Cola na Escola. Cola?
Editor Dhiogo Rezende
Muito da nossa escola atual, da pedagogia e didática modernas, se deve aos pensamentos de um checo chamado Jan Amos Komenský, ou Comenius que viveu no século XVI e XVII. Buscou nas suas ideias uma educação reformada que aproximasse valores morais e espirituais aos valores sociais e políticos, construindo uma ideia de educação universal e altruísta. Comenius é o pai da didática, do estudo do método de ensinar e por consequência de aprender. Para ele, a escola é o espaço principal da transformação social através da formação dos indivíduos que por ela devem passar e absorver o conhecimento universal e livre, preparando-os para vida em sociedade.
O pensamento de Jan Amos sobre educação colocou dentro da sistemática escolar a indissociável participação da família no processo pedagógico e a defesa de um ambiente escolar agradável e estruturado para as interelações entre educadores, educandos e conhecimento.Sabendo desse maravilhoso pensamento e teoria coerente de fundamentos humanistas que se tornaram verdades em muitos discursos e demais teorias modernas da educação, ficamos até tristes em entender que nem todas as realidades e os fatores que as implicam não deixam muitas vezes o ideário comeniano acontecer.
A realidade brasileira não converge de fato com um processo de progresso sociocultural por meio da educação, apesar dos discursos e tentativas práticas, a nossa cultura não colabora com uma devida modernização escolar. A cola, expressão usada para designar meio contraventor de se adquirir respostas para perguntas presentes em avaliações, mostra um grande atraso se essa prática se mostrar não um mero aspecto, mas uma cultura.
Diante do crescer e prosperar de aspectos contraproducentes ou de desqualificação do conhecimento observados na vida escolar brasileira, que costuma sair muito mal nas fotos (ranking) da educação mundial, a cola é fator que se agiganta em uma expressão com status de prática cultural, muitos estudantes não sabem simplesmente viver sem ela, chega a ser quase um vicio, com direitos a métodos e sistemas para a "colinha" não faltar e nem falhar nas horas de precisão da vida escolar da maioria de nossos estudantes.
A cola é uma prática alimentada no descrédito do processo educativo como forma de realização da pessoa humana, nossa escola pública (a da maioria da população) não é um ambiente que denote atração e assimilação dos jovens em relação às ligações entre escola e futuro, muitos não enxergam de verdade a cola como um mal, alguns a veem como um mal necessário, poucos são os conscientes, que veem a cola como desonestidade, e na lógica simples como algo que não desenvolve, que não traz aprendizado, muito pelo contrário, é um combate mortal ao conhecimento. A cultura da cola não se resume as instituições de ensino público, está nas escolas da elite, no ensino superior público e privado, é nacional!
Vejamos como é intrigante a presença da cola em uma turma do 3ª ano do ensino médio de um colégio católico conveniado ao estado do Tocantins, por tanto uma escola pública, estudantes fizeram questão de gravar suas pretensões de futuro (médico, engenheiro, advogado, enfermeira, arquiteto) nas fardas que são especialmente criadas e confeccionadas para servir de identidade e também de status para garotos e garotas beirando os 18 anos, formandos do ensino médio, candidatos a vestibulares, ENEM e por consequência a vida profissional que deve iniciar nos primeiros períodos das faculdades que requerem toda a constituição escolar do indivíduo, desde a educação infantil.
Nesta turma, todas as mesas, carteiras escolares são literalmente “suportes de cola”, fórmulas de física, química, matemática, trechos de conceitos ou ideias, fatos de história, sociologia, filosofia, geografia, impressionante constatar que são quase todas as bancas, mesas dos 3ª anos, de todas as salas de aula das outras turmas do ensino médio e fundamental, denotando uma verdadeira cultura da cola.
Tanto é cultural que além das inovações das técnicas de colagem, usando os celulares (imagens e textos-mensagens), táticas de esconder pedaços de papeis, ou engabelar o professor para ver, ouvir, falar, pegar as respostas entre os colegas, quando pegos no flagra, criam justificativas, desculpas, defesas, ou simplesmente a mentalidade de que a cola não é nada grave e que é banal, como eles dizem: Todo mundo faz professor. Onde foi parar a lógica de que para saber responder perguntas, basta estudar e se preparar antes e sempre? A cola seria também um reflexo dessa geração Y-Z da era da informação digital pronta e acabada em um simples click de uma ferramenta de busca?
Que ideia de ética estes nossos futuros universitários e profissionais tem no final da sua formação básica? Da cola no ensino médio até a compra de artigos, monografias e plágios na academia. O processo de formação escolar é complexo, uma escola que não trabalha essa e outras questões no convívio escolar, está contribuindo para diversas problemáticas sociais no futuro, se como vimos no inicio deste texto, por Comenius, a escola é uma matriz para a sociedade, a nossa pode estar seriamente comprometida pela cultura da banalização e vulgarização da escola, da educação em nossa “didática magna”.
A cola na escola, talvez seja um mostruário da nossa sociedade em todos os níveis, principalmente na política nacional que é a geração cíclica de toda essa cultura, pois educação ruim, formação ruim, eleitores e eleitos ruins, mal formados, que pensam que colar ou roubar verbas públicas são coisas banais, pois no Brasil, “todo mundo faz”, desde os tempos de escola!
http://educacaobr.blogspot.com.br/2013/05/cola-na-escola-cola.html