Filosofia de Karl Marx

Filosofia de Karl Marx

16 Filmes Sobre a Filosofia de Karl Marx

Por Philippe Leão

 

Por muito relutamos, mas Marx chegou ao Cineplot.

Pensador importante do século XIX, Karl Marx afirma que a filosofia está morta. O autor, então, propõe um pensamento voltado a praxis (teoria + ação) em detrimento ao ativismo e ao idealismo.

A tarefa da filosofia, portanto, é desmascarar os idealismos. O objetivo de tal feito é quebrar as falsas ideias que favorecem, em maior escala, as classes dominantes. Uma ideologia, para Marx, nega as contradições do mundo, se liberta da liberdade sob uma máscara que faz o oprimido acreditar que o é por sua culpa (meritocracia). A filosofia deve:

“(…)desnudar a lei econômica do movimento da sociedade moderna”

– O Capital.

Portando, a sociedade como nos aparece aos olhos é diferente do que ela é. A filosofia deve superar tais divergências que, porém, para Marx:

“Os filósofos até agora se limitaram a interpretar o mundo, mas o que importa é transforma-lo”

– Teses Sobre Feuerbach

Mas que mundo perverso é esse que Marx diz estar sendo escondido pelas ideologias? O que a filosofia deve desnudar?

O conceito de Alienação se torna importante nesse momento. Preso à ideologias da classe dominante, o trabalhador não tem noção de seu pertencimento a si (conceito de alienação). Portanto, o trabalhador alienado é aquele que não é dono de sua própria mão de obra, não toma consciência de sua exploração. Ao vender seu trabalho, o alienado não é mais dono de seu próprio corpo, uma vez que agora estará imposto à regras do burguês, do patrão, da classe dominante.

O trabalho alienado é triste pelo não pertencimento do corpo, mas não reflexivo uma vez que é escondido pelas ideologias dominantes.

Sabendo da necessidade da classe dominante em estabelecer através das ideologias o trabalhador alienado, é importante que o ser social perceba a Divisão básica. Para Marx, a sociedade se dividiria em dois grupos: Os burgueses (donos dos meios de produção) e o proletário (dono da força de trabalho).

Essa relação entre burguês e proletário gera o que Marx chama de Mais-valia. O burgues, dono dos meios de produção, contrata o proletário que tem apenas a sua mão de obra para oferecer. Não sendo detentor dos meios de produção, o trabalhador vende sua mão de obra que produz o produto final ao burguês. Contudo, o valor que o burguês paga ao proletário é sempre muito inferior àquilo que teve capacidade de produzir.

Exemplo:

Se, vendendo seu trabalho, o proletário produz para o burguês um total de 100R$ e o burguês lhe paga 5R$ para executar tal tarefa, o burguês está gerando o que Marx chama de Mais-valia.

Mais-valia é, portanto, a diferença entre o que o burgues recebe da exploração do trabalho e o que o proletário recebe.

No exemplo dado acima, o valor real do trabalho do proletário é 100$, mas o trabalhador recebe apenas 5$, tendo 95$ de mais-valia.

Portanto, através da mais-valia, o Capitalismo vive através da exploração da mão de obra do proletário, sobrevivendo quanto mais é capaz de absorver tal trabalho.

Através da exploração do trabalho o burguês chega ao produto final. Hora de pô-la no mercado. Alguns autores dirão que esta produção atende a uma demanda. Marx, contudo, dirá que essa demanda é criada através do fetichismo da mercadoria. O produto ganha um valor de necessidade, vivo, que nos domina e perseguimos constantemente. O que nos faz acreditar que precisamos de determinada mercadoria que aparentemente é inútil? O que nos faz querer trocar nossos produtos duráveis com frequência? No Cinema, o que faz filmes de herói terem mais atração no mercado que um filme húngaro, iraniano, japonês…?

Além dos heróis como elementos de fetichismo no cinema, temos no Cinema Noir, por exemplo, o consumo do cigarro como um estilo de vida. Nesse caso a mercadoria é vendida de maneira a alcançar um fator além de sua verdadeira (in)utilidade, mas de criar um grupo, para que sintam-se pertencente.

