Volta às aulas e “respeito” ao profissional da edu

Volta às aulas e “respeito” ao profissional da edu

Volta às aulas e “respeito” ao profissional da educação

Declev Reynier Dib-Ferreira

 



Pois é, agora começa de verdade.

Voltamos à escola do Rio e recebemos algumas surpresas (mas nem tão surpresas assim).

A grande panaceia, a grande descoberta da rede do Rio é a internet.

Desde o ano passado temos que fazer tudo pela internet: desde a chamada em turma (sim, chamada online, pela internet), até a requisição de dupla regência (quando está faltando professor, outro tem que assumir a turma), passando pelas grandiosas aulas da educopedia.

Mas… a internet não funciona na escola!

Ãhn? Como assim, Declev – vocês perguntariam – tudo tem que ser feito pela internet mas a internet da escola não funciona?!?

Sim, respondo eu.

Ano passado recebemos dois armários (móveis, com rodinhas) com 33 laptops cada, adaptados para carregar estes computadores de uma vez só. Um sistema interessante, diga-se de passagem.

Mas onde eles ficariam, estes armários? “Ah, claro, tem que ser numa sala com grade”.

Mas onde se carrega a bateria dos computadores? “Tem que ser numa tomada que saia direto da caixa de energia, assim assado”.

Colocaram a tomada no meio do corredor.

Vou repetir, para que entendam melhor: os armários têm que ficar numa sala com portas de grade – que vem a ser, inclusive, a sala de ciências – mas as tomadas que os carregam ficam no meio do corredor.

“Ora, vocês têm que deixar carregando de noite”.

“Mas de noite tem o colégio estadual, que usa este mesmo prédio”.

“Ué, vocês ainda têm colégio estadual aqui de noite??”

“Sim, temos”.

E fica assim. Temos dois armários com computadores que não podem ser carregados.

Ora, se estão sendo carregados durante o dia, não podem ser utilizados! (E, mesmo assim, para deixá-los durante o dia no corredor, teríamos que ter alguém somente para tomar conta deles). E se não podem ficar carregando durante a noite, não têm energia!

Tudo bem, não tem internet mesmo…

No mais, chegamos à escola agora em fevereiro, neste calorzinho ameno do Rio de Janeiro – imaginem como está no Caju, Zona Portuária, um local que só tem caminhões e poeira – e, de cada três ventiladores, somente um funciona.

O ar condicionado da sala dos professores? Está há mais de um ano quebrado.

A água chega a sair quente do bebedouro mode gelado.

Voltando à internet: o horário, que era feito à mão, passou a ser feito em um programa e agora tem que ser colocado na plataforma “3.0” da prefeitura. Quando se vai colocar o horário na plataforma, ele não encaixa no que lá tem disponível, porque nossa escola é uma escola integral “7 horas”, com 5 tempos de manhã, sem recreio, com uma parada pra almoço e mais dois tempos. Na plataforma o que tem disponível é para escolas de dois turnos, com 5 tempos de manhã e cinco de tarde.

Sim, as escolas da rede são diferentes. Devem ter uns 10 tipos de escolas diferentes, com projetos de todos os tipos. Uma festa pras fundações tipo roberto marinho, ayrton senna, getúlio vargas… todas elas ganhando seu quinhão de milhões da educação.

Quando chegamos à escola de carro todos os dias as cerca de 10 vagas disponíveis em frente à escola estão ocupadas por vans e kombis que trabalham dentro do Caju. Os professores não têm onde estacionar o carro e ficam rodando procurando onde parar. A região é cheia de carros velhos e carcaças abandonadas, além de centenas de caminhões e ônibus disputando vagas e as ruas. O único espaço que temos é este, em frente à própria escola e à garagem da escola, que, como disse, fica tomada de vans e kombis.

Aí nós saímos de casa de manhã neste calor, pegamos engarrafamento pra chegar, brigamos na porta da escola pra poder estacionar, ficamos num calor desgraçado na sala dos professores, entramos em sala e ficamos com 30 ou mais alunos em um calor dos infernos. Temos que fazer as coisas pela internet como quer a “moderna” secretaria, mas a internet não funciona.

Então, cansado, suado, fedido, estressado, querem que a aula seja maravilhosa e renda muito bem, para que nossos alunos tirem boas notas nas avaliações padrões pelo Brasil e pelo Mundo.

Isso porque ainda não falei da minha disciplina específica, Ciências, e seu grandioso e milionário projeto da empresa particular sangari, que agora tem que ser todo “adaptado” para caber nas novas exigências trazidas pela Prova Brasil, que a partir de agora incluirá esta disciplina.

Pra arrematar, estou na escola e me deparo com um jogo de Banco Imobiliário Cidade Olímpica. Dinheiro público utilizado descaradamente como propaganda política (o que pretendo destrinchar em outro post).

E a secretária é vista, nos meios midiáticos e entre os “especialistas” em educação, como boa administradora da educação… Talvez por isso mesmo, por tantos bons administradores da educação escolhidos a dedo pelos gestores públicos, que a educação esteja deste jeito.

Bem-vindo, 2013.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Já estressado, em fevereiro.

Diário do Professor

 




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