Ciclos de formação na educação básica

Ciclos de formação na educação básica

 

Ciclos de formação na educação básica

Antonio Ibanez Ruiz 



Desde que se iniciou a nossa redemocratização, a discussão a respeito da organização estrutural do ensino tradicional, organizado em séries, saiu do ambiente acadêmico e tornou-se pública, alcançando os debates eleitorais. 


As primeiras propostas datam da década de 1960 e 1970, baseadas na organização escolar adotada na Inglaterra e difundida posteriormente a diversos países de língua latina, como Espanha, Portugal e França, chegando ao Brasil na década de 1980.


Aqui, no Brasil, diversas redes se destacaram pela adoção desse sistema, transformando as séries em ciclos de formação. Entre elas cabe destacar a dos municípios de São Paulo, com Paulo Freire à época Secretário de Educação do município, Belo Horizonte, Porto Alegre, além do Distrito Federal.



Trataremos de forma resumida e simplificada as características dos modelos em discussão.



Atualmente, há três modelos de organização escolar que podem ser bem caracterizados no panorama educacional: o de séries, o de ciclos (blocos de séries) e o de ciclos de formação.



O modelo de seriação existe, com algumas alterações que não mudaram a sua concepção, desde que a escola foi institucionalizada, a partir da Idade Média. Aqui, no Brasil, esse modelo se instalou na primeira metade do século XX. Ou seja, a organização de turmas, a separação por idade, a graduação em séries, a organização curricular e os processos de avaliação fazem parte desse modelo que continua até hoje. Esse modelo não dá conta de resolver um dos maiores problemas de nossa educação pública, que é o da repetência, e que acaba se tornando uma exclusão social por tudo o que ela causa, como defasagem na idade, na série, o abandono e o futuro subemprego.



O modelo de ciclos, agrupando as séries em blocos, não traz significativas diferenças com o sistema seriado. Aparentemente, é uma forma de empurrar para frente o problema do fluxo de alunos, isto é, o da repetência.



O modelo dos ciclos de formação considera que as fases do desenvolvimento da criança e do adolescente têm uma contribuição importante para o processo de escolarização. O que significa que eles são considerados sujeitos do seu próprio saber, com direito a expor o seu anseio, a sua dificuldade, o seu conhecimento, a sua crítica, a ua carência de leitura, de saber, de valores, de cultura, melhorando assim, sua autoestima e, dessa forma, considerando-se partícipes de sua escolarização.



Para que isso aconteça é necessário alterar a estrutura organizacional da escola: alterar o tempo de permanência dos alunos, a distribuição do espaço na sala de aula, o currículo, introduzir a avaliação continuada, incluir a formação continuada dos professores como parte integrante da discussão para a transformação da escola, além da reestruturação do trabalho docente e da consolidação da gestão democrática, em que todos os segmentos — pais, alunos, professores e servidores — participem. Poderemos dizer, então, que estamos trabalhando na formação dos alunos e não mais na “instrução” deles, especialmente em português e em matemática.



Hoje, assistimos diuturnamente a críticas feitas à escola pública pelo fato de continuar sem alteração alguma ao longo de séculos, enquanto o mundo tem sofrido contínuas mudanças. Os ciclos de formação são uma resposta de reestruturação da escola à situação atual de “formação de excluídos”.



Os Cadernos da escola candanga (1995-1998) trazem muitas informações a respeito da experiência levada no DF — que se tornou conhecida nacionalmente, fazendo parte obrigatória de referências bibliográficas quando o assunto são os ciclos de formação na educação básica.



A Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (Eape) teve participação determinante nas reformas introduzidas pela Escola Candanga, pois a formação continuada era aproveitada para introduzir alguns temas como a interdisciplinaridade — sempre difícil de sua implementação em sala de aula — e a metodologia de projetos para melhorar o processo ensino-aprendizagem. Além de uma discussão exaustiva a respeito do conhecimento da avaliação continuada e a forma de como ela funcionava no dia a dia. Temas esses relegados na maioria dos cursos de graduação para a formação inicial de professores. 

 
 

Artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 26/3/2013

 

ANTONIO IBAÑEZ RUIZ -  Reitor da UnB (1989-1993), secretário de Estado de Educação do DF (1995-1998) e atual conselheiro do Conselho Nacional de Educação

 
http://www.educacionista.org.br/jornal/index.php?option=com_content&task=view&id=16029&Itemid=43

 




ONLINE
26