Ideb: só mais um número?

Ideb: só mais um número?

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“Nós temos que desmontar duas indústrias que se criaram no país. De um lado a indústria da repetência, e de outro, a indústria da progressão automática. Nenhuma das duas nos interessa”.

A frase acima foi dita em 2007 pelo ex-ministro da educação, Fernando Haddad, durante o lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Ela mostra a necessidade em se “criar um sistema desenvolvido de educação, pelo qual todos os alunos progridam, mas progridam aprendendo.” Assim, com o PDE, o Brasil firmou um grande compromisso: até 2021, o país deve atingir a mesma qualidade de ensino de países desenvolvidos.

Esse é um desafio e tanto, e para acompanhar a evolução da qualidade da educação foi criado o Ideb, que considera duas dimensões bastante relevantes para a educação teoricamente capazes de dizer se os alunos estão sendo aprovados, mas aprendendo o adequado. Um desses componentes pode, inclusive, ser um aliado poderoso no planejamento e na construção de estratégias e ações pedagógicas. Nos acompanhe para descobrir.

Como o Ideb é obtido?

Para o Francisco Soares, presidente do Inep, o sistema educacional deve ser analisado pelo aprendizado dos seus alunos medido em uma métrica comum, visto que ele existe pra servir ao cidadão. “A ideia do direito do aluno de aprender tem uma consequência, e isso eu só vejo quando eu tomo conhecimento dos resultados de uma medida”, afirmou Soares durante o Seminário Líderes em Gestão Escolar, promovido pela Fundação Lemann em março de 2010.

“Mas a qualidade da educação está ligada a quatro dimensões muito relevantes: matrícula, permanência, progressão e aprendizado. O Ideb foi pensando para permitir enxergar as duas últimas”, afirma Alexandre Oliveira, especialista em educação e co-fundador da Meritt, uma das organizações responsáveis pelo QEdu.

Assim, o Ideb precisava de, pelo menos, dois instrumentos que desse a possibilidade de verificar o aprendizado e o fluxo escolar. O aprendizado dos alunos passou então, a ser verificado na Prova Brasil e o fluxo a partir do Censo Escolar. Como o Censo é realizado anualmente e a Prova Brasil somente a cada dois anos, o Inep utiliza a taxa de aprovação obtida no ano em que a Prova Brasil foi realizada.

Qual é o papel de cada componente no Ideb?

A cada dois anos é aplicada a Prova Brasil, avaliação responsável por verificar o aprendizado dos alunos do 5º e do 9º anos em Português e Matemática. Apesar de ser aplicada para alunos do 5º e 9º ano, ela mensura o conhecimento adquirido por eles ao longo da trajetória escolar. Vale ressaltar que a Prova Brasil não define e também não é pré-requisito para a aprovação dos alunos nessas séries.

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O cálculo do Ideb, porém, não considera apenas o aprendizado. Ele também procura avaliar se os alunos estão progredindo. Por isso, é utilizada a Taxa de Aprovação. Essa taxa é obtida a partir do Censo Escolar, realizado todos os anos. Apesar de ser o Inep quem calcula a taxa, quem fornece as informações são as próprias escolas dentro de um calendário específico.

Em resumo, redes e escolas têm dois pontos de atenção importantes quando o assunto é Ideb: atenção ao preenchimento dos dados do Censo Escolar, para que a nota final reflita exatamente o cenário da escola, e o aprendizado dos alunos ao longo de toda a sua vida acadêmica.

Qual é o papel do Ideb?

Como você já deve ter percebido, o Ideb é muito mais do que um número. Ele é um compromisso com o aprendizado e com a progressão dos alunos. Apesar das críticas em torno da concepção do índice, o índice tem o papel de um farol, que aponta onde a educação precisa chegar. Para fazer essa medição, o Ideb utiliza uma escala que vai de 0 a 10.

A meta para o Brasil é alcançar a média 6.0 até 2021, patamar educacional correspondente ao de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Suécia. Segundo o Inep, isso significa progredir do valor nacional 3,8, registrado em 2005 na primeira fase do ensino fundamental, para um Ideb igual a 6,0 em 2021. Com isso, espera-se que o Brasil se posicione entre os países com os melhores sistemas de ensino do mundo. Veja como está o Ideb do Brasil hoje.