Confira o texto sobre o fetichismo na Industria Cultural e complete seu entendimento sobre o assunto!

Para fundamentar suas ideias, Marx possui uma visão de mundo que pressupõe o Materialismo Histórico Dialético.

O materialismo marxista crê que a infraestrutura – que compõe os meios de produção e as relações de trabalho, ou seja, a vida concreta dos homens – explicaria a superestrutura (religião, leis, política, moral, filosofia, costumes…). Portanto, assim manifesta-se o materialismo em Marx, por consequência do que é material, a superestrutura da sociedade move-se.

Exemplo:

Em uma sociedade em que os meios de produção eram de um modelo bastante específico de escravocratas, como a grega, gerava-se muito mais tempo para o ócio aristocrata, fazendo surgir o início da filosofia grega. (obviamente trata-se de uma análise vulgar). Nesse caso, a infraestrutura (meios de produção) afetou diretamente a superestrutura (relações sociais, morais e políticas). Não são as ideias que explicam a matéria, mas as matérias formam as ideias tendo uma relação dialética entre ambas.

E o que se seria esse dialetismo? O que é um Materialismo Histórico?

Para Marx, o motor da história é a Luta de Classes. Ao dizer isso, não se determina as lutas sangrentas, mas os encontros entre elas que geram o movimento, o motor dos acontecimentos ao longo dos tempos. Então, a dialética está presente nesse encontro dos diferentes. Entre o trabalhador oprimido e os detentores dos meios de produção, e estes sempre estiveram em oposição.

A luta pela democracia, monarquia, direito de voto e outras, o que há no fundo é um constante embate entre as classes que proporciona o movimento do motor histórico. A partir da dialética presente na luta de classes a história se movimenta.

Karl Marx, contudo, ao contrário do que se diz no senso comum, tem uma relação de amor e ódio ao Capitalismo. A todo instante o filósofo faz questão de afirmar que o Capitalismo foi um processo importante de mudança histórica, uma vez que acelerou os meios de produção e modificou as relações de trabalho anteriores. Contudo, esse novo modelo é problemático como já pudemos ver aqui no texto. É natural do capitalismo a criação de desigualdades, sem a mais-valia não há sistema capitalista, esta seria a essência deste.

Nessa sociedade desigual, há a coisificação das relações sociais. O trabalhador é induzido a um mundo competitivo, onde o outro já não é mais visto como tal, mas como coisa. O estímulo a competitividade é introduzido através de um conceito romântico, como algo positivo (uma vez que o embate proporcionado pela competição criaria o movimento).

Por fim, no pensamento marxista a História tem papel fundamental. Uma sociedade que não conhece a (sua) história não é capaz de transforma-la. Portanto, o homem que não conhece a história acredita que o mundo assim sempre foi, não questionando o porque assim é. Em uma sociedade utópica o homem é detentor da história e portanto de pensamento crítico, sabendo como os meios de produção se constituíram.

A história, para Marx, é um meio de transformação social.

Materialismo (da matéria surge a ideia. Infraestrutura -> Superestrutura) Histórico (A história como meio de transformação, produz o embate) Dialético (Luta de Classes = Motor da história).

 

Confira alguns filmes que retratam a filosofia Marxista.

POCILGA

Pocilga

Direção: Pier Paolo Pasolini
País: Itália
Nome original: Porcile

A partir de duas histórias paralelas, uma no século XVI e outra na Alemanha pós-moderna, Pasolini faz um retrato metafórico nada alentador da degradação humana alastrada pela sociedades de consumo, as quais não prezam o sentido e a essência do ser humano, mas apenas sua capacidade de consumo. É uma reflexão sobre o lema da era capitalista: “consumo, logo existo”. Embora pareça um tanto estranho e complicado de se entender, Pocilga nada mais é que uma brincadeira do diretor, que utilizou temas incomuns como a antropofagia e a bestialidade, para criar uma obra puramente crítica e irônica sobre o assunto tão controvertido que é o consumismo.

