Um magistério de qualidade é caro e indispensável

Um magistério de qualidade é caro e indispensável

Um magistério de qualidade é caro e indispensável
para o país

Paulo Brandão



Como assíduo leitor do jornal 'O Estado de São Paulo', devo dizer que gosto de seus editoriais. Mas, como sempre, há exceções: não gostei do editorial a respeito de professores faltosos. Achei a visão superficial e sem a profundidade que a questão merece. O grande problema educacional que assola o Brasil, piorado desde a década de 1980, é a falta de consciência da sociedade, que se reflete no modo de ação de nossos governantes, do alto grau de qualificação necessária para o exercício eficaz do magistério. 


Um bom professor precisa, necessariamente, apresentar algumas qualificações de alto nível. Vou citar quatro que considero mais importantes: 



    1) Dominar o conteúdo que leciona. Isso significa dominar profundamente um conteúdo extenso e de grande complexidade, comparável a poucos cursos superiores. Necessita-se grande esforço e dedicação para atingir o grau de excelência necessário. 



    2) Capacitação didática. Muito comum é encontrar pessoas que dominam um conteúdo, mas não conseguem explicá-lo a outros. Quem passou pela experiência sabe o quanto isso é difícil. Esta é uma competência que exige tempo, experiência, inteligência e generosidade. 



    3) Correlação com a realidade. Um conteúdo altamente complexo precisa ser correlacionado com a realidade, caso contrário esse estudo se torna entediante, desinteressante, inatingível  e sem sentido. Esta é uma das capacitações mais difíceis e, ao mesmo tempo, indispensável. 



    4) Integridade ética e moral. O professor é um grande exemplo para o jovem em formação, crianças e até adultos formados. Isso pode ocorrer positiva ou negativamente. 



Muitos de nós lembramos o impacto que grandes professores causaram em nossa vida e é isso que esperamos para nossos filhos. Muito bem, é plausível imaginar que alguém com essas condições, com a intenção de realizar um trabalho de bom nível, aceite um salário de R$ 2 mil por uma jornada de 40 horas semanais, lembrando que no magistério efetivo o professor vai conhecer individualmente os alunos, propor atividades, provas criativas, laboratórios, atividades extraclasse que vão transformar 40 horas em 60 (no mínimo!)? Evidente que não! Quem aceita um trabalho desses? Á exceção de idealistas abnegados, apenas quem tenha uma qualificação muito abaixo da necessária e que o torna incapacitado para o serviço.



Desta forma, R$ 2 mil passam a ser um salário interessante, principalmente, se "com jeitinho", puder baixar o número de horas e o desgaste do serviço. Não se trata de um nivelamento por baixo, e sim total ausência de nível. Este baixo nível acaba atingindo todas as categorias do magistério - municipal, estadual, federal, público, privado, superior -, transformando uma profissão crucial em quinquilharia de quinta categoria. 



Um magistério de qualidade é caro e completamente indispensável para um país que queira melhorar.



Pode-se pagar o ônus da qualidade ou economizar e nunca, nunca... sair do lugar. Muito se reclama dos governantes, mas creio que eles apenas são um reflexo da sociedade. Há um intenso discurso pró-educação em nossa sociedade. Mas quanto é real e quanto é discurso? Eu creio que o discurso ganha de goleada.



Ponto de Vista  assinado por  Paulo Brandão, professor em São Paulo 



SECOM/CPP




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