Como funciona a burocracia na escola
Como funciona a burocracia na escola
Declev Reynier Dib-Ferreira
Certos serviços públicos têm pressa. Mas a burocracia, mãe do mau funcionamento deste país, não quer saber disso.
Um probleminha que pode ser resolvido em duas horas ou dois dias de trabalho transforma-se em dois anos, fácil fácil.
Muitas vezes não é culpa do diretor ou diretora da escola, como pode-se levar a pensar – embora às vezes seja.
A Secretaria de Educação? É a avó: mãe da mãe. As leis são a bisavó.
A lei manda, a secretaria obedece; a secretaria manda, a direção obedece. Nem sempre a lei manda, mas a secretaria obedece assim mesmo… e por aí vai.
O professor, padece.
No final de tudo, na ponta da corda, os alunos que se… que esperem!
Vamos a uma historinha real.
A minha escola no Rio (municipal) vem sofrendo há anos com infiltrações no teto, molhando várias salas e mesmo corredores.
A Sala de Ciências também sofre durante anos com uma infiltração em uma parte da sala, fazendo escorrer água pela parede, pelo teto, estragando uma coluna, que está, inclusive, rachada.
A água molha e estraga há anos materiais de ciências, livros…
Eu, claro, reclamo disso também há anos. Tenho diversas fotos de materiais estragados, que tirei para comprovar. Vejam dois exemplos dos muitos que tenho:
Então, vieram umas três vezes “consertar” o telhado. Hã? Três vezes??? Pois é.
Depois de cada uma delas, após a primeira chuva… água!
Mais material estragado.
De repente, chega-me um pessoal na sala dizendo que iria “pintar o teto”.
- Mas tem vazamento – mostrei – não adianta pintar.
- Temos ordens de pintar o teto.
- Mas o teto em si não é o problema, a parede aqui neste canto que está podre, vejam – mostrei.
- Não nos interessa, temos ordens de pintar o teto. Está aqui na Ordem de Serviço: pintar o teto. De toda a sala.
- Mas a sala está com o teto impecável, só aquele pedaço ali que tem problema por causa do vazamento, mas o vazamento continua, não adianta pintar.
- Temos ordens de pintar o teto.
Meodeus, contrataram um robô, pensei.
Para entender, a sala de ciências tem uma divisória, separando-a em duas, a maior onde ficam os alunos e uma parte onde é nosso depósito. A parte do teto vazando está no depósito. A outra está perfeita.
Vejam, por exemplo, a imagem do teto ANTES de receber a pintura:
Este teto foi pintado.
Mas queriam, simplesmente, que eu parasse minha aula para eles pintarem o teto. Não deixei.
Eles reclamaram e eu levei bronca da direção porque não parei minha aula para eles “pintarem o teto”.
Dias depois, sem eu estar atrapalhando, pintaram o teto.
O teto tava pintado, mas o vazamento não foi sanado, a parede a e coluna, podres. Vejam que o teto da parte do vazamento, agora sem o descascado de antes, mas já molhado:
Mas, como eu disse, a coluna e a parede…
Alguns dias depois, chuva… vazamento no teto. Ainda continua vazando.
Mais um tempo se passou, vieram consertar a coluna quebrada. Só, só e somente só a parte onde está quebrado naquela coluninha.
- Nós viemos consertar a coluna. Onde está?
- Mas… ainda tem vazamento no teto, não adianta consertar a coluna! – disse eu.
- Mas temos ordens de consertar a coluna!
Vi que não adiantava argumentar com uma ordem de serviço. A coluna foi “consertada” e pintada de branco. Só acoluna:
Aí, obviamente, no final de tudo, com essas últimas chuvas aqui no Rio – quem sabe sabe como está sendo – cai tudo, molha tudo, descasca tudo, estraga um monte de material.
Lá está o teto “pintado” todo descascado de novo, acima da coluna branquinha.
Embaixo dele, mais material se estragando.
E, nisso, sem exagero, lá se vão cerca de 3 anos.
Só um detalhe: isso não é função da direção da escola, mas da coordenadoria regional de educação (CRE) e secretaria de educação.
Essa mesma secretaria de educação do Rio de Janeiro, tão maravilhosamente divulgada na grande (e podre) imprensa, como uma das maravilhas do Rio.
Mas deve ser culpa minha, que não arrumo outro lugar pra colocar o material…
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor, culpado pela má educação
http://www.diariodoprofessor.com