Uma possível solução?

Uma possível solução?

 

Uma possível solução? 

 Angela Maieski


Escolas – um jogo sem vencedores?

charge educação 1997


São os alunos que reprovam e abandonam a escola ou são elas que estão abandonadas e são reprovadas?


Assistindo o Globo Repórter do dia 29/03 foi possível perceber como algumas igrejas estão obtendo sucesso em atrair jovens. Tornaram-se atraentes e contagiam as massas, especialmente com músicas, que utilizam diferentes ritmos, mas tocam o coração das pessoas que se sentem carentes de um amor maior, mais solidário e bondoso. Um amor divino, mas também humano, na confraternização.


Utilizam também os meios de comunicação para atingir um número maior de adeptos. Os programas religiosos estão presentes nas grades da maioria dos canais da televisão aberta e de rádios; assim como na internet, na qual é possível encontrar inúmeras páginas e blogs de comunidades religiosas.


As modernas tecnologias e as velhas ou novas melodias atraem e sensibilizam, cativando um público de todas as idades e classes sociais.


Atrair e contagiar, duas palavras que se transformam em fórmula para o primeiro sucesso, seja da igreja ou do grupo musical. A fórmula resulta perfeita quando se agrega a ação de fidelizar.  Os fiéis perpetuam o sucesso.


Essa fórmula passa longe de outro segmento, que precisaria mais do que qualquer outro, atrair e contagiar, mas que tem se mantido de tal forma imerso em si mesmo, mantendo sua ancestral configuração, que acaba obtendo uma polaridade inversa, repelindo e afugentando milhares de adolescentes.


A velha sala de aula não atrai nem contagia, não torna cativo o seu público, pois ainda se configura antiga e ultrapassada, afora poucas exceções. As mesmas velhas classes, com suas cadeiras desconfortáveis, de tamanho inadequado para tantas alturas desiguais. Seu velho quadro negro ou verde, agora também na cor branca, com giz ou sua substituta moderna, uma caneta “apagável” estão em praticamente 100% das salas de aulas das escolas públicas. O design manteve-se inalterado através dos séculos.


As horas de desconforto proporcionadas por cadeiras inadequadas são dribladas por caminhadas na sala de aula e as consequentes reclamações de professores. Os livros didáticos, mapas, cadernos e outros itens tão antigos quanto a própria instituição escolar sobrevivem, mas não são atrativos nem contagiantes, se bem que necessários, mas deveriam ser meros coadjuvantes e não mais atores principais.


O século XXI adentrou trazendo um arsenal tecnológico não apenas atrativo e contagiante para todas as idades, mas especialmente facilitador. Com um simples toque na tela, um professor pode levar seus alunos ao Museu do Louvre ou visitar os pontos turísticos da Grécia. Pode mostrar tabelas, gráficos, células, embriões, escritores, verbos, enfim, praticamente qualquer tema a ser trabalho pode ser encontrado ao simples clique do “camundongo”.


Escolas reprovadas por falta de investimento em estrutura física, em tecnologia e em pessoas, escolas que repelem, quando deveriam atrair.  Quem sabe não é essa a hora de atrair a sociedade para uma causa que pode gerar riqueza, não apenas aquela sonhada pelos apostadores de loterias, mas aquela intrínseca ao ser humano, de tomar consciência e obter a verdadeira cidadania


Escolas reprovando e alunos abandonando – a reengenharia 

 

O conceito de reengenharia, de Champy e Hammer, desenvolve a ideia de repensar e redesenhar radicalmente as práticas e processos de uma organização. Óbvio que se trata de um conceito de administração, já que seu foco é o serviço ao cliente, os novos produtos, a cultura organizacional, etc., tendo como finalidade o aumento da produtividade, redução de custos e maior satisfação do cliente, procurando, para tanto, recriar normas e processos, excluindo aqueles que se tornaram ultrapassados.


Falar em reengenharia das escolas ou mesmo da educação é utopia, mas a cada dia entro em sala de aula vendendo um velho produto chamado conhecimento, tentando dar a ele uma nova embalagem, mostrar a finalidade e a satisfação que se pode obter com o conhecimento. Posso, portanto, utilizar a criatividade para idealizar uma escola.


