Estudantes em luta
Estudantes em luta contra o sucateamento da educação
Com tarefas divididas os alunos que ocupam as escolas cozinham, limpam o local e até providenciam pequenas reformas. São adolescentes com consciência política, lutando por uma educação pública de qualidade e eficiente.
Na língua Portuguesa a palavra “ocupar” tem diversos significados, como “tomar posse de” ou, ainda, “estar na posse de”, “instalar-se em”, “preencher”, “morar, habitar” ou “dar ocupação a”. Portanto, quem ocupa pode tanto estar tomando posse quanto dando uma ocupação a algo que num momento anterior não tinha função. Ou, simplesmente, habitando um espaço. Por sua vez, a palavra “invadir” quer dizer “entrar como por direito próprio em”, “penetrar em”, “assenhorear-se de”, em resumo, se apropriar da coisa alheia.
No Brasil, até o momento, mais de noventa escolas seguem ocupadas por seus alunos. São 4 escolas no Ceará, 73 escolas no Rio de Janeiro e o restante em São Paulo. No último dia 3 mais de setenta estudantes realizaram um ato em frente à Assembleia Legislativa, que posteriormente foi ocupada com a condição de que os alunos só sairiam dali com a instauração da de uma CPI para apurar denúncias de desvios de recursos da merenda. “Nossa única reivindicação é que se instaure uma CPI para apurar os desvios do ladrão de merenda, que se investigue a falta de comida nas escolas estaduais e nas técnicas”, disse o estudante Daniel Cruz, diretor da União dos Estudantes Estaduais (UEE).
Com tarefas divididas os alunos que ocupam as escolas cozinham, limpam o local e até providenciam pequenas reformas. São adolescentes com consciência política, lutando por uma educação pública de qualidade e eficiente. Lutando por estrutura nas escolas do estado e por condições dignas de trabalho para os seus professores. E tendo todo o apoio dos educadores, de intelectuais, cientistas e até de artistas como Marisa Monte e Leoni, que visitaram e realizaram show para os alunos da ocupação da Escola André Maurois, além de declararem apoio aos estudantes nas redes, solicitando doações para manter as ocupações.
Eu estudei em escola pública e sei da precariedade da estrutura oferecida tanto aos alunos como aos professores. Em São Paulo a falta de merenda é só uma das várias situações que precisa ser avaliada com tudo isso. Uma delas é o formato de ensino que está sendo oferecido. Digo isso pois, em contato com professores que acompanham estas manifestações, fiquei impressionada e muito feliz com uma das observações feitas por eles: que os alunos que eram considerados os mais indisciplinados são os que mais ajudam no modelo de escola oferecido durante a ocupação.
Nas ocupações, jovens estudantes batalham pela educação e cuidam com amor da sua escola. Organizados e politizados os estudantes de SP buscam a CPI que deve apontar uso indevido de verbas que deveriam ter sido usadas para comprar merenda das escolas, que ficaram sem comida para os estudantes. Os que ocuparam a Assembleia afirmam que só saem de lá depois que a CPI for instaurada.
Enquanto isso sou obrigada a ler os comentários a respeito, nos sites de notícia, em que as pessoas dizem que “Estudar ninguém quer né?! Vagabundos!” e outras expressões que seriam cortadas pela editora se eu colocasse na coluna, tão cabeludas são. Os secundaristas estão dando um show no consciência política, garra e vontade de mudar o país. Estão fazendo a sua parte como brasileiros indignados com a corrupção e estão agindo muito mais do que quem bate a panela caríssima na janela da cobertura. As ocupações são legítimas e eu arriscaria dizer que o funcionamento das escolas anda bem melhor na mão dos alunos, ao invés do estado.
Bem disse Marisa que ao presenciar o que essa juventude está fazendo, voltou a ter esperança em uma força transformadora.
Eu também voltei Marisa, eu também.
Resistam, secundas, e continuem me enchendo de orgulho!
E esperança!