Como dar uma boa aula
Carolina Mainardes
Por mais de cinquenta anos, o professor e escritor Celso Antunes fez da sala de aula um espaço de ações, reflexões e pensamentos. Em sua mais nova obra, “Primeiros degraus”, lançada pela Edições Loyola em novembro, ele divide sua experiência com os leitores por meio de uma espécie de manual para o bom desempenho docente. Ao definir uma boa aula, Antunes alerta para a importância da aprendizagem significativa, ou seja, aquele conteúdo que será assimilado pelo aluno e que ganhará um sentido em sua vida. “Quando ele [o aluno] percebe o que e por que aprendeu é quando ocorre o aprendizado significativo”, ressalta o autor.
O livro apresenta uma série de modelos e exemplos, em texto claro e preciso, que representam degraus decisivos para o crescimento profissional do docente, com o intuito de capacitar o professor a operacionalizar com clareza e objetividade os fundamentos essenciais do magistério.
Em entrevista à Gestão Educacional, Antunes observa que três pontos caracterizam uma boa aula – questão que abre o primeiro capítulo de seu livro. “O primeiro ponto a ser levado em conta é que ocorra a aprendizagem significativa. Isso quer dizer não que o aluno decore, mas que ele compreenda o que está sendo ensinado”, explica. O segundo ponto, de acordo com o autor, é que o professor tem que pensar para preparar uma boa aula. “Não se deve pensar em uma mesma aula sempre, mas sim na variação do perfil e características dos alunos para a preparação de cada aula”, orienta. O terceiro ponto é que a aula possa realmente fazer do aluno um protagonista, com envolvimento, dinamismo. “Uma boa aula consegue reunir tudo isso”, enfatiza.
Ao abordar o aprendizado significativo – que deve ser o foco do professor e de uma boa aula –, Antunes exemplifica com o cálculo da Matemática, que o aluno usa ao fazer uma compra no supermercado, ou as regras da Língua Portuguesa, usadas para se comunicar. “Quando é assim, é diferente”, afirma.
A preparação do planejamento da aula também é foco do livro. “Esse é um dos pontos principais. Ninguém consegue realizar uma atividade profissional sem um planejamento prévio. Um piloto não voa sem um plano de voo. Um pescador não sai para o mar sem saber onde quer chegar. Com uma aula não é diferente. O planejamento [da aula] é tão importante como em qualquer outra profissão”, destaca. E completa que o professor deve estar bem preparado e saber claramente qual a destinação de sua atividade em sala de aula, considerando as características e o perfil da turma.
Antunes destaca que aula hoje significa aprendizagem, e não há mais lugar para aquele modelo apenas de exposição de conteúdos, que se adotava há 30, 40 anos. “Esse modelo poderia ser suficiente anos atrás, mas hoje não. Faço uma crítica [no livro] a professores que acreditam que aula é só dar um recado. E acho que a aula tem que ser avaliada”, defende. Para ele, o verdadeiro professor é um propositor de problemas, que conduz seus alunos à solução de desafios, transformando-os em protagonistas de seu processo de aprendizagem.
SER JOVEM
E a receita para ser um bom professor, para ele, é uma só: “a primeira medida para o professor é ser jovem”. “Independentemente da idade, ser jovem, no sentido de estar aberto a mudanças, a aprendizagens, se livrar dos diplomas de validade perene, como é no Brasil”, diz o educador. E acrescenta: “se para carteira de motorista temos que fazer um novo exame a cada cinco anos, na carreira docente deveria ser igual. Hoje, o professor se forma na faculdade e 40 anos depois não se atualizou, porque [considera que] o diploma é perene”. Antunes adverte que o professor tem que ler, se atualizar e descobrir novos caminhos.
Para ele, a melhoria da qualidade da educação está essencialmente ligada ao fato de o professor ser melhor preparado, como em qualquer outra área profissional. “A sustentação de um viaduto não depende do preparo do engenheiro? O sucesso de uma cirurgia não depende do preparo do médico? Então, na educação é crucial que o professor esteja bem preparado”, considera.
A fragilidade dos cursos de formação docente também é abordada por Antunes, que faz outra comparação: “na saúde, ninguém entra no mercado sem fazer residência médica. Já o professor chega na sala de aula sem experiência, saindo diretamente da faculdade para assumir uma turma. Ele vai dar aula sem nunca ter feito isso antes”. Após essa análise, Antunes sentencia: “por isso, sugiro no livro a preparação do professor como uma longa jornada, que começa nos primeiros passos”.
Ainda enfocando a preparação do professor, mais precisamente em relação às novas tecnologias de informação e comunicação que começam a chegar à escola, Antunes acredita que uma capacitação específica deve ser buscada apenas por aqueles que vivenciam essa realidade. “O professor deve se preparar se as mudanças alcançaram o espaço onde ele trabalha. Se ele está nesse ambiente, deve ser capaz de fazer uma ponte, deve saber fazer essa transição [para os novos tempos]”, alerta.
+Para ler
Primeiros degraus
Celso Antunes
Edições Loyola
R$ 29,00
Matéria publicada na edição de fevereiro de 2013 da revista Gestão Educacional.
http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/reportagens/ensino/155-como-dar-uma-boa-aula