Minha escola seria ecologicamente sustentável, desenvolvida através de projetos arquitetônicos e de engenharia que privilegiassem a luz solar, a circulação de ar e, especialmente, a acústica. As salas de aula e os móveis seriam projetados para proporcionar conforto.  Cada região desse imenso país teria projetos específicos, já que há diferenças climáticas acentuadas. Pediria ajuda aos universitários dos cursos de engenharia, arquitetura, meteorologia e outros.


O salão de eventos seria aberto à comunidade, que poderia apreciar o talento dos alunos, em apresentações de dança, teatro, palestras, etc. O refeitório poderia ser projetado para se transformar em mais um espaço de atividades, como exposições de trabalhos. A quadra esportiva seria coberta, com arquibancadas e redes de segurança e o pátio seria sombreado, com árvores e bancos, aparelhos de ginástica e pequenas mesas para jogos como damas, xadrez e moinho. Esses itens seriam obrigatórios em todas as escolas. Seria a reengenharia estrutural.


As escolas seriam pequenas, jamais abrigariam milhares de alunos, no máximo seriam algumas centenas. Escola, alunos e comunidade criaram um sentimento de pertencimento e identidade.


O quadro digital, item obrigatório, seria não apenas para utilizar a informação, mas para criar novos processos de aprendizado, permitindo conectividade total e imediata, assim como uma pequena biblioteca, não apenas com duas dezenas de livros didáticos de três diferentes autores, mas também com DVDs e livros de ficção ou não. As aulas começariam com a leitura de jornais, impressos no velho e bom papel, que permitiria sublinhar e recortar, ler e reler, resumir e reescrever uma reportagem que despertasse a atenção dos alunos ou servir de ponto de partida para investigar e analisar fatos relacionados a ela. Unificar conteúdos não seria prioridade, mas seria necessário acentuar a interdisciplinaridade e melhorar a didática e nesse quesito os cursos de licenciatura desempenhariam um importante papel. Teriam que reorganizar o fazer pedagógico. Todas as escolas teriam, obrigatoriamente, aulas de reforço no turno inverso.  Seria a reengenharia funcional, reorganizando os processos na busca de melhores resultados.


Celulares, notebooks, tablets e outros equipamentos não seriam proibidos, mas o velho e bom caderno não seria dispensado, porque escrever, e bem, seria prioridade, assim como a boa e velha régua e os cálculos continuariam presentes para descobrir a quilometragem percorrida por uma mocinha, através de três continentes, em busca do amor de sua vida, da qual fora separada por uma guerra. Dispensaria os mapas pendurados no preguinho utilizando a tecnologia, ao toque dos dedos, sobrepondo mapas, mostrando os elementos químicos, fórmulas matemáticas ou fazendo uma visita virtual a museus.


A reengenharia normativa também seria necessária e precisaria ser amparada por lei. Alunos com histórico de ausências sem atestado médico, alunos repetentes por não participarem do processo avaliativo, não realizando atividades em sala de aula, não entregando trabalhos ou entregando praticamente em branco as provas, seriam advertidos ao final de cada ciclo de avaliações. Os pais teriam que comparecer obrigatoriamente na escola para assinar um termo de compromisso, através do qual ficariam cientes que reprovações por irresponsabilidade originariam a cobrança do valor investido – por aluno – pelo poder público ou a perda da vaga na escola pública. Para não dizer que não falei dos professores, eles seriam avaliados ao longo do processo, cabendo ao conselho escolar um importante papel, já que ele é composto por representantes de todos os segmentos e em conjunto com a direção e supervisão, poderia advertir ou relatar às coordenadorias a ocorrência de problemas.


Utopia é imaginar uma escola confortável, com telhado ecológico, ar fresco e luz direta, sem enregelar cusco no inverno e cremar cérebro no verão. Utopia é imaginar uma escola atrativa e cativante. Utopia é imaginar alunos conectados e comprometidos com o saudável e pleno exercício do conhecimento.


Quais das reengenharias poderiam ser de implantadas em curto prazo?


Como obter recursos para implantá-las sem criar novos impostos?

 

 

– Escolas reprovando e alunos abandonando 


Em geral, quando se fala em educação, logo surgem reclamações sobre os baixos salários, assim a reengenharia salarial, por mais necessária e justificável que seja não foi abordada Qualquer exigência nessa direção é rechaçada com o discurso que destaca a eterna falta de verbas.


