitos, seja de natureza administrativa, financeira ou pedagógica”, afirma.

Assim, a solução de um problema pode estar próxima, na ideia apresentada por um colaborador da escola. Justamente por isso, Helena defende a importância da troca contínua com as outras pessoas. “O gestor escolar precisa ter humildade para reconhecer que às vezes alguém tem uma alternativa de solução melhor do que ele. E, para isso, precisa discutir os problemas e dar abertura  ao trabalho coletivo”, diz. 

Grupos de trabalho

A atuação do coletivo não se limita a conversas e discussões. O gestor escolar precisa contar com uma equipe de trabalho confiável e eficaz para delegar funções administrativas, uma vez que precisa atuar em diferentes aspectos – financeiro, pedagógico, técnico, político, entre outros.  “É fundamental formar uma equipe de trabalho em que os problemas sejam discutidos, divididos e assumidos por todos. A escola é muito complexa e o gestor precisaria ser um super-homem para conseguir fazer tudo sozinho”, comenta Helena.

Segundo ela, a gestão escolar necessita de um diretor que, acima de tudo, é competente para formar grupos que compartilhem das responsabilidades. “O gestor também precisa ser capaz de ouvir os problemas de cada um e dar diretrizes para levar em frente essas situações. Ele, sozinho, não vai conseguir ‘carregar’ a escola. Por isso, precisa criar esse movimento de união, de parceria, participação e colaboração por parte de todos”, ressalta.

A coordenadora Rosane salienta, ainda, que, assim como o gestor, a equipe de trabalho também precisa ser comprometida com os objetivos da instituição: “para que um gestor seja eficiente, ele precisa articular-se com uma equipe de trabalho que compartilhe das expectativas da comunidade escolar e não de interesses próprios. Uma gestão que trabalhar em proveito próprio acaba por isolar-se e, consequentemente, não logrará atingir as metas que são coletivas.”

Projeto pedagógico e identidade escolar

A comunicação e a troca contínua de experiências entre o gestor e sua equipe acontecem desde o compartilhamento de ideias no cotidiano escolar até a tomada de decisões fundamentais, como o desenvolvimento do projeto político-pedagógico e, consequentemente, a formação da identidade da instituição. “Para o gestor formar a identidade da escola, ele não pode abrir mão do projeto pedagógico. E esse projeto é sempre feito de forma compartilhada, solidária, com a participação de todos – desde professores e alunos até pais e comunidade do entorno da escola”, explica Helena.

O projeto deve ser reavaliado continuamente para que sejam reforçadas as atitudes que deram certo e corrigidas as que não obtiveram êxito. A discussão é permanente para que os resultados sejam alcançados. “Para que um projeto político-pedagógico possa superar as práticas existentes e atingir os seus objetivos é preciso promover a participação, o diálogo, o compromisso e diminuir a distância entre o que falamos e o que fazemos, na busca pela coerência”, frisa Rosane.

Se a escola tiver um projeto pedagógico bem construído, de modo compartilhado, ela tem maior facilidade para resistir às contínuas alterações de políticas educacionais que acontecem no Brasil. “Hoje, temos políticas educacionais que mudam conforme muda o governante. Se a escola tiver um projeto bem feito, ela conta com uma ampla pauta de discussões e consegue adaptar-se melhor às mudanças. Isso tudo é o que vai dando a feição da escola, sendo assim construída a identidade da instituição”, diz Helena.

Gestor completo

Para conquistar o apoio e estimular o comprometimento sincero da equipe com os objetivos da escola, o gestor escolar precisa ser hábil e eficiente em sua função. Para isso, precisa contar – e desenvolver – características que lhe darão mais capacidade e credibilidade para realizar o seu trabalho. Rosane resume que o gestor “precisa possuir o perfil de liderança, sem que ela seja imposta ao grupo”.

Para Helena, é fundamental o gestor ser uma pessoa dinâmica e que saiba realizar planejamentos adequados para não reagir apenas passivamente aos problemas. “Não pode ser uma pessoa que espera que os outros façam por ele. Ele precisa buscar alternativas de soluções para os problemas percebidos, diagnosticando-os adequadamente e buscando alternativas para resolvê-los”. Ela ainda ressalta que é necessário o gestor possuir profundo conhecimento das políticas públicas e, principalmente, grande disposição para estudar tudo o que se refere à área de gestão. “As discussões [sobre as políticas públicas] precisam ser acompanhadas e as consultas aos órgãos competentes precisam ser feitas. Se uma política pública for tomada apenas como ‘leia e cumpra-se’, ela não vai surtir efeito de mudança. A mudança requer compreensão da totalidade por todos os sujeitos envolvidos”, complementa Rosane.

O gestor escolar nota 10

As doutoras em Educação e coordenadoras de cursos de especialização em Gestão Educacional, Rosane Sarturi (UFSM) e Helena Albuquerque (PUC-SP) listam as características fundamentais do gestor escolar eficiente:

Competência profissional

Conhecimento da área em que vai trabalhar, compreendendo a instituição escolar e a administração de recursos humanos.

Experiência docente

Compreensão do trabalho do professor. “Em minha opinião, ninguém pode ir para a direção de uma escola sem uma experiência docente”, avalia Helena.

Liderança

Uma liderança natural que não precisa ser imposta diante do grupo.

Exercício do diálogo e capacidade de ouvir

Disponibilidade para receber as pessoas, ouvi-las e saber respeitar suas opiniões e dificuldades.

Dinamismo e criatividade

Busca constante por alternativas, soluções e ideias para melhorar continuamente a instituição.

Comprometimento profissional com os interesses coletivos

Não colocar suas aspirações pessoais acima dos objetivos propostos para a instituição. “O gestor não pode ser uma pessoa vaidosa. Ele precisa ter a vaidade pela equipe, pelo trabalho, pelo conjunto”, comenta Helena.

Planejamento

Capacidade de organizar estratégias e ações futuras, prevenindo problemas, corrigindo atitudes que não deram certo e reforçando os pontos bem-sucedidos.

Facilidade de comunicação

Saber expressar e defender suas ideias e planejamentos de forma clara, a fim de estimular a adesão aos projetos.

Trabalho em grupo

Ter abertura para o trabalho coletivo, mas também ter a capacidade de estimular toda a equipe a atuar de maneira cooperativa.

Resolução de problemas

Capacidade de avaliar e diagnosticar as dificuldades da instituição, refletindo sobre elas, buscando soluções e controlando a sua ansiedade diante dos desafios.

Mediação

Saber ouvir as partes e realizar a mediação e resolução de conflitos dentro e fora da comunidade escolar – pais, professores, alunos, vizinhança do entorno da instituição.

Busca pelo conhecimento

O profissional precisa ter um profundo conhecimento de políticas públicas e muita disposição para estudar tudo o que se refere à gestão, buscando uma cultura rica e abrangente.

 

http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/especiais/sucesso-escolar/197-um-por-todos-e-todos-pela-escola




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