 

1900

1900

Direção: Bernardo Bertollucci
País: Itália
Nome original: Novecento

O filme acompanha as vidas e a relação de dois homens, o filho de um camponês e o de um fazendeiro, na Itália, de 1900 a 1945. Nesse período, surge e cresce o fascismo e, em contraposição, o comunismo, o que vai afetar a vida dos personagens centrais.

 

O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA

Discreto Charme da Burguesia

Direção: Luis Buñuel
País: França
Nome original: Le Charme Discret de La Bourgeoisie

Mistura de situações reais da história com os sonhos e devaneios dos personagens. O filme se passa numa tarde onde alguns amigos se encontram para jantar. Crítica às situações e a hipocrisia da vida social burguesa.

 

TERRA E LIBERDADE

Terra e Liberdade

Direção: Ken Loach
País: Reino Unido
Nome original: Land and Freedom

Em 1936, jovem inglês desempregado abandona Liverpool para lutar contra os fascistas na Guerra Civil espanhola. Junta-se ao contingente internacional da Milícia Republicana, em Aragon, e mais tarde se desentende com seus companheiros do Partido Comunista. Com essa história, Loach exprime sua precisa visão política e seu engajamento socialista inflexível.

 

O POSTO

O Posto

Direção: Ermanno Olmi
País: Itália
Nome original: Il Posto

Um cidadão provinciano vai a Milão, à procura de trabalho num grande complexo industrial. Consegue, mas não passa de um recepcionista. Conhece uma moça e a convida para a festa da firma. Ela não vem, mas em compensação morre um dos trabalhadores e o provinciano o substitui.

 

TEMPOS MODERNOS

Tempos Modernos

Direção: Charles Chaplin
País: EUA
Nome original: Modern Times

Um operário de uma linha de montagem, que testou uma “máquina revolucionária” para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela “monotonia frenética” do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto. Simultaneamente uma jovem rouba comida para salvar suas irmãs famintas, que ainda são bem garotas. Mas o pior ainda está por vir.

 

OUTUBRO

Outubro

Direção: Sergei Eisenstein
País: URSS
Nome original: Oktyabr

Em tom de documentário, acontecimentos em Petrogrado são encenados desde o fim da monarquia, em fevereiro de 1917, até o fim do governo provisório em novembro do mesmo ano. Lênin volta em abril. Em julho, os contra-revolucionários mandam prendê-lo. Em outubro, os Bolsheviks estão prontos para atacar: os dez dias que abalaram o mundo.

 

O SAL DA TERRA

O Sal da Terra

Direção: Hebert J. Biberman
País: EUA
Nome original: Salt of the Earth

Baseado em fatos reais, o filme retrata uma greve dos mineiros de origem mexicana, no Novo México. Com exceção de cinco atores, o elenco é composto por não-profissionais, a maioria participantes na greve real. O filme é profético ao descrever a participação das esposas dos trabalhadores oprimidos, uma antecipação do movimento de emancipação feminina que surgiria uma década mais tarde. Num contexto de injustiça social, desenrola-se um drama familiar vivido por Ramon e Esperanza Quintero, um mineiro de origem mexicana e sua esposa. No decorrer da greve, os papeis de Ramon e Esperanza invertem-se: um mandado de segurança contra os grevistas masculinos faz com que as mulheres assumam as atividades piqueteiras, deixando aos homens as tarefas domésticas. As mulheres evoluem de uma posição de subordinação para igualdade, aliadas em busca do objetivo comum.

 

TEOREMA

Teorema

Direção: Pier Paolo Pasolini
País: Itália
Nome original: Teorema

Em Milão a vida de uma rica família burguesa é totalmente modificada por um misterioso visitante (Terence Stamp), que seduz a empregada, o filho, a mãe, a filha e finalmente o pai. Além disto, tem um contato intelectual com todos eles, convencendo-os da futilidade da existência, e após cumprir seu objetivo parte em poucos dias. Após sua ida ninguém da família consegue continuar vivendo da mesma forma.

 

ENCOURAÇADO POTEMKIN

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Direção: Sergei Eisenstein
País: URSS
Nome original: Bronenosets Potyomkin

Baseado em eventos históricos, o filme conta a história de uma rebelião no Navio de Guerra Potemkin. O que começou como um protesto, gerou uma rebelião depois que foram servidas carnes estragadas aos marujos no jantar. Os marujos erguem a bandeira vermelha e tentam levar a revolução no navio até a sua terra natal, a cidade de Odessa.

