Estamos construindo um Estado fascista
Estamos construindo um Estado fascista
Marco Antonio Araujo
Sei como vai ser difícil convencer a humanidade, mas é preciso tentar. Sob o pretexto de zelar pela vida das pessoas, estamos construindo, silenciosa e inescrupulosamente, um Estado fascista. Isso vai acabar mal, muito mal.
A novidade agora é o aumento do cerco a motoristas via a famigerada Lei Seca. O governo de São Paulo decidiu adotar o uso de um exame que também identifica se o cidadão usou algum tipo de entorpecente, tipo maconha, cocaína, anfetaminas ou cocaína. Leia aqui.
Pera lá! Se você acha isso bom, pense melhor. Pense de novo... mais um pouco, vai... Jura que você não percebeu como isso é uma medida invasiva, arbitrária, nefasta, chocante? Não é possível que isso tenha algum amparo legal! Daqui a pouco, vão propor a internação compulsória para os motoristas autuados.
Por favor, não pense que estou aqui defendendo o uso de drogas, mas o direito inalienável a um mínimo de privacidade. É a consolidação de um estado policial, persecutório, repressor, e repito: fascista. Não por acaso, o termo “blitz” diz respeito a uma ação militar, de guerra, muito apreciada pelos nazistas.
Já disse que a Lei Seca é um equívoco que, além de ser inócua, criminaliza o uso de uma substância lícita, no caso, o álcool. Antes que alguém cometa um crime (quando, aí sim, deveria ser severamente punido), a polícia autua, prende (bota na cadeia!) e cria um problemão na vida da pessoa. Só porque tomou um copo de cerveja ou uma taça de vinho. Guardar um revólver no porta-luvas do seu carro, com porte de arma? Pode. E os povo pira!
Se já era excessiva, violenta e irracional, agora a situação tomou proporções gravíssimas. É muito poder na mão de uma polícia despreparada, que deveria estar mais preocupada em prevenir crimes de verdade, o que não falta em nenhum lugar desse Brasil.
O forte apelo midiático e a forma irresponsável e moralista como a imprensa dá “cobertura” a essa paranoia coletiva é ainda mais chocante. Sem retorno, pelo que posso observar.
Embora o que estou dizendo faça par ao que temos de mais sagrado numa democracia, é um apelo condenado a ser clamor no deserto.
Estamos, de forma ignorante, cedendo espaço para o autoritarismo e o arbítrio. Pior, deixando de cobrar das autoridades o muito que elas nos devem nesse País ainda miserável.
Por que poucas pessoas denunciam essa descarada cortina de fumaça? Não sei. Só faço minha parte, enquanto me sobra algum pingo de sobriedade.