Ética na escola

Ética na escola

A minha ou a nossa escola?

O papel da escola se intensifica ao entendermos que ela é de todos da mesma forma que pertencemos a ela

Terezinha Azerêdo Rios (gestaoescolar@fvc.org.br)

Terezinha Azerêdo Rios. Foto: Tamires Kopp

Terezinha Azerêdo Rios é graduada em Filosofia e doutora em Educação.

 

Minha escola. É assim que, geralmente, os gestores se referem à instituição que dirigem. A posse implícita na expressão parece semelhante à que indica de quem é a toalhinha de crochê que se encontra sobre o arquivo ou o porta-retrato com fotos da família.

Da mesma forma, são comuns as expressões "meus professores", "meus alunos", "meus funcionários". Podemos até imaginar que esse é um jeito de demonstrar devoção ao cargo. Sem tirar o mérito do zelo profissional, é preciso apontar o risco de considerar a escola - e o que ela abriga - como um domínio particular.

A expressão popular "cuido disso como se fosse meu" traz a impresão de que se tem mais consideração - ou simplesmente mais cuidado - com algo que nos pertence. E ainda: que a propriedade privada tem mais importância que a pública. Basta lançar um olhar à nossa volta para ver o descaso com que os espaços de uso comum são tratados, fato que reforça uma crença equivocada segundo a qual "o que é de todos não é de ninguém".

Aprendemos que os adjetivos possessivos indicam propriedade: minha blusa, seu livro, nossa casa. Esse sentido se aplica bem para coisas. Entretanto, há outro significado quando dizemos: "Minha mãe, seu amigo, nosso time". Ao nos referirmos à pessoa e à instituição, a relação que se estabelece não é a de posse, mas de um sentimento duplo: sou dela da mesma forma que ela é minha. O que expressamos é uma ideia de pertencimento: minha família, nosso país.

Escola - espaço que não é só físico e se constitui de tantos elementos complexos dos quais ninguém tem a posse e com os quais devemos estabelecer uma relação de convivência e de trabalho. Por isso o gestor precisa cuidar para que as ações não sejam de caráter possessivo.

Pode-se pensar que essa reflexão só tem validade para as escolas públicas, uma vez que, do ponto de vista formal, os gestores não são seus proprietários. Mas não é a esse sentido que me refiro. Mesmo no caso de uma instituição particular, na qual o dirigente muitas vezes é também o dono, a escola - que é um espaço público - só cumprirá sua missão se for de todos aqueles que a constituem, cada um em sua função. É claro que os gestores têm um papel específico e uma responsabilidade própria, que só ganham significado, porém, se estiverem articulados ao trabalho dos outros.

Na escola, o adjetivo cabe melhor se usado no plural. Na pluralidade. Nossa escola - uma instituição que nos pertence, como um bem que assumimos, e à qual também pertencemos, porque com nossa atuação cotidiana damos a ela sua feição.

 

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