 

LADRÕES DE BICICLETAS

Ladrões de Bicicletas

Direção: Vittorio de Sica
País: Itália
Nome original: Ladri di Biciclette

A história se passa logo após a Segunda Grande Guerra, com a Itália destruída e o povo passando necessidade. Ricci consegue um emprego após muita espera. Só que esse emprego, de colador cartazes na rua, lhe pedia como obrigação uma bicicleta. Ricci e sua mulher Maria conseguem um dinheiro para uma, possibilitando que ele realize o seu trabalho. Há também o menino Bruno, filho do casal. Fascinado por bicicletas, o menino cai de cabeça com o pai na busca pela bicicleta que lhes foi roubada, quando Ricci trabalhava apenas em seu primeiro dia.

 

CASA GRANDE

Casa Grande

Direção: Fellipe Gamarano Barbosa
País: Brasil

Jean é um adolescente rico que luta para escapar da superproteção dos pais, secretamente falidos. Enquanto a casa cai, os empregados têm que enfrentar suas inevitáveis demissões, e Jean tem que confrontar as contradições da casa grande.

 

MACHUCA

Machuca

Direção: Andrés Wood
País: Chile
Nome original: Machuca

Chile, 1973. Gonzalo Infante (Matías Quer) é um garoto que estuda no Colégio Saint Patrick, o mais conceituado de Santiago. Gonzalo é de uma família de classe alta, morando em um bairro na área nobre da cidade com seus pais e sua irmã. O padre McEnroe (Ernesto Malbran), o diretor do colégio, inspirado no governo de Salvador Allende decide implementar uma política que faça com que alunos pobres também estudem no Saint Patrick. Um deles é Pedro Machuca (Ariel Mateluna) que, assim como os demais, fica deslocado em meio aos antigos alunos da escola. Provocado, Pedro é seguro por trás e um deles manda que Gonzalo o bata, que se recusa a fazer isto e ainda o ajuda a fugir. A partir de então nasce uma amizade entre os dois garotos, apesar do abismo de classe existente entre eles.

 

CLASSE OPERÁRIA VAI AO PARAÍSO

A Classe Operária vai ao Paraíso

Direção:  Elio Petri
País: Itália
Nome original: La Classe Operaia Va in Paradiso

Adorado por seus superiores por ser um trabalhador extremamente dedicado e odiado pelo mesmo motivo por seus colegas de trabalho, Lulu vive entregue aos sonhos de consumo da classe média, alienado em meio aos movimentos de protesto de sua classe, até que um acontecimento põe em xeque suas opiniões.

 

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL

Deus e o Diabo na Terra do Sol

Direção: Glauber Rocha
País: Brasil

Manuel (Geraldo Del Rey) é um vaqueiro que se revolta contra a exploração imposta pelo coronel Moraes (Mílton Roda) e acaba matando-o numa briga. Ele passa a ser perseguido por jagunços, o que faz com que fuja com sua esposa Rosa (Yoná Magalhães). O casal se junta aos seguidores do beato Sebastião (Lídio Silva), que promete o fim do sofrimento através do retorno a um catolicismo místico e ritual. Porém ao presenciar a morte de uma criança Rosa mata o beato. Simultaneamente Antônio das Mortes (Maurício do Valle), um matador de aluguel a serviço da Igreja Católica e dos latifundiários da região, extermina os seguidores do beato.

 

KES

kes

Direção: Ken Loach
País: Reino Unido
Nome original: KES

Um dos primeiros filmes da carreira do consagrado diretor Ken Loach, Kes conta a história de um menino que vive em bairro pobre da cidade que, violentado em casa e ridicularizado na escola, acha uma forma de abstrair de sua dura realidade treinando um falcão. Poética e singela obra de formação do cineasta que posteriormente realizou obras-primas como Terra e Liberdade e Pão e Rosas.

 

http://cineplot.com.br/index.php/2016/11/05/filmes-sobre-filosofia-marxista-que/ 




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