É importante ressaltar que nem todas a escolas e redes de ensino chegarão à nota 6,0 até 2021. A ideia é reduzir a zero a desigualdade observada no Ideb de estados e municípios brasileiros apenas quando o resultado geral do país atingir um valor próximo ao seu máximo (9,9). Até lá, todos têm o compromisso de cumprir com suas metas específicas e ajudar na melhoria da educação básica brasileira.

Sua rede ou escola está conseguindo cumprir as metas? Qual a maior dificuldade que você encontra atualmente? Conte para a gente!

http://blog.qedu.org.br/blog/2015/10/06/ideb-so-mais-um-numero/

E se a Prova Brasil não existisse?

 

Para você, o direito à educação, previsto na Constituição, está relacionado apenas à criança estar matriculada em uma escola ou a estar matriculada e aprendendo de fato o que se deve? Para Francisco Soares, presidente do Inep, essa resposta é clara: “direito à educação é direito de aprender”. Por isso é preciso responder que, se a Prova Brasil não existisse, seria difícil saber se este direito está sendo atendido e ter subsídios para melhorar a qualidade da educação do Brasil.

Apesar de a ideia de aprendizado não poder ser reduzida a de aprendizado cognitivo, a Prova Brasil conseguiu suprir uma necessidade primária.

“Dado que o sistema educacional existe para servir o cidadão, ele deve ser analisado pelo aprendizado dos seus alunos medido em uma métrica comum. A Prova Brasil foi um passo fantástico, no sentido de que se criou uma maneira de verificar se o direito dos alunos está ou não atendido”, diz Soares

Além disso, a Prova Brasil foi constituída a partir de uma metodologia de avaliação que permite verificar o aprendizado de toda a trajetória escolar do aluno (não só do ano letivo que ele está matriculado) e a evolução do ensino ao longo dos anos, já que a prova segue uma mesma matriz de referência e escala de notas em todas as edições. Essa padronização permite listarmos pelo menos três pontos importantes que não seria possível ter acesso sem a Prova Brasil.

Sem visão global do aprendizado no país

Aprendizado adequado nas escolas públicas brasileiras com base na Prova Brasil

A Prova Brasil é uma avaliação censitária, isto é, teoricamente ela deveria ser aplicada em todas as escolas públicas do país. No entanto, existem alguns critérios para que uma escola participe. Esses pré-requisitos são fundamentais para garantir que os dados serão confiáveis e permitirão comparar resultados ao longo dos anos.

Diferente do Enem, que avalia o estudante, a Prova Brasil tem o intuito de verificar como está o aprendizado em rede, ou seja, num grupo de escolas que pertencem a um mesmo sistema de ensino. Isso acontece porque o grande objetivo da Prova Brasil é servir como um instrumento que permita dizer se as escolas estão garantindo o direito ao aprendizado dos alunos e também embasar a construção de políticas públicas para melhorar a qualidade da educação em todo o país.

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Por isso, para Soares, “não podemos dar uma surra na Prova Brasil porque ela tá me dando uma notícia que eu não queria”, já que a “Prova Brasil é a forma de o estado verificar se o direito à educação está sendo atingido”.

Nada de indicador de qualidade do ensino

Amplamente conhecido e aceito pela sociedade, o Ideb foi concebido em 2007 e foi pensado com base nos níveis de desempenho adotados pelo Programme for International Student Assessment (PISA). Para isso, era preciso ter uma avaliação compatível com a que é aplicada no PISA  para que fosse possível chegar a uma meta para a educação brasileira, indicando que a qualidade do ensino no país era semelhante a de países desenvolvidos. Assim, a Prova Brasil foi estruturada a partir de metodologias e teorias capazes de assemelhá-la ao PISA. Logo, sem esta avaliação não seria possível conhecer a qualidade da educação brasileira e compará-la com as de outros países.

Além desta avaliação do aprendizado, o Brasil incluiu no índice a aprovação. A ideia era perceber se os alunos estão sendo aprovados dominando as habilidades que deveriam para uma determinada etapa escolar. Isso significa que não basta o aluno aprender, ele precisa ter aprendido na idade certa. Caso não existisse a Prova Brasil ou uma avaliação parecida, seria preciso considerar outras dimensões educacionais que pudessem atestar a qualidade do ensino no país e também seria difícil comparar os resultados brasileiros com o de outros países.

Veja a situação da educação na rede pública, anos iniciais, hoje na imagem abaixo.

