Onde estão os professores sobrecarregados?
Onde estão os professores sobrecarregados? (retalho da história-presente)
Mara do Carmo Gaudério
Na história das sociedades humanas, há momentos que exigem perguntas, mas há os que exigem respostas. Na história do Rio Grande do Sul, este é um deles.
Na noite do dia 27 de fevereiro, em um programa de TV, ao vivo, a secretária estadual de Educação (adjunta) lançou um desafio à sociedade rio-grandense, ao perguntar: onde estão os professores sobrecarregados? Há que se responder à secretária.
Talvez hoje no RS não existam mais professores trabalhando em duas escolas, com carga horária semanal superior a 30 horas e mais de 10 turmas de estudantes para atender. E isto, devemos reconhecer, representa significativo avanço. Mas é a realidade? Se for, aplausos.
Entretanto, trabalhar em duas (ou mais) escolas, ter uma carga horária superior a 30 horas semanais e atender mais de 10 turmas de estudantes não são os únicos fatores a sobrecarregar os trabalhadores em educação.
Sobrecarrega-os o insuficiente investimento no setor educacional, que transforma o cotidiano escolar numa luta permanente contra o desconforto (quando não contra a insalubridade) no local de trabalho.
Sobrecarrega-os a política pública que não transgride a ordem do capital e os estimula a permanecer exclusivamente como "preparadores" de mão-de-obra para o mercado de trabalho. Embora os discursos oficiais afirmem o inverso.
Sobrecarrega-os, também o salário miserável, representante e desvelador da grande contradição das sociedades capitalistas que, com "mão-de-obra barata", fazem da precariedade no atendimento ao grande público um instrumento garantidor da supremacia do poder privado.
Mais do que tudo isso, no entanto sobrecarrega-os a falta de perspectiva profissional, o estreito e nublado horizonte que seus olhos vêem, quando saem para trabalhar.
Assim, da porta de cada escola pública rio-grandense, é possível responder à pergunta demagógica: ESTÃO AQUI. Estão aqui os professores e os funcionários sobrecarregados. De preferência, em uníssono e muito alto. Para que a resposta seja ouvida. Só o cinismo extremo ou a ingenuidade máxima, ousarão desmenti-la.
Mara do Carmo Gaudério é professora da rede estadual/RS/Foto: Reprodução
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