Contas serão prestadas
Pelo genocídio cultural e humilhações impostas ao magistério, contas serão prestadas
Renato Ribeiro
Carta ao Senhor Secretário e Senhor Governador
Caros Senhores:
Uma semana de greve...E os senhores assistem sem sentir-se compelidos ao diálogo franco e sincero.
Apenas negam o movimento.
Os senhores evidentemente não acham que aqueles professores reunidos são de fato uma minoria, claro que não...o que os faz dizer isso é, sem dúvida, o pouco caso que fazem da educação.
A greve não prejudica mais os alunos do que suas condutas perante a secretaria de educação.
Não...não falemos do salário, que é aviltante, isso os senhores jamais vão admitir.
Jamais vão admitir que nós somos, de fato, importantes a tal ponto que deveríamos ganhar mais para não sermos obrigados a termos duas, três e até quatro escolas.
Talvez os senhores acreditem que trabalhamos manhã, tarde e noite porque queremos.
Acho mesmo que os senhores dizem por aí que ficamos preparando aulas e corrigindo atividades por que não gostamos de sair com nossas familias ou descansar.
Não...não falemos de salários.
Falemos do sistema de escolas em tempo integral, implantadas sem estruturas e sem professores, falemos de crianças e jovens enterrados em escolas, das 7 às 16 horas apenas dentro de salas de aula.
Onde está o investimento para que as crianças de fato tenham diversidade no ensino e na formação?
Os senhores aproveitam-se que os pais precisam de um local " que eles acham" que é seguro para deixar seus filhos, e continuam com esta falsidade.
Não...não falemos de salários.
Falemos da falta de segurança nas escolas, falemos do tráfico de drogas e uso delas dentro das escolas.
Falemos da postura omissa dos senhores, que acham que a direção e os professores é que devem driblar estes problemas.
Ora, além de professores, psicólogos, assistentes sociais ainda temos que dar a cara pra bater aos traficantes? Tenham dó.
Não...não falemos de salários..
Falemos do processo de progressão continuada que implantado de forma equivocada produzem semi alfabetizados mas...é evidente que o problema deve ser dos professores, afinal a secretaria da educação jamais reconhecerá o erro.
Deixemos o salário de lado...
Falemos do sistema de notas que impõem arredondamentos de notas terríveis, considerando 4,1 como 5,0. Pra que isso?
Lógico que é para encobrir a ineficiência do sistema, assim apresenta-se números mais favoráveis.
Gostaria de saber se o engenheiro secretário ou o médico governador, podem considerar estas medidas válidas? 4,1 metros = a 5,0 metros? ou 4,1 mg de medicamentos = 5,0 mg.
Os seus netos...se é que os senhores os tem....estudariam numa escola administrada pelos senhores? Claro que não..
Não ...não falemos de salários...
Falemos da forma de contratação humilhante dos professores, falemos da forma maquiavélica de divisão dos professores em categorias, muitos deles sem direito nem ao atendimento médico pelo hospital do servidor público.
Como se dizia desde a antiguidade " Dividir para governar"....não é?
Falemos da obrigatoriedade dos professores em licença médica, terem que ir todos para o Cambuci centralizando as perícias.
É claro que isso foi feito para dificultar as licenças ou punir os professores doentes, talvez por que os senhores achem que somos "pilantras", e não querem ver que a situação das escolas é sim insalubre.
Os senhores podem continuar indefinidamente no governo , mas pelo genocídio cultural que promovem em relação aos alunos e pelas humilhações que impõem ao magistério...certamente vão prestar contas a alguém que pode de fato julgá-los.
Senhores...um local bem quente os aguarda pela eternidade.
Opinião assinada pelo professor Renato Ribeiro