Ideb do Brasil

Menos suporte para redes de educação

A Prova Brasil não deve ser entendida como uma prova, já que ela não é utilizada para aprovar ou reprovar os alunos. O que ela faz é apontar em uma escala, como se fosse um termômetro, o quanto um aluno aprendeu durante determinada etapa escolar. Assim, é possível dizer o que o aluno já aprendeu ou o que deixou de aprender. Dessa maneira, segundo Soares, é possível perceber que “a Prova Brasil foi pensada para ajudar o aluno”, já que agora é possível localizar em uma escala o aprendizado dos alunos e comparar sua evolução.

Assim, além de ser usada para o cálculo do Ideb, a Prova Brasil também fornece dados detalhados de como está o aprendizado de determinadas competências e habilidades nas escolas que compõem as redes públicas de ensino. Lembre que a prova é elaborada a partir de uma matriz de referência, composta por tópicos (competências) e esmiuçados em descritores (habilidades específicas). Assim, ficou mais fácil organizar e trabalhar com todo o conteúdo sugerido durante a criação da matriz e dar resultados mais detalhados para as redes fazerem diagnósticos.

Agora que você já sabe porque a Prova Brasil é tão importante, você sabe de onde ela veio?

Acesse o infográfico que nós preparamos contando essa história.

Como a Prova Brasil acontece nas escolas?

O sinal do recreio toca e as crianças se agitam porque não querem perder o momento da diversão. Acontece que algumas turmas da escola estão realizando a prova Brasil. Alguns  querem terminar e entregar a prova o mais rápido possível, e a consequência pode ser uma nota baixa na Prova Brasil, que será vista um ano depois, quando o Inep liberar o resultado.

Prova Brasil 2015 está chegando e esse fato hipotético tem grandes chances de acontecer caso a escola não se prepare para esse momento. Conversamos com professora Marilde Fonseca, que foi aplicadora da Prova Brasil 2013 e hoje é coordenadora de polo da Prova Brasil em Florianópolis (SC), para entender como a prova é aplicada. A professora, hoje aposentada, contou como acontece o processo de aplicação da prova e deu algumas orientações para que as escolas possam se preparar para este momento tão importante.
marilde

QEdu: Como acontece a Prova Brasil nas escolas?

Marilde:Os aplicadores chegam antes do horário da prova, pois é preciso conversar com a direção e o professor que vai acompanhar a aplicação. Nesse momento, o diretor e o professor respondem questionários sobre seu papel na escola etc.

Depois, vamos para a sala de aula organizar a aplicação. O professor da turma permanece em sala durante toda a aplicação, mas não interage com as crianças durante a prova. Quando há crianças com deficiência na turma, outro aplicador e outro professor capacitado precisam estar juntos também.

Antes de iniciar a prova, o professor da turma assina um termo de sigilo, para não correr o risco de a prova vazar. Isso porque às vezes um mesmo professor leciona em mais de uma escola em que será aplicada a Prova Brasil, então ele não pode nem ter acesso à prova. Em seguida, o aplicador explica para as crianças o que é a Prova Brasil, orienta sobre a importância dela e explica como vai ocorrer o processo. Após o início da prova, as crianças não devem sair até o final da aplicação, a não ser acompanhados pelo professor.

Ao final de todo o processo, o aplicador indicado pelo coordenador solicitará que um funcionário da escola o acompanhe para que ele possa responder ao questionário da escola que está relacionado principalmente à infraestrutura.

 QEdu: Como é feita a seleção e a capacitação dos aplicadores?

Marilde:Fui aplicadora da Prova Brasil em 2013. Este ano serei coordenadora de polo, que é a pessoa responsável por selecionar e ajudar na capacitação dos aplicadores.  Existem critérios para selecionar os aplicadores. Eles precisam ter nível médio completo, experiência comprovada em aplicação de avaliações externas de alunos ou de sistema de ensino, que utilizem provas para aferir o conhecimento da Educação Básica e residir no município sede do polo.

Após selecionados, eles passam por uma capacitação de seis horas que geralmente acontece alguns dias antes da prova. Durante esse momento, os aplicadores precisam aprender desde o que é e a importância da Prova Brasil, para poder explicar para o professor e para a turma, até a maneira como ela deve ser aplicada em sala de aula, ou seja, todos os procedimentos burocráticos de organização e aplicação das provas para garantir o seu sucesso.

Cada aplicador é responsável por acompanhar a realização de oito a dez provas numa rede. Em cada uma delas é preciso estar atento para que não ocorra nenhum tipo de fraude. Então os aplicadores aprendem o passo a passo da aplicação: quais os documentos que precisam ser assinados, o que pode e o que não pode falar em sala, onde realizar cada procedimento, como abertura e fechamento do malote de provas, organização das crianças e distribuição das provas em sala etc.

QEdu: Os aplicadores ou os professores veem as provas antes? Quais os procedimentos para a aplicação?

Marilde:Não. Os malotes de provas são abertos na sala, na presença dos alunos e do professor. Quando a prova termina, os malotes também são lacrados na frente dos alunos que ainda estão presentes e do professor, inclusive é preciso que o diretor preencha e assine o Relatório de Aplicação de Prova em que atesta que está ciente que o malote foi fechado.

As provas vêm identificadas e existem provas adicionais para alunos que não estão na lista.Se sobrar prova, por exemplo, elas são recolhidas e colocadas dentro de uma bolsa que fica na posse do aplicador durante toda a avaliação, e ninguém, nem professor e nem aplicador, podem folheá-la. Apesar disso, os professores colaboram muito durante a aplicação. Nunca tive problemas com isso, embora eu saiba que alguns têm resistência com a Prova Brasil.

QEdu: Por que isso acontece?

Marilde:Prova é sempre uma coisa que as pessoas se arrepiam, um assunto muito delicado. Alguns pensam que a prova é uma maneira de controlar o professor, por exemplo.

Outro ponto que pode fazer com que os professores tenham algum receio da prova é que, geralmente quando se avalia uma criança, eles acham que automaticamente se está avaliando o professor e até mesmo o gestor da escola. Alegam que a escola tem problemas internos, e aí aparece uma pessoa de fora para fazer uma avaliação dos alunos… então pode ser que haja resistência da parte deles por isso.

QEdu: É possível fraudar a Prova Brasil no momento da sua aplicação? Por exemplo, o professor ou aplicador responder ou ajudar os alunos a solucionarem as questões?

Marilde:Muito difícil, porque os aplicadores são treinados para não deixarem isso acontecer. Às vezes o professor pode ver alguma questão por algum descuido e mesmo sem querer, mas isso não atrapalha tanto. Os que tive a oportunidade de acompanhar até hoje tinham muita consciência sobre a importância da prova.

Os aplicadores tomam muito cuidado para que não haja nenhuma fraude. Por exemplo, os professores não ficam a sós com os alunos durante a aplicação, as provas não ficam em cima de mesas para que os professores não as vejam… além disso, o professor assina um termo de sigilo, o que dá ainda mais segurança para prova.

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QEdu: Você percebe nos professores um reconhecimento da importância da Prova Brasil para a sociedade?

Marilde:Sim! Na maioria das escolas onde eu apliquei, os próprios professores reforçam com os alunos antes da aplicação da prova a importância dela, explicam como ela funciona para que ele fiquem calmos e possam fazer uma boa prova.

QEdu: O que acontece após a aplicação da Prova Brasil?

Marilde:Há procedimento padrões. Contamos todas as provas, conferimos se a lista de presença foi assinada adequadamente por todos os alunos participantes, fazemos a ata explicando como a prova foi aplicada, colocamos toda a documentação em um envelope e o lacramos. Os aplicadores só saem da escola depois que o diretor assina o Relatório dando ciência de que o envelope foi realmente fechado. Depois disso, o envelope segue para a coordenação geral da prova no município, que dá os encaminhamentos.

QEdu: Se você pudesse dar algumas orientações para professores e gestores escolares quanto à Prova Brasil, quais seriam?

Marilde:São três orientações que eu acho que podem fazer a diferença. A primeira é que os professores dispensem um tempo para ensinar os alunos a como marcarem cartões-resposta e provas como essa. Isso faz toda a diferença, pois o aluno não perde tempo e pode se dedicar mais à resolução da prova. A segunda orientação é que o professor tenha atenção de no dia a dia das aulas explicar o significado de termos comuns que caem na prova, como “assinale”, “circule”, “escolha” etc. Às vezes eles até conseguiriam responder à questão, mas não conseguem entender como respondê-la porque não compreendem esses termos no enunciado.A última orientação seria para os diretores. É interessante fazer uma reunião com toda a equipe da escola antes da aplicação da prova. Não somente com os professores que irão acompanhar o aplicador, mas toda a equipe mesmo, desde os professores de educação física até a equipe da copa, limpeza etc. Isso evita que aconteçam imprevistos durante a realização da prova que atrapalhem o desempenho dos alunos.

http://blog.qedu.org.br/blog/2015/10/09/como-a-prova-brasil-acontece-nas-escolas/




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