Uma luta de classe
Uma luta de classe – MMA e UFC dos Professores
Angela Maieski
Entre os dias 23 e 25 de abril está prevista a Greve Nacional do Magistério. Nesses 11 anos que atuo na área, paralisei apenas um único dia, por “culpa dos alunos” conforme consta no texto que escrevi na época, porém desta vez optei por parar, assim como inúmeros colegas que pela primeira vez vão aderir ao movimento.
As classes de aula podem ficar ausentes de alunos por alguns dias, que não fará diferença, que o diga o aluno que até agora está sem professor. Se é possível recuperar dois meses sem aulas, por falta de professor, também pode se recuperar os dias de uma greve para reivindicar antes de tudo que a Lei seja cumprida.
Os professores deveriam criar o grupo MMA – Mestres Manifestadamente Abandonados. Talvez essa modalidade de luta possa formar a UFC – União dos falidos catedráticos.
Acostumados que estão de lutar por melhores condições de salário e de trabalho, sendo sistematicamente atacados por diversos governos, a modalidade de luta mista, pode exigir muito treino, mas tudo, em tese, pode se aprender e se fecundar cérebros já não compensa financeiramente, o uso de técnicas de imobilização pode surtir efeito.
Imobilizar e vencer o adversário não é tarefa fácil, exige treino e paciência para aplicar o golpe no momento certo, assim como vem sendo feito através de décadas, forçando a categoria a renovar sua luta a cada ano. Perdas acumulam-se e já há alguns lutadores enfraquecidos pela falta de nutrientes, a tal ponto que imploram o direito de alimentar-se da merenda quando soa o gongo do intervalo da luta diária.
Essa luta tem várias modalidades, por isso é mista. Há aqueles que utilizam as bandeiras, que empunham a sineta e acampam em frente à arena na qual se criam as regras, outros utilizam os golpes da pena, denunciando os golpes baixos e as regras antiesportivas, que impedem uma luta limpa. O oponente também usa bandeiras e promessas, assim como tinta para redigir regras que desgastam a categoria. Lucra com as apostas quando o resultado é bom e debita na conta do opositor, quando é ruim.
Cérebros privilegiados ou altamente especializados não são atraídos com salários irrisórios e condições de trabalho – isso sem citar os problemas inerentes a estrutura física das escolas - com uma rotina estressante, atendendo dez, quinze turmas com uma média de 30 alunos, não permitindo dedicar nem 5 minutos a cada aluno individualmente num período de aula. Há ainda o aluno de inclusão, que não apenas merece, mas necessita de atendimento individualizado. Nessa contenda, o perdedor final acaba sendo o aluno.
A luta pode ser vencida por decisão judicial, mas quando essa não é respeitada pode ocorrer uma vitória de Pirro, com a desistência do lutador que não tem mais condições de lutar ou pior, quando a má qualidade da massa encefálica substituir os lutadores que ainda exercitam os neurônios e mantêm-se no ringue apesar de todos os golpes que tentam evitar que eles lá permaneçam.
E, inclusive o novo grupo MMA pode tentar uma parceria junto aos autênticos lutadores de MMA para aprender a se defender de cadeiras voadoras e outros tipos de agressões físicas que andam se alastrando no ambiente de trabalho.
Soa o gongo, a nova rodada da velha luta recomeça.
* Charge do Bello – falecido em junho de 2011 – selecionada na web.
http://amaieski.wordpress.com/2013/04/18/uma-luta-de-classe-mma-e-ufc-dos-professores/