Parto, então para elas – as verbas – desculpem o trocadilho, que se configuram quase como um parto, com suas alegrias e dores.


De acordo como o relatório do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – um a cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série.  O site Todos pela Educação diz que “O Brasil tem hoje, na segunda etapa do Ensino Fundamental, apenas 27% dos alunos com aprendizado adequado em língua portuguesa e 16,9% em matemática”.


Em contato com o site Todos Pela Educação  www.todospelaeducacao.org.br foi possível obter o número de estabelecimentos públicos (em atividade) de Educação Básica no Brasil. São 154.616, sendo que 490 são federais, 31.397 estaduais e 122.729 municipais.


Destes, ainda restaria verificar quantos atendem somente a educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental ou ensino médio, uma vez que educação básica  compreende três etapas: a educação infantil (para crianças de zero a cinco anos), o ensino fundamental (para alunos de seis a 14 anos) e o ensino médio (para alunos de 15 a 17 anos).


Por que essa especificidade? Pesquisas e notas (não conceitos) de diferentes avaliações têm demonstrado que os problemas começam entre a 5ª série ou 6º ano e a 8ª série ou 9º ano.  Esse segmento deveria receber um aporte financeiro.


Faltam recursos? Então vamos criá-los. O Brasil é um país, talvez o único no mundo, que detêm o monopólio do jogo. Explorados pela Caixa Econômica Federal são nove (9) tipos de loteria. Na Loteria Federal o prêmio total é de 70% da arrecadação, mas com os descontos o prêmio líquido é de 45,5%.  A maioria destina 51% ao prêmio total e após os descontos, o prêmio líquido é de 32,2%. Outras pagam menos.


Para a despesa de custeio e manutenção de serviços são destinados 20% e a tarifa de administração é de 10%, a comissão dos lotéricos é de 9% e o Fundo de Desenvolvimento das Loterias recebe 1% totalizando 40% da arrecadação. Todas destinam em torno de 7% ao FIES – Fundo de Financiamento Estudantil, destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em instituições não gratuitas.


O governo poderia criar a Loto Educação, destinando o valor que, em outras loterias é destinada a diferentes entidades – Fundo Nacional da Cultura, Comitês Olímpico e Paraolímpico, Seguridade Social Fundo Penitenciário Nacional, Clubes de Futebol, Entidades de Práticas Desportivas, etc. para escolas que atendam os anos finais do ensino fundamental.


Num primeiro momento, a arrecadação seria destina para as escolas que atendem os anos finais da educação básica, desde que as escolas atendessem os requisitos administrativos legais. Os valores repassados teriam que ser investidos em equipamentos como computadores, telas digitais, multimídia, etc. e ao reforço pedagógico, no turno inverso. A contratação dos professores seria realizada através das Secretarias de Educação, na modalidade de contrato emergencial. Esses profissionais seriam avaliados mensalmente, nas próprias escolas, por um conselho, formado por docentes, discentes e pais, com mediação de um representante da direção, supervisão ou orientação escolar.


As escolas seriam responsáveis pela aquisição dos equipamentos, de acordo com as normas específicas, as mesmas que já são exigidas para a compra de equipamentos e merenda escolar.


Seria possível destinar 20% da arrecadação da Loto Educação para as escolas que obedecessem aos critérios, talvez até mais, se da alíquota do Imposto de Renda fosse destinada uma porcentagem para o, digamos, Fundo para a Qualificação dos Anos Finais do Ensino Fundamental, o que poderia ser legalmente viável, uma vez que não haveria perda de receita, já que a mesma não existia anteriormente.


Não seria uma cobrança compulsória como a CPMF – Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira. Seria um jogo, como as demais loterias, mas no qual mesmo aqueles que não acertassem os números sorteados seriam vencedores.


Talvez criar todas as regras não fosse tarefa fácil, mas não seria impossível. Regras que já existem e devem ser cumpridas por todas as diferentes instituições que recebem verbas oriundas das loterias.


O concurso número 1483 da Mega Sena arrecadou R$ R$ 35.080.218,00 conforme consta no site de CEF. Uma arrecadação desse vulto geraria, se fossem destinados digamos 20% ao fundo, R$ 7.016.043,60 – uma quantia nada desprezível.

 

http://amaieski.wordpress.com/




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