Hora da verdade
Governo Sartori: Chegou a hora da verdade
Por Sergio Araujo
Num mundo cada vez mais guiado pela tecnologia, é incompreensível que um governante adote o critério do déficit financeiro como justificativa para a extinção de instituições que lidam com pesquisas científicas. A ciência, como pesquisa básica e processo racional de conhecimento, produz ideias, hipóteses e teorias, enquanto a tecnologia produz objetos e bens utilizáveis. É por isso que elas não podem ser reduzidas ao simplismo econômico do equilíbrio financeiro entre despesa e receita. Entre lucro e prejuízo. Por um único e eloquente motivo: Pesquisa científica não tem preço. Não pode ser mensurada.
E mais, atualmente nada de realmente novo existe que não seja resultado da pesquisa científica. Toda e qualquer renovação, toda e qualquer inovação, todo e qualquer avanço nos setores social, econômico, político, industrial, militar, cultural e intelectual, passa, obrigatoriamente pela ciência e tecnologia. Todas as nações desenvolvidas, todos os estados bem sucedidos, tiveram na pesquisa e no apoio à ciência e a tecnologia os sustentáculos para a superação das suas dificuldades e para o êxito das suas realizações.
Mas isso só aconteceu quando foram governados por políticos competentes, ousados e criativos. Verdadeiros gestores. Visionários. Revolucionários. Que souberam captar a parceria com as universidades, com a iniciativa privada, com as ONGs e outras entidades da sociedade civil organizada e que, acima de tudo, souberam valorizar a mão de obra qualificada dos servidores públicos.
Mas como esperar isso de um governo que não trata a educação como prioridade? Que não valoriza seus professores e lhes paga um salário miserável? Que não se importa com a perda das cabeças mais privilegiadas do serviço público para outros estados ou para a iniciativa privada? Que desdenha da expertise científica arregimentada ao longo de décadas? Impossível. Por isso acredito que somente com a conscientização direta da população, ou indireta, através dos seus representantes no parlamento gaúcho, é que o desmonte dos órgãos gaúchos de pesquisa poderá ser evitado.
É preciso impedir que o governo Sartori ponha um fim na história bem sucedida da Fundação Estadual de Proteção e Pesquisa em Saúde (FEPPS), da Fundação Zoobotônica, da CIENTEC, da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária. Acrescente-se a este rol a Superintendência de Portos e Hidrovias, referência nacional por ser o único órgão no país detentor de parques de dragagens e pessoal técnico habilitado (com mais de 60 anos de atuação no setor hidroportuário) a realizar manutenções dos canais artificiais das hidrovias e sinalização náutica.
Não bastasse o prejuízo científico, o maquiavelismo Sartoriano pouco se importa com o sofrimento dos profissionais que dedicaram anos da sua vida funcional a pratica de bem servir à sociedade, e dos seus familiares, vítimas adicionais do terrorismo palaciano. E para piorar ainda mais sua abrangência predadora o governo do Estado, além da tentativa de extinguir fundações e autarquias, deixando categorias inteiras sem referência profissional, e de demitir milhares de servidores, realiza campanha pública, através de declarações infundadas de seus dirigentes aos veículos de imprensa, visando colocar a população contra os servidores públicos estaduais, imputando-lhes a culpa pela crise financeira do Estado.
Mas fazendo jus ao provérbio de que não há bem que sempre dure e não há mal que nunca acabe, o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado conseguiram, judicialmente, apoio para que a Secretaria Estadual da Fazenda finalmente abra a “caixa preta”, permitindo acesso as informações sobre as empresas que recebem benefícios fiscais e financeiros do Estado. Com isso será possível derrubar o argumento governista de que a solução para a crise depende única e exclusivamente do corte de despesas.
Ou seja, será possível comprovar a tese defendida pelas entidades representativas do funcionalismo e, faça-se justiça, por deputados da oposição e até da base aliada, de que a estratégia recessiva e destrutiva do governo Sartori pode muito bem ser substituída pelo combate à sonegação e à inadimplência, pelo fim das isenções e benefícios fiscais, e pela cobrança da dívida ativa. Vejam a ironia do destino. Para quem faz pouco caso da pesquisa, será a pesquisa financeira que irá descobrir o que realmente se esconde por trás das intenções pouco transparentes do governo Sartori. Até que enfim, chegou a hora da verdade.
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Sergio Araujo é jornalista e publicitário.
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