Mudanças Climáticas Globais e Leilões do Petróleo
Mudanças Climáticas Globais e Leilões do Petróleo no Brasil
Alexandre Costa
Parte I: A quem interessam. A quem não.
A Ciência do clima é muito clara: o sistema climático está realmente aquecendo, este aquecimento é causado pela acumulação de gases de vida estufa de vida longa, especialmente dióxido de carbono (seguido de metano, óxido nitroso e halocarbonetos) e a origem desse desequilíbrio químico atmosférico está nas atividades humanas, especialmente no uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), como estabelecido nos relatórios de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (Intergovernmental Panel on Climate Change, IPCC), especialmente o AR4 [1].
A enorme quantidade de evidências acerca do aquecimento global vem de um conjunto integral de observações, incluindo não apenas medidas de temperatura na superfície, mas também medidas de ar superior e estimativas de satélite. Esse conjunto é altamente coerente com observações de outros componentes do sistema climático, incluindo a elevação do nível do mar, o recuo do gelo marinho e de geleiras, a acumulação de calor e a acidificação dos oceanos mundiais e mudanças em um grande número de ciclos biogeoquímicos complexos [2].
Os impactos da mudança global imposta pelas emissões antrópicas de gases de efeito estufa são universais. Acompanhando a consequência mais óbvia, que é o aquecimento, pode-se citar uma enorme lista deles, incluindo o aumento na ocorrência de ondas de calor mais fortes, secas mais intensas e tempestades severas, assim como incêndios florestais mais frequentes, perigosos e devastadores, derretimento de gelo polar, que se tornará o causador mais importante de elevação do nível dos oceanos, o branqueamento de corais e uma grande mortalidade de organismos que dependem da fixação do carbonato de cálcio para sobreviverem, etc. Mudanças no regime de precipitação certamente colocarão a agricultura e o abastecimento urbano de água em perigo em muitas localidades. As consequências para países insulares, cidades costeiras, povos tradicionais (indígenas, pescadores, etc), pequenos agricultores e as pessoas e países mais pobre são óbvias.
Parte II: O que fazer?
Inicialmente isto se deu através da Petrobrás, que é uma companhia de capital misto, na qual o Estado brasileiro como sócio majoritário, mas também com grande participação de investidores privados. No entanto, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a Petrobrás perdeu o monopólio da exploração em território brasileiro [2] e muitas companhias começaram suas operações, incluindo a Chevron, que já foi responsável por um vazamento de grandes proporções na Bacia de Campos próximo ao litoral do Rio de Janeiro.
Após interrompidos por 4 anos, os leilões do petróleo e gás no Brasil retornarão com força total em 2013. Em Maio, 117 blocos irã a leilão, incluindo, pela primeira vez no Brasil, gás de xisto. O leilão da camada do pré-sal, em regime de partilha, está marcado para 28 de Novembro. A Shell já manifestou seu interesse [3].
Porcentagem dos royalties em diferentes países da América do Sul. A taxa de royalties no Brasil é particularmente baixa. |
Diagrama mostrando a desproporção entre o faturamento das empresas que explorarem o petróleo em regime de royalties e os recursos que de fato ficam com a União, para supostamente serem aplicados na Educação. Detalhes dessa discussão neste texto. |
De fato, mesmo sem contabilizar qualquer emissões da cadeia produtiva, um barril de petróleo contém aproximadamente 123 kg de carbono. Daí, 100 bilhões de barris equivalem a 12,3 Gton de carbono fóssil. Uma vez que a queima de 2,12 Gton de carbono equivale a adicionar uma ppm de CO2 na atmosfera global [8], a exploração do petróleo na camada do pré-sal brasileira leva a um aumento nas concentrações atmosféricas desse gás em cerca de 6 ppm! Mesmo adotando 450 ppm como meta de pico, e não de estabilização, isto já corresponde a 1/9 da diferença entre tal valor e as concentrações de CO2 no presente. Bloquear os leilões do pré-sal, portanto, adquire grande importância, o que só pode se dar através de um movimento amplo e forte.
A amplo movimento contra a mudança climática e seus agentes pode crescer e provavelmente crescerá nos próximos anos, à medida que interesses e experiências comuns entre movimentos, ativistas e ONGs ambientalistas, movimentos indígenas e de pessoas afetadas por eventos extremos (como o caso das vítimas do furacão Sandy) os levará a demonstrações cada vez maiores e mais incisivas (com a possibilidade, via redes sociais, de rápido intercâmbio de informação dentro de um país ou mesmo mundialmente). Os socialistas revolucionários devem cumprir um papel relevante nesse movimento, apontando para as companhias fósseis (juntamente com os bancos) como o coração de um sistema mais complexo de exploração humana e devastação da Natureza (a essência exponencial da reprodução ampliada do capital o torna incompatível com recursos naturais limitados e com o comportamento cíclico da dinâmica ambientai, que inclui os ciclos da água, do carbono, do nitrogênio, etc.).
Tal movimento por vezes encarará desafios complicados, pois terá de ser bastante amplo e estabelecer o diálogo necessário com outros movimentos que podem eventualmente defender interesses opostos em certas circunstâncias, como o movimento sindical. O caso brasileiro é um em que existe a possibilidade de convergência, já que os trabalhadores petroleiros se opõem aos leilões, apesar de evidentemente não terem atingido uma compreensão